Da redação ao UX Writing

Existem alguns cuidados que podemos tomar para uma transição tranquila e repleta de bons aprendizados

Joao Netto
GetNinjas Design
Published in
5 min readSep 28, 2021

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Quantas vezes você ouviu uma voz na sua cabeça ecoando pensamentos como “preciso mudar de profissão” ou “quero fazer algo diferente”? Ao mesmo tempo, bate aquela insegurança de sair do “local de conforto”, afinal, depois de tanto tempo se dedicando a uma área, você já se acostumou com tudo que ela oferece, desde as coisas boas até as ruins. Mas acredite, quase sempre, mudar é preciso.

Mas assim como boa parte das coisas na vida, essa mudança não precisa ser no estilo “ou 8 ou 80”, nada drástico ou impulsivo, como filmes e séries costumam mostrar. Eu não pulei do cargo de copywriter em agências para UX Writer Sênior no GetNinjas da noite para o dia. Por experiência própria posso afirmar que o ideal é dedicar um tempinho para fazer uma transição.

Por mais de 10 anos eu dediquei minha vida profissional à comunicação, em especial na redação publicitária e redação digital desde o estágio até o cargo de coordenador de criação. Foi um bom tempo, que trouxe ótimas amizades, prêmios e grandes realizações.

Acontece que no meio dessa jornada, eu conheci algo que sempre havia chamado minha atenção, a área de User Experience, que aqui aplicarei nosso belo idioma para chamar de Experiência de Usuário, ou apenas UX e UXW, para UX Writing. Quando vi que essa carreira trazia preocupações reais com acessibilidade e que poderia facilitar a vida das pessoas, logo me identifiquei e comecei a estudar e a aplicar esses novos conhecimentos nos projetos da agências por onde passei.

Durante todo esse processo, consegui reunir alguns pontos importantes que ajudaram na minha transição da redação para UX Writing. Hoje, no GetNinjas, vejo uma oportunidade de compartilhar essa experiência com você, destacando 7 pensamentos que surgiram após um comparativo entre as duas áreas.

Deixe o orgulho de lado

Por confiar em nossa experiência, muitas vezes acreditamos que não há mais o que aprender e que basta “virar uma chave” para se adaptar a um novo mercado. Mas calma lá. Pesquise, leia e estude sobre o assunto, a diferença entre ser um UX Writer e um redator é grande, como explica o artigo “UX writing não é só microcópia e redação”. Para isso, além de ótimos cursos online, você pode contar com livros prazerosos e didáticos, que detalham bem a aplicação dos textos no universo UX e UI (interface do usuário).

Obras completas como “Redação Estratégica Para UX” de Torrey Podmajersky e acessíveis como “Em busca de boas práticas de UX Writing” de Bruno Rodrigues. Um ponto importante é lembrar de ir além nos estudos sobre sua futura profissão e procurar entender o universo UX como um todo, incluindo sua aplicação no design, pesquisa e programação. Neste sentido você encontra diversas obras clássicas, em especial eu sugiro a atemporal “Não me faça pensar” de Steve Krug, lançada originalmente em 2002, e que segue sendo atualizada com o passar do tempo.

Sem espaço para sentimentos

Enquanto na redação exploramos a emoção e envolvemos as pessoas por meio de histórias, no UX Writing nossa principal preocupação é ser objetivo e claro com poucas palavras. Isso porque precisamos ter sempre em pensamento a ideia do mobile first, ou seja, pensar em como o conteúdo será visto em plataformas para celulares, tablets e afins.

Boa parte dos nossos acessos, no GetNinjas, são de dispositivos móveis. Leve em conta também que as pessoas precisam entender e navegar nas interfaces de forma rápida e intuitiva, então precisamos garantir que desde a pessoa mais simples, até a mais letrada entenda o processo.

Menos, realmente, é mais

Você já deve ter ouvido muito essa expressão de “menos é mais”, certo? Acontece que no UX Writing isso precisa ser levado ao pé da letra. Trabalhamos com microtextos, chamadas e botões de ativação que devem trazer a menor quantidade de conteúdo possível e, ao mesmo tempo, garantir que qualquer pessoa consiga navegar na interface.

Por exemplo, ao invés de dizer “Clique no botão abaixo e acesse nosso formulário” podemos transformar o próprio botão no convite para a ação dizendo “Acesse o formulário”, assim otimizamos o espaço na tela e reduzimos o texto.

Nem tudo vem do zero

Diferente dos conteúdos criados para anúncios e campanhas que são feitos com base em um conceito, o trabalho do UX Writer parte, muitas vezes, da revisão e alteração de textos aplicados por outros profissionais como designers, engenheiros e gerentes de produtos (product manager). Esse refinamento do conteúdo pronto é comum, e ajuda na agilidade de criação e desenvolvimento dos produtos. Uma alternativa que fazemos aqui no GET são reuniões com a equipe sempre que um novo projeto começa, assim fica mais fácil para entender o contexto e sugerir itens que podem influenciar no design.

Do Brasil para o mundo

Com a pandemia, cada vez mais empresas e profissionais precisaram se adaptar ao trabalho remoto. Se você é uma das pessoas que gostou dessa mudança, ou se trabalhar de casa já era uma rotina, a transição para UXW fica ainda mais vantajosa. Boa parte das muitas vagas que vêm surgindo são remotas e não se limitam a fronteiras brasileiras. É comum encontrar pessoas de diferentes regiões, trabalhando em um mesmo time. Esse contato diversificado ainda contribui para o desenvolvimento de produtos nacionais, permitindo uma atenção maior em uma linguagem que fale com todos os públicos.

No GetNinjas, por exemplo, temos nossa matriz em São Paulo, mas eu trabalho aqui em Brasília. Além de mim, temos ainda colegas de outras regiões como Recife, Rio de Janeiro e até EUA. Nossos encontros e reuniões diárias são apenas online e, acredite, são tão divertidas e funcionais quanto se fossem presenciais.

Um guia é sempre bem-vindo

Cada vez mais a procura por profissionais de UXW vem crescendo, isso porque as empresas começaram a entender algo que já sabíamos a muito tempo: as palavras têm poder. Por isso, é importante entender o perfil da empresa, e assim que possível aplicar seus conhecimentos na criação de manuais e guias de tom de voz UX. Considere o guia como um legado que você vai deixar para as futuras gerações, mas lembre-se que esse guia não é imutável, ele não precisa ser extenso a ponto de ter itens que ninguém vai realmente usar, e ele deve ser atualizado com o passar do tempo.

O papo é reto

Sei que já falei isso por aqui, mas é importante reforçar: no UX Writing nosso conteúdo deve ser simples e ir direto ao ponto. Parte do desafio de migrar da redação publicitária está aí. Não há espaço e nem necessidade para textos longos, nessa área não contamos histórias, priorizamos resultados.

Estes são alguns pontos que podem facilitar sua transição ou, quem sabe, despertar ainda mais seu interesse sobre a área. Trabalhar com UX Writing é algo fabuloso, divertido e transformador. Não tenha medo de ouvir a voz ecoando na sua cabeça que pede por mudanças, nem de sair do seu local de conforto. Até porque, se você sente essa inquietação, talvez esse local já não esteja tão confortável assim.

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