Em tempos fluídos a escola vintage!

Vivian Nolasco
GEPES / UPF
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3 min readOct 7, 2017

A escola é uma importante criação cultural da modernidade. Ao longo dos séculos vem sendo pensada, debatida, idealizada por uns, demonizada por outros. Há muito se denuncia a crise em seus processos. Criada no final século XVIII início do século XIX, a escola pública, gratuita, obrigatória incorporou estruturas políticas da época. Parida num mundo positivista regido pela economia industrial, objetivava desenvolver um povo dócil, obediente, passível a produção em larga escala. Tais características permanecem ativas hoje, pareadas a mudanças progressivas.

Num ritmo próprio e distinto ao de seu tempo, a escola caminha. Seguimos respeitando a lógica industrial: chamada, fila, estar atento ao sinal para a troca dos períodos, disciplinas. Concomitantemente, os processos de ensino e aprendizagem também podem acontecer no notebook, no tablet ou no Smartphone — tão criticado no meio educacional; em tempo real contatamos pessoas, situações, distantes física e geograficamente.

O Smartphone convive (oculto, é verdade) com o quadro negro, classes e livros.

O espaço escolar tornou-se vintage! Conserva características antigas, ainda vigentes e, se encontra com novas, tornando evidente o desconcerto na relação dos professores e alunos e a dificuldade que os instituições educacionais tem na apropriação de tais tecnologias como poderosos recursos educacionais.

Neste desafino desconcertante, a tensão peculiar à escola, aumenta o tom. Enfrentamos a falta de maestria, o que torna tudo ainda mais turbulento. Crises são turbulentas e, também, fundamentais às mudanças. Para operar neste novo cenário, o professor é convocado à interrogação ética dos fundamentos encarnados em sua própria formação, assentada em dispositivos disciplinares, de regulação do tempo e do espaço.

Como trabalhar no ingresso do novo, do diverso, do diferente sem se interrogar o sentido daquilo posto e daquilo que chega? É notório que a posição assumida pelo professor em suas intervenções adquirirá valor simbólico ou não, dentro de quem cada um é, conforme o trabalho de significação compartido com o aluno. Frente à acelerada fluidez dos tempos e o constante avanço das tecnologias, significar o tempo, o espaço, as relações, a importância em pensar e estudar, o valor do trabalho, do semelhante, da ética, torna-se condição para uma existência criativa, em comunidade e com sentido de ser. Portanto, a escola e o professor nunca foram tão necessários e as tecnologias, pode acreditar, constituem espaços valiosos de reflexão e exercício de um renovado e potencializado fazer docente!

Estas reflexões transformadas em texto, que escrevi com contribuições do professor Prof. Dr. Adriano Canabarro Teixeira, brotaram das discussões em aula, com os colegas, na disciplina de Processos Educativos na Cibercultura, do PPGEdu/UPF. Foi publicado pela primeira vez na Revista Somando.

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Vivian Nolasco
GEPES / UPF

Psicóloga/Psicanalista Membro do PROJETO - Associação Científica de Psicanálise (ACP);Membro do Núcleo de Educação do PROJETO - ACP;Mestranda no PPGEdu - UPF