O que é Reinheitsgebot? Lei da Pureza da Cerveja

Guilherme Garcia
GGBEER — Cultura Cervejeira
5 min readMar 29, 2017

Muito se fala sobre a lei de pureza da cerveja alemã, mas durante meus anos de estudo pude observar que existem muitas duvidas sobre como foi sua criação, sua aplicação na época, quais foram os motivos para ser criada, entre tantas outras dúvidas. Neste artigo, iremos juntos, aprofundar o que foi e o que é a Reinheitsgebot e vamos além da linha mais conhecido do decreto:

os únicos ingredientes usados para fabricação da cerveja devem ser lúpulo, cevada e água. Guilherme IV Duque da Baviera — 23 de abril de 1516

Para começar entender o decreto, precisamos entender sua importância e o que estava acontecendo na Alemanha naquela época.

Separei aqui alguns tópicos importantes:

Trigo

Há 500 anos, a cerveja de trigo era extremamente comum e apreciada na Alemanha. Ao longo da história os cervejeiros foram testando suas receitas com vários tipos de cereais como: aveia, centeio, sorgo, cevada e trigo. O trigo em especial confere a cerveja “Weissbier” uma acidez requintada, uma delicadeza suave e bastante saciedade por ser rica em proteína. A proteína também ajuda a criar um colarinho espumoso deixando a cerveja visualmente mais atrativa.

As cervejas de trigo tinham tanta procura que os cervejeiros disputavam com os padeiros para obter o grão, tanto que levou a sua escassez. Quem é que resiste a uma “Weiss” bem feita?

Gruit — Ervas

Nessa época os cervejeiros utilizavam uma mistura de ervas para dar amargor e aroma à cerveja, era realmente uma forma de temperar a cerveja, para dar sabor além do lúpulo. Essa mistura se chamava “Gruit” e poderia conter: bagas de zimbro, gengibre, sementes de cominho, anis, noz-moscada, canela e o que mais o cervejeiro estivesse disposto a colocar em sua cerveja. Geralmente essa mistura era colocada dentro de um pano e fazia a efusão durante a fervura do mosto.

Apesar de trazer complexidade a cerveja, o “Gruit” poderia gerar surpresas, era comum algumas dessas ervas conterem alguma substância prejudicial a fermentação, prejudicial ao aroma, ao sabor e até mesmo trazer algum mal estar para quem estava bebendo a cerveja.

Diz a lenda que o Duque Guilherme IV teve um belo “piriri” depois de tomar algumas canecas e assim resolveu controlar o que era colocado na cerveja.

Influencia politicas e financeiras

Angela Merkel — Chefe de Estado

É importante dizer que nessa época (1516) o monopólio no cultivo de cevada pertencia a corte de Guilherme IV (Wittelsbach) que estava no poder e o monopólio da produção das cervejas de trigo era privilégio de outra corte a Degenberg. Ao proibir o trigo, Guilherme IV, atacava diretamente o bolso dos rivais.

Uma evidencia desse “golpe” vista por Guilherme é que em 1602, quando Sigismund Degenberg (Duque da casa de Degenberg)morreu sem deixar herdeiros, as propriedades da família foram passadas ao clã reinante (Wittelsbach), as Weissbiers voltaram a ser legalizadas, pelo duque Maximilian I, bisneto de Guilherme IV. Neste artigo eu digo um pouco de como Maximilian I retoma a produção de cerveja de trigo na Alemanha.

Brasão da Casa de Wittelsbach e Brasão da Casa de Degenberg

O duque também estava preocupado com a falta de controle nos valores cobrados pelas cervejas locais e as “importadas” de outras regiões, a maior parte do texto da Reinheitsgebot trata do controle dos preços. Além de motivações locais pela produção local, essa preocupação com o tabelamento pode estar relacionada a chamada “Revolução dos Preços” que afetou a Europa Ocidental entre o fim do século 15 e o começo do século 16.

Sendo assim, o duque Guilherme IV viu a sua frente uma oportunidade única de acabar com monopólio rival, lucrar de forma significativa com a venda de cevada, colocar um padrão nas cervejas evitando dores de barriga e padronizar os valores praticados nas cervejas. São bons motivos não? Munido de todos esses argumentos em 23 de Abril de 1516 é feito o decreto de pureza a Reinheitsgebot para toda região da Baviera.

Para o texto completo da lei:

Evolução da Lei

Ao contrario do que muitos pensam, a lei vigorava apenas na região da Baviera e só mais tarde em 1906, com alguns conteúdos alterados a deixando mais branda permitindo o uso de outros grãos para exportação, passou a vigorar em todo território alemão.

Em 1987 por conta de influências da União Européia, que considerava a Reinheitsgebot uma norma protecionista, sugerindo que esta dificultava a entrada de outras cervejas na Alemanha e apenas favorecendo as cervejas nacionais. A lei teve que se adaptar ao mercado moderno e acabou sofrendo modificações fazendo hoje parte do (German Tax Code).

Hoje o decreto é valido apenas para as cervejas produzidas localmente e não se aplicam a: cervejeiros caseiros alemães, cervejas estrangeiras que tenham fábrica na Alemanha e cervejas alemãs destinadas à exportação.

Conclusão

A Reinheitsgebot tem um valor afetivo para os alemães, a lei faz parte da historia da cerveja e alimenta o dizer que a cerveja alemã é unica e possui características próprias e marcantes. Hoje a lei é seguida principalmente pelas cervejarias da região da Baviera (Augustiner, Hofbräu, Paulaner e etc) como uma forma de manter essa tradição, um verdadeiro patrimônio cultural.

Muitas cervejarias pelo mundo também prestam homenagem a historia da cerveja produzindo cervejas “Feita de acordo com a Reinheitsgebot”, e assim estimulando ainda mais o folclore e misticismo sobre ela.

Espero que tenham se divertido e aprendido com este artigo, eu me diverti muito escrevendo e estudando toda a historia que está por trás desse marco cervejeiro, agora vou pegar meu caneco!

Até a próxima!

Ein Prosit!

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Guilherme Garcia
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