Florence Nightingale, o Diagrama da Rosa e o impacto visual

O que aprendemos com a história da pioneira na utilização de métodos de representação visual

Thais Calil
geo.tech
4 min readOct 3, 2018

--

Quem nunca entrou num dilema existencial para escolher o melhor gráfico para, no fim, cair no velho e bom gráfico de barras? Quem nunca tentou colocar um monte de variáveis num único gráfico para no fim perceber que ninguém — nem mesmo você — vai entender nada?

Independente das boas práticas de visualização de dados, é inegável que a forma como você escolhe expor suas descobertas tem um impacto profundo no entendimento e interpretação das pessoas que recebem o conteúdo. Apresentar uma informação num gráfico confuso terá o mesmo efeito, ou até pior, do que a apresentação numa tabela densa e carregada de textos.

Hoje, a moda são os dashboards, que geram um grande impacto visual, mas, perdendo a mão com o excesso de informações, também não facilitam em nada a interpretação da informação. Conhecer e aplicar as boas práticas para trabalhar com visualização de dados é um assunto que faz parte do universo tanto dos designers quanto dos cientistas de dados.

Ouso dizer que a forma visual que você utiliza para comunicar suas análises pode colocar tudo a perder ou salvar milhares de vidas. Para provar que não é exagero, vou te contar um pouco sobre a história de Florence Nightingale.

Florence Nightingale foi uma enfermeira britânica, famosa por cuidar dos feridos durante a Guerra da Crimeia. Contribuiu também para o campo da Estatística, sendo pioneira na utilização de métodos de representação visual de informações, por exemplo o gráfico setorial, o famoso gráfico de pizza. Ok, o gráfico de pizza está em baixa, mas já teve seus dias de glória e, se usado da maneira correta (com apenas 2 pedaços), pode ser eficaz. É como a fonte Comics Sans — usada em HQs, ela cumpre com classe seu papel, já num documento de uma empresa de seguros médicos, será um desastre.

Voltando a Florence: A sua contribuição mais famosa foi durante a Guerra da Crimeia, quando começaram a chegar relatos contando sobre as condições horríveis dos feridos.Florence escreveu um livro, em que criou gráficos coloridos, clamando por medidas sanitárias nos hospitais. O impacto de usar gráficos ilustrando suas descobertas evidenciou a importância da informação, pelo alto poder de comunicabilidade. Isso convenceu as autoridades, que, a partir daí, começaram a aplicar medidas sanitaristas.

Florence foi a primeira mulher a integrar a Sociedade Real de Estatística. Ela apresentou os dados sobre os soldados feridos com as contagens de mortes por mês. Observou a negligência no tratamento aos soldados britânicos e enfrentou a resistência de autoridades militares. Acabou constatando que a principal incidência de mortes se devia a infecção hospitalar e não a ferimentos em batalha, como muitos imaginavam.

Ao retornar à Inglaterra, com a coleta de dados e registros feitos na guerra, Florence produziu um relatório usando o gráfico que ficou conhecido como “Diagrama da Rosa”, que demonstrou de forma impactante as suas conclusões.

Florence dizia que o diagrama deveria atingir os olhos, coisa que um monte de palavras e números jamais conseguiriam. Naquela época, usar gráficos para representar informações estatísticas era algo extremamente inovador. Florence tinha consciência de que a rainha teria muito pouco tempo para analisar seu material e tomar decisões, por isso, o diagrama deveria contar a história rapidamente.

Seu objetivo crucial era evidenciar que vidas poderiam ser salvas. A mensagem era que as mortes epidêmicas poderiam ser controladas, apenas era preciso provar para as autoridades que o dinheiro deveria ser gasto com saneamento. Depois de muito tentar dar visibilidade sobre o que ocorria nos hospitais, usou o poder do diagrama com forte apelo visual para convencer as autoridades sobre os dados estatísticos. Sentiu que tinha que persuadir primeiro pela visão. Inclusive, retirou os números dos gráficos para chamar mais atenção ainda para a conclusão em si.

E, de fato, o “Diagrama da Rosa” criou uma impressão instantânea e conseguiu transmitir a mensagem de forma emocional. Esse diagrama salvou milhões de vidas, ao revolucionar as diretrizes e práticas de gestão em saúde. Além do mais, foi um marco na ilustração gráfica de dados.

Além de tudo isso, há outro aspecto brilhante que permeia toda a história de Florence: ela se rebelou contra o papel convencional das mulheres. Preocupada com as condições de tratamento médico recebidas pelos mais pobres, rompeu com o que a sociedade esperava de uma mulher naquela época para se dedicar totalmente à causa em que acreditava.

Você pode conhecer um pouco mais sobre essa história neste vídeo:

--

--