Ter ou não ter Área de GC? Eis a questão!

Esse artigo faz parte do Relatório da pesquisa “Panorama da Gestão do Conhecimento (GC) no Brasil”. O relatório é uma iniciativa da SBGC para analisar como os profissionais de GC e as diversas organizações brasileiras cuidam de seu conhecimento.

Victor Couto Alves
Gestão do Conhecimento Pessoal
5 min readOct 8, 2022

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Recentemente a Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC), cumprindo seu papel de referência em Gestão do Conhecimento no Brasil, lançou a Pesquisa Panorama da Gestão do Conhecimento edição 2021–2022, e eu tive o prazer de ter acesso e ser convidado para comentar aos resultados do Perfil do Profissional de Gestão do Conhecimento. Como alguém que teve a oportunidade de trabalhar de forma dedicada à GC por cerca de 4 anos, trabalhar na área de aprendizagem e estar numa empresa que possui uma área de dedicada à GC, gostaria de trazer esses dados específicos da pesquisa e poder contribuir um pouco para essa discussão, afinal, o que é mais importante: ter uma equipe dedicada para GC ou profissionais com competências de gestão do conhecimento desenvolvidas?

De acordo com os resultados da edição 2021–2022, cerca de 22,8% dos respondentes dedicam-se exclusivamente à GC, enquanto que 71,9%, dedicam-se parcialmente e 5,3% em outros tipos. Embora pareça um numero relativamente baixo, essa proporção é quase o dobro do resultado encontrado na edição anterior de 2020, que foi de 12%. Da mesma forma, ao perguntar sobre a existência de uma equipe ou área de GC, 35,09% responderam que existe uma Equipe ou Área consolidada e 12,28%, que está em fase implantação, ou seja, 47,37% quase metade das empresas das pessoas que responderam, possui uma equipe de GC consolidada ou em fase de implementação. Com isso, dá pra se concluir que o interesse da gestão das organizações pelo tema no Brasil está crescendo à ponto de ter mais pessoas e/ou ter uma equipe ou área de GC em comparação à anos anteriores, o que pode indicar também um aumento no nível de maturidade da gestão, que necessita olhar com mais foco para processos de gestão do conhecimento.

Dito isso, uma pergunta vem à mente: Qual é a melhor área pra ser responsável pela GC? Recentemente, Nick Milton, renomado consultor na área publicou em seu blog o artigo What’s the best reporting line for KM?, que em tradução livre seria “Qual a melhor linha de reporte para a GC?”. Neste artigo, ele publicou o que encontrou numa pesquisa global que realizou com quase 800 profissionais ligados à GC sobre esse tema e a conclusão foi: não existe um lugar melhor! A GC pode reportar para qualquer lugar. No entanto, três critérios são fundamentais e interligam-se para tomar essa decisão:

  1. onde as questões de conhecimento vão entregar o maior valor;
  2. onde a demanda de negócios é maior;
  3. onde você tem um maior patrocínio/suporte;

Para concluir, Nick Milton, reforça que o ideal é que a GC esteja ligada de forma separada e direta à Liderança Sênior da organização, pelo menos num primeiro momento, e depois eventualmente estar ligada à alguma área que poderá ser mais sustentável para GC. Cada uma delas, no entanto, possui seus prós e contras conforme abaixo:

  • Estratégia: torna a GC estratégica mas pode perder foco no plano tático.
  • Operações/Projetos: torna a GC próxima das operações e ligada ao negócio, no entanto, pode ficar muito focado em processos e esquecerem do aspecto das pessoas e tecnologias.
  • TI: por ser vista geralmente como área de suporte, é um risco estar ligado à TI e ter um foco muito grande tecnologia e esquecer dos demais aspectos como pessoas e processos.
  • RH ou T&D: embora seja possível, também tem que tomar cuidado para não parecer mais um braço de treinamento e ficar longe das operações.

Independemente de ter ou não uma área de GC, é importante que as organizações tenham um Framework de Gestão do Conhecimento estabelecido, ou seja, ter Responsabilidades, Processos, Tecnologias e Governança bem definidos. Dessa forma, a GC torna-se um modelo de gestão tal como os outros sistemas e não somente um conjunto de ferramentas. Com esses elementos do framework estabelecidos, as demais áreas funcionais e os departamentos conseguem operar e beneficiar-se da Gestão do Conhecimento, tendo ou não uma área dedicada pra isso. E pra isso, também é importante ter pessoas com habilidades de Gestão do Conhecimento para que possam executar de forma adequada e disseminar as boas práticas.

Para ajudar a responder essa questão, a American Productivity Quality Center (APQC), uma das maiores autoridades do mundo em benchmarking, melhores práticas, melhoria de processos e desempenho e gestão do conhecimento, definiu de forma geral quatro grupos de competências que se desdobram em competências essenciais em GC, conforme mostrado abaixo:

Fonte: Adaptado de KM Competencies Gap Analysis, APQC

Junta-se essas competências com a competência de Gestão do Conhecimento Pessoal, ou seja, a capacidade do indivíduo de gerenciar a si mesmo e o seu conhecimento pessoal, e teremos o que o Harold Jarche chama de Knowledge Catalysts, profissionais que não só buscam conhecimento e capacitam-se como também conectam-se com redes diversas, criam e fazem coisas novas, e sobretudo adicionam valor em seus processos, independemente de serem de uma área de Gestão do Conhecimento ou não, criando assim uma forte cultura de aprendizagem e conhecimento organizacional.

Para concluir, vimos que a as organizações brasileiras estão dando mais foco para as práticas de Gestão do Conhecimento, haja visto que o número de pessoas e equipes dedicados ao tema tem crescido. Talvez esse número não seja maior pois como mencionado por Nick Milton, a GC normalmente é melhor alocada em área diretamente ligadas à liderança sênior, e em organizações multinacionais, cuja sede não seja no Brasil, essas áreas normalmente não estarão aqui, logo, a quantidade de profisisonais ou equipes de GC em filiais locais será menor, a menos que a região tenham uma relevância grande para a organização e justifique ter um profissional dedicado. No entanto, como visto, é possível compensar isso ao desenvolver condições e competências importantes para que a gestão do conhecimento seja implementada e as organizações beneficiem-se do que a GC tem para oferecer e agregar valor para o negócio.

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Victor Couto Alves
Gestão do Conhecimento Pessoal

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