Por que a Marvel acerta e a DC erra no cinema?

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4 min readApr 22, 2015

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Marcos Candido

A Marvel lançou, em abril, a série Demolidor. Um enredo adulto e violento lançado exclusivamente para o Netflix. No mesmo mês, colocou no mercado o blockbuster Vingadores: Era de Ultron, reunindo vários atores de um projeto ambicioso iniciado há 7 anos.

Por que a DC/Warner, que tem na manga os heróis mais populares do mundo, não consegue o mesmo? Poderíamos escancarar trâmites internos, mas o espectador é refém, a grosso modo, daquilo que vê na tela do cinema. O filme é a superfície dos projetos estabelecidos pelas duas empresas — mas é o mais essencial.

A resposta, na verdade, é bem simples. Enquanto a primeira diversifica seus produtos, a segunda tenta cristalizar o gênero “super-herói”.

É fácil identificar as mesmas características de Homem de Aço na série Arrow, Flash, pelo trailer de Batman x Superman e artes conceituais de Mulher-Maravilha (!!!).

Essencialmente, Homem de Aço, ou qualquer outra obra recente do estúdio, busca a ambientação sisuda e dark (na ausência de termo melhor) da trilogia Dark Knight, de Christopher Nolan. Excelente pela maturidade e respeito ao personagem, os três filmes de Nolan surgiram sem ligação com os intentos da produtora em conectar os seus personagens no cinema.

Mas há uma constatação bastante simples. Batman e Superman são personagens diferentes. O que se vê na DC é a disposição de uma única textura e enredos para seus filmes: o gênero super-herói.

No geral, esta classificação tenta buscar heróis da realidade. Os roteiros e uniformes tentam tornar críveis a existência de seres superpoderosos no nosso mundo. Há uma uniformidade desnecessária para explicar, de várias formas, que se trata de um mesmo plano narrativo dividido em mais filmes.

Primeiro, é a estética sombria. Segundo, um enredo com vilões ideológicos, com propósitos muito bem delineados e políticos. Terceiro, um herói que sofreu muito e só se tornou um herói pela força das consequências.

A estratégia da Marvel em limpar a imagem de destes seres tambémfoi similar. O primeiro Homem-de-Ferro, de 2008, mescla assuntos políticos com um humor irônico de um Tony Stark canastrão. O herói está lá, mas a mesma pegada não funcionaria para um filme do Thor, o ser mitológico que enfrenta batalhas épicas.

Ambos estão no mesmo universo, mas destoam na abordagem. E não são os únicos. Guardiões da Galáxia, um humor bonachão. Thor, a fantasia épica. Capitão-América, ação de espionagem. Vingadores, o blockbuster. Demolidor, uma série para o público adulto. Agents of Shield, série de gabinete investigativo.

Ou seja, a Marvel Studios aposta na apropriação de gêneros, e não em um universo uniforme. O público não precisa de um didatismo feito em várias vias, só precisa encontrar uma boa experiência — seja ela qual for, e como for. Além do mais, com algumas exceções, o estúdio mantém clima similar ou idêntico ao dos quadrinhos.

A estratégia é antiga. Na realidade, a DC foi a primeira a usa-la nos quadrinhos com seus selos adultos e infantis. A Marvel, correndo atrás, fez o mesmo percurso algum tempo depois.

Devemos ser pragmáticos. Um filme do Superman x Batman sempre vai dar um resultado de bilheteria positivo. Se trata, talvez, dos super-heróis mais famosos do planeta.

Vale comentar que, ao se apropriar de vários gêneros, a Marvel conquista vários públicos. Isto foi a chave para catapultar heróis completamente secundários, como o próprio Homem-de-Ferro, Thor ou Demolidor.

O dinheiro sempre virá. O que importa é criar espectadores engajados com um projeto, com um universo, e não com uma estética única. Enquanto a Warner/DC não entender o recado, o resultado será a experiência de vários filmes que parecem apenas um, mas que foram recortados, toscamente, em vários capítulos.

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Escavando fósseis de inteligência nos quadrinhos.