A fábrica que não se sabe e o lugar que não existe

Redação Geringonça Pt-Br
Geringonça Pt-Br
Published in
3 min readJun 28, 2018
Interior da Fábrica Braço de Prata, espaço cultural em Lisboa

Para quem quer conhecer um pouco mais de Lisboa, nomes como Xabregas, Beato, Marvila fazem parte de um novo roteiro turístico. São bairros com construções históricas que abrigaram grandes conventos, depósitos e fábricas, numa antiga região portuária, religiosa, de vinhas e operários, ao lado do Tejo. Por anos, ali ficou meio esquecido, muitos imóveis ficaram vazios mas, na última década, alguns deles vêm ganhando ares vintage, alternativos, criativos, modernos, numa ocupação cultural, comercial e de revitalização local.

Um dos pontos mais conhecidos da região fica em um endereço curioso: na Rua Fábrica de Material de Guerra 1, em Marvila. Ali está a Fábrica Braço de Prata, um centro cultural que ocupa um pedaço das instalações do que foi a sede da antiga Fábrica Militar de Braço de Prata de Lisboa. Onde antes eram fabricados armamentos, agora é um espaço com salas dedicadas a filósofos, livros, teatro, música, cursos, oficinas e restaurante. Um local de encontros de cultura.

Salas da Fábrica Braço de Prata, Lisboa

A apresentação da Fábrica cultural, que existe há 11 anos, diz que “Ninguém sabe muito bem o que a Fábrica é. E isso tem sempre jogado a favor do que aqui acontece”. O local mantém o aspecto de um improviso criativo sobre o bem antigo passado. O novo não está nas mudanças do espaço físico, mas nos seus usos, nas suas novas gentes, nas suas novas linguagens. Aos sábados, a partir das 14 horas, as crianças têm vez nas atividades do Bracinho de Prata. Para os adultos, nada de horário fabril. Ou melhor, só tem o turno da noite: quarta e quinta das 18 às 2h, sexta e sábado, das 18 às 4h. Aos domingos, não abre.

Em outros endereços da região, em velhos galpões, móveis antigos revisitados estão em exposição e à venda. É uma mistura de lojas de design, de peças antigas, de galerias de arte ou restaurantes que são uma conjunção do zen com o out, do in com o para além de qualquer coisa. Sem esconder suas ranhuras, sua história, o velho de Lisboa transforma-se em um atrativo moderno que tem de tudo. Tudo menos aquela coisa limpinha, menos aquele mobiliário e aquela decoração clean.

Construção da antiga “Catedral do Vinho”, em Marvila

Quem quiser um lugar diferente, para comer e beber, ali tem “Aquele lugar que não existe”. Você entra pensando que é mais um espaço criativo de decoração, só que não: é um restaurante de comida indiana e pizzas com combinações e nomes inusitados. Fica na rua do Açúcar, mas não procure placa. Ali também não existe wifii e nada de fotos, já avisam logo de cara. Quem não liga para spoiler, na internet existem informações e fotos até dos pratos. Mas, para quem quer manter a magia, o cardápio diz: “…de acordo com a ciência quântica apenas existimos quando cá estás…se cá não estás, passamos a ser… Aquele lugar que não existe”.

Celia Regina de Souza

Fotos: Ken Fonseca

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