CONTROLE
Ou “somente nós”
Não dá. Escorre pelas minhas mãos. Há coisas em mim que não sei descrever. Existe alguma coisa pedindo para que eu tenha controle. Mas não dá. Está tudo tão nebuloso e frágil. Gostaria de poder dizer que não. Mas não tenho controle disso. Você quer que eu tenha controle? Como? Se os dias correm, as horas voam, e eu não tenho saída. No breu vejo uma luz. Será que é possível toca-la? Dentro de um gaiola havia um pássaro, frágil, instável e sozinho. Ele cantava uma melodia estridente. Parecia querer chorar, mas não conseguia. Ele queria ter o controle de voar. Mas não tinha. Que dia alcançarei o controle de tudo? Não sei se isso é possível. Nada depende apenas de mim. Nada está apenas em minhas mãos, por mais que eu tente inconscientemente fazer isso acontecer. Você quer o meu controle? Por que me pede tanto isso? Me pede para segurar as rédeas da sua vida quando eu mesma estou cambaleando com a minha. Que dia e que horário você achou que eu poderia ter totalmente o controle de algo? Quando você ousou supor que eu sou uma máquina de produzir? De fazer? Pode parecer. Mas eu não sou. Sou um ser humano com defeitos, falhas e anseios. Sou um nada procurando o tudo e um tudo no meio de um nada. As