Três coisas que aprendemos com o workshop de Lean Inception na Geo

Michel Cordeiro
geo.tech
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7 min readAug 23, 2018

Rodamos o Workshop de Lean Inception na Geofusion e vamos te contar três lições que aprendemos com essa experiência.

Aqui na Geofusion, temos um projeto chamado GeO2, voltado para nos aproximar cada vez mais das comunidades de tecnologia e contribuir com trocas, sempre compartilhando nosso conhecimento e adquirindo novos aprendizados.

Por isso, trouxemos para nossa casa a capacitação de Lean Inception facilitada pelo Yoris Linhares através de um workshop super interessante que tem o objetivo de ajudar a resolver um problema bem comum nas empresas de tecnologia: A dor de como trabalhar com eficácia e criar um produto valioso, factível e usável no menor tempo possível.

E hoje quero compartilhar com você três grandes aprendizados que tivemos com a experiência da Lean Inception aqui na Geo.

Mas, antes, que tal entender melhor o que é a Lean Inception?

Para contextualizar o assunto, vou fazer um resumão sobre o que é essa ferramenta que você certamente vai querer adicionar ao seu cinto de utilidades.

A ideia foi criada pelo Paulo Caroli, especialista em cultura e processos ágeis. Na definição dele, o Lean Inception é um workshop colaborativo para alinhar um grupo de pessoas para o Mínimo Produto Viável (MVP).

Esse movimento surgiu para trazer mais eficiência ao trabalho de ideação de produtos, que podia levar meses da concepção ao desenvolvimento de uma ideia. Muitas das práticas que eram usadas você pode encontrar nos livros The Agile Samurai e no User Story Mapping. Quando teve contato com o Lean Startup, foi que Caroli teve o insight de juntar algumas abordagens, enxugando o processo de inception do RUP (Rational Unified Process) a partir das práticas do lean, para ter como resultado um MVP alinhado por todas as partes interessadas. Após validar esse conjunto de práticas com alguns formatos e diversos times ele chegou ao formato que chamou de Lean Inception, com ciclos rápidos de descobertas e uma duração bem menor do que antigamente: apenas uma semana.

Agora que estamos devidamente apresentados a ideia vamos te contar o que rolou na Geo.

#Aprendizado1: Alinhar pessoas: Todo mundo na mesma página

Aposto que você já participou de projetos onde todas as pessoas envolvidas diziam estar alinhadas com o trabalho a ser feito. Mas bastava você fazer uma ou outra pergunta separadamente que as dúvidas e desentendimentos apareciam.

Infelizmente essa situação é mais comum do que parece. Fomentar um alinhamento real e colaborativo em uma equipe é uma conquista louvável.

Mas como levar um time ao entendimento real sobre o que vai ser feito?

Na primeira fase da Lean Inception, conhecemos três técnicas fundamentais para colocar todos os envolvidos em um projeto na mesma página: Visão de produto, Glossário e Objetivos.

A visão de produto segue a técnica do Elevator Pitch, que consiste em uma versão rápida de um discurso de venda. É como se você precisasse apresentar seu negócio ou ideia nos minutos que leva para subir alguns andares de elevador.

A visão é criada de forma colaborativa por pessoas ou times diferentes, na seguinte estrutura:

Para [cliente final],

cujo [problema que precisa ser resolvido],

o [nome do produto]

é um [categoria do produto]

que [benefício-chave, razão para adquiri-lo].

Diferentemente da [alternativa da concorrência]

o nosso produto [diferença-chave]

Cada parte da frase é definida por um grupo, e a sentença é consolidada, junto ao entendimento sobre o produto.

Com a visão estabelecida pode até parecer fácil pensar que as pessoas já tenham os objetivos claros. Mas basta pedir para que os descrevam de forma individual e depois apresentem uns para os outros para perceber o quanto há variação na compreensão da direção que precisam seguir.

Por isso, é importante que o entendimento sobre o objetivo central seja consolidado e, então registrado em grupo. Como você já deve imaginar, esse é um momento de muita conversa e debate.

Por fim, entra em cena um recurso que parece muito simples, mas é um dos mais úteis para fazer com que as pessoas voltem a convergir para a mesma direção: o Glossário. Tudo o que não está claro é definido e registrado no ato pelos participantes, criando uma base de conhecimento comum sobre todos os assuntos que forem importantes, que pode ser consultada por todos a qualquer momento.

Nesse glossário, você pode simplesmente definir o que quer dizer “objetivo” para o seu projeto e consultá-lo sempre que precisar eliminar eventuais dúvidas. Esse acordo acaba sendo mais valioso do que qualquer conceito pré-formatado.

#Aprendizado2: Priorizar utilizando empatia

Uma técnica já bem conhecida e que casa perfeitamente com a proposta da Lean Inception é o mapa de personas. Essa é uma técnica útil que vai ajudar na definição de features.

Existem diversas formas de construir personas. Há até mesmo ferramentas online, como o gerador de personas da Rockcontent com a Resultados Digitais, da uma olhada aqui. Mas independente da forma, o foco da criação de personas é um só: ajudar você a ter um pouco mais de empatia com o seu cliente.

