Aprendizagem baseada em projetos — Por onde começar?!

O que você precisa saber para começar a aplicar Aprendizagem baseada em Projetos (Project-Based Learning) em experiências educacionais de qualquer natureza

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Este é um artigo de uma série de publicações sobre Aprendizagem baseada em Projetos. Pode ser interessante você ler esta publicação antes! 👇

O que é Aprendizagem baseada em Projetos?

Vamos iniciar buscando uma definição sucinta do que é Aprendizagem baseada em Projetos.

A primeira coisa que precisamos pontuar é que este não é um conceito novo. O trabalho de aprendizagem com utilização de projetos tem suas primeiras referências no início do século XX com estudiosos como John Dewey e William Kilpatrick e as chamadas "Pedagogia de Projetos" ou "Método de projetos". Sendo assim, embora seja uma das principais metodologias de aprendizagem ativa e tenha sido muito difundido nas últimas duas décadas, há um histórico grande de pesquisadores, professores e estudiosos que auxiliaram nessa trajetória.

De uma forma geral, podemos usar o conceito de Bender (2014) que define como experiências de aprendizagem com uso de “projetos realistas baseados em uma questão e com tarefas altamente motivadoras e envolventes, para ensinar aos alunos no contexto do trabalho cooperativo”.

Os princípios norteadores da Aprendizagem baseada em Projetos

Para aprofundarmos esse entendimento conceitual, é bem interessante conhecermos os oito princípios norteadores do método. Existem dezenas de referências quanto a isso, mas gosto de Larmer, Mergendoller e Boss (2015).

Fiz um infográfico interativo com uma resuminho dos princípios básico ;)

Infográfico interativo com um resuminho sobre os princípios básicos PBL. Clique nos títulos para saber mais ;)

Vamos detalhar um pouco mais cada um deles.

Conhecimentos-chave, compreensão e habilidades: trata-se de pensar o que objetivamos desenvolver com a experiência em termos de conhecimentos teóricos e técnicos, buscar o aprofundamento do pensamento crítico e estimular processos de colaboração a autogestão que possam suscitar novas habilidades;

Problemas desafiadores: deve haver um propósito de minimização ou resolução de um problema através do projeto, de forma que sejam desenvolvidas questões significativas e com um grau apropriado de desafio de acordo com o objetivo didático inserido no processo;

Suporte a consultas: é fundamental que todo o processo seja permeado pelo estímulo a busca pelas informações necessárias, seja através da consulta aos docentes, seja através de quaisquer recursos úteis ao processo de investigação e aprendizado;

Autenticidade: quando os envolvidos conseguem enxergar um contexto real no projeto que estão desenvolvendo, tudo fica mais interessante. Assim, as tarefas, os critérios de qualidade e os impactos devem ser condizentes com os interesses dos envolvidos;

Estudantes têm voz e escolha: os participantes da experiência de aprendizagem são os protagonistas, assim eles devem poder tomam decisões a respeito do projeto desde a forma de trabalho até o que irão criar. Porém, é importante lembrar aqui que isso não quer dizer que não existam algumas regras e condições;

Reflexão: deve haver momentos para reflexão sobre o aprendizado e sobre a efetividade das atividades desenvolvidas. Além de verificar a qualidade do trabalho, deve-se atentar para os obstáculos enfrentados e como superá-los;

Crítica e revisão: todos os envolvidos, estudantes ou docentes/orientadores devem dar, receber e usar os feedbacks para melhorar o processo e o produto;

Produto público: como forma de incentivo deve-se buscar que os projetos sejam públicos, ou seja, que possam ser apresentados, divulgados e utilizados para além do contexto onde a prática está sendo desenvolvida.

E a Aprendizagem baseada em Problemas?

Este é um outro método de aprendizagem ativa que por vezes é confundido com aprendizagem baseada em projetos. Embora eles possam ser usados em conjunto, eles não são a mesma coisa! Vamos a um paralelo entre os dois métodos:

Problemas (Problem-Based Learning — PBL): é um processo de aprendizagem, investigação e pesquisa na solução de problemas que já podem ter solução conhecida. Em geral a proposição de uma questão é elaborada pelos professores em situações controladas, em espaços de tempos menores e não há necessidade da construção de um produto final.

Projetos (Project-Based Learning — PjBL): também é um processo de aprendizagem, investigação e pesquisa, mas apresenta a construção de um produto final, grandes tarefas, tempo maior de duração e dificuldades crescentes. As soluções são abertas e podem emergir de um processo de problematização construído pelos próprios alunos.

Importante lembrar que em inglês usa-se o termo Project-Based Learning que por vezes é associado a sigla PBL. Só que Problem-Based Learning também é muito associada a essa sigla. Assim, alguns autores usam a sigla PjBL para Aprendizagem baseada em Projetos. Para não haver confusão, é esta que vou adotar por aqui, certo?!

E o que muda para o professor?

Para os docentes os maiores desafios, em geral, residem no planejamento de disciplina com uso de PjBL, a sistematização e condução do processo e reflexão dos resultados e a transição para um papel de mediador e orientador. Além disso, é importante ter uma visão crítica do processo e persistência.

Se você é professor(a), concorda com isso? O que mais muda? Vamos debater ;)

E para os alunos?

Nos alunos os impactos são a mudanças de paradigma na aprendizagem, a necessidade de seu protagonismo no processo, entendimento e reflexão sobre suas ações e do grupo, mais autonomia nas escolhas e por consequência maior responsabilidade no processo.

Se você é aluno(a), o que acha disso? Você prefere metodologias ativas ou tradicionais? Vamos debater :)

Seja qual for o seu papel neste processo é importante entender que este tipo de abordagem requer uma mudança de postura frente ao ensino tradicional.

O docente deve atuar como um facilitador e articulador, mas isso não quer dizer que existe menos responsabilidade no processo educacional. Pelo contrário! Isso implica em estruturar adequadamente todos os processos que compõem o projeto em conjunto com os alunos, deixar claros os critérios de qualidade esperados, estimular a investigação constante, bem como avaliar as etapas e apresentar feedback construtivo capaz de direcionar a aprendizagem para o foco necessário.

Agora que você já sabe os princípios norteadores de Aprendizagem baseada em Projetos e as mudanças de postura necessárias tanto por parte dos docentes, quanto dos alunos, fica ligado(a) que na próxima publicação vou abordar as etapas de planejamento de uma experiência de aprendizagem baseada em projetos. Até lá! ;)

Algumas referências interessantes

Bender, W. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2015.

Larmer, John; Mergendoller, John; Boss, Suzie. Setting the Standard for Project Based Learning: a proven approach to rigorous classroom instruction. Alexandria: ASCD. 2015.

Paula, Vinícius Renó de. Aprendizagem baseada em projetos: Estudo de caso em um curso de Engenharia de Produção. Dissertação de Mestrado — Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Itajubá. 2017.

Patton, A. Work That Matters The Teacher’s Guide to Project-based Learning. Paul Hamlyn Foundation, London, 2012.

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Aline de Campos
getsdone .: Experiências de Aprendizagem

consultora educacional; professora; doutoranda em informática na educação; mestre em comunicação e informação; bacharel em ciência da computação;