Dos diversos modelos o meu favorito é um bem simples onde você divide uma folha em quadrantes e aborda:

  • Nome e Desenho;
  • Perfil;
  • Comportamento;
  • Necessidades

Com suas personas criadas, a visão sobre o produto vai convergindo de acordo com os objetivos e propostas de personas.

Assim, quando chega o momento em que o time deve definir quais features considera viáveis, é perceptível um filtro muito claro das ideias que surgiram ao longo do processo, justamente por causa das personas. No início do workshop, são apresentadas as necessidades e dores do usuário e, automaticamente, surgem diversas ideias de solução. A partir do momento em que visão, objetivos, personas e features são definidos, fica evidente para as equipes de quais apostas iniciais podem abrir mão, priorizando o que mais faz sentido.

Olhar constantemente para o que já foi alinhado e confrontar com os passos seguintes, pensando sempre nas necessidades do cliente, é um exercício bastante enriquecedor para um time, além de proporcionar melhores resultados e entregas mais eficazes.

#Aprendizado3: Classificar o grau de entendimento sobre cada feature

À medida que a Lean Inception avança para novas rodadas de decisões, o alinhamento do time ganha forma. Uma das fases mais importantes é a etapa de entendimento técnico (se o time sabe como fazer uma feature) e de negócio (se sabem qual a proposta da feature).

Essa etapa auxilia na previsibilidade sobre o projeto, trazendo maior clareza sobre como cada tópico será desenvolvido e se está compreensível para todos. Tendo em mente que no workshop temos um time multidisciplinar, essa etapa se torna fundamental.

Para auxiliar nessa etapa, é utilizada a matriz abaixo.

Para cada feature, o time deve determinar em qual quadrante está o entendimento de todos.

Para os pontos de maior desentendimento, novas rodadas de conversa são necessárias.

De forma muito similar, é utilizado um segundo gráfico para confrontar o valor de negócio com o esforço necessário para desenvolver cada feature.

O passo seguinte é igualmente interessante. É a hora da Jornada do Usuário, uma etapa super divertida e ao mesmo tempo importante. Nela, você irá definir como será a interação das personas com a solução que você está desenvolvendo. Com post-its e canetas na mão, o time determina todos os pontos de ação que levam uma pessoa a interagir com o seu produto, desde a necessidade inicial que funciona como gatilho para o uso, até a solução que você proporciona.

Então, você irá cruzar o que apareceu na jornada com as features levantadas anteriormente. É mais um momento de convergência e de grande valor para o processo, em que ficam evidentes as funcionalidades que foram planejadas e não apareceram na jornada e vice-versa. Assim, será feito mais um filtro sobre as features do seu MVP.

Ao final de tudo isso, o time terá a compreensão sobre várias dimensões do projeto, entendendo muito bem todos os detalhes, esforços e propósitos daquilo que desejam construir.

Conclusão

A Lean Inception de modo geral entrega aquilo a que se propõe. Vai além dos aprendizados citados nesse post e é uma ferramenta valiosa para se ter como recurso na ideação de um produto. Se você deseja um alinhamento para chegar a uma proposta de MVP certamente vale à pena analisar a possibilidade de usar esse método.

Mas se você está bem familiarizado com os desafios de trabalhar com o Product Discovery, talvez você concorde comigo que algumas adaptações poderiam deixar a prática ainda mais interessante. Olhando para o workshop por completo e indo um pouco além dos aprendizados acima, vão aqui algumas sugestões:

  • Antes de rodar o workshop, sugiro que reúna dados reais e o máximo de informações sobre o contexto da sua ideia ou produto, a fim de embasar todos os envolvidos. Esses dados serão úteis para a composição das personas e certamente você terá jornadas compatíveis com a sua realidade;
  • Quando o assunto é a definição de features, eu prefiro a visão de outcome ao invés de output. Se você se sente mais confortável com esse mindset eu sugiro adotar as práticas do livro Product Roadmaps Relaunched, em que você constrói hipóteses mais orientadas a resultados do que a soluções;
  • Quanto à estimativa de prazos para o MVP, nós entraremos em um dilema, com opiniões variadas sobre deadlines para o processo de descoberta do produto. Nesse tópico, a minha sugestão é que você se concentre mais em promover ciclos constantes e frequentes de aprendizados e descobertas sobre seu produto, do que necessariamente olhar para uma estimativa e apenas fazer acompanhamentos das datas acordadas. A proposta de um MVP é incrível, mas lembre-se que o MVP é mais uma ferramenta de aprendizado e descoberta. Algo que vai demandar pouco esforço e que rapidamente vai proporcionar a você mais uma validação das suas hipóteses;
  • Se você não tiver uma técnica já definida para criação da Jornada do Usuário, eu recomendo que você pense no momento da descoberta da sua solução, na motivação para o uso, o uso em si e o gatilho para quando será usado novamente.

Se você tiver oportunidade, aplique e conta pra gente como foi. Tenho certeza de que será uma experiência interessante.

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Michel Cordeiro
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Agilista entusiasta, Produteiro, Pesquisador, Dev/Business, AppleFanboy, Black Belt karatê, Explorador aventureiro de minecraft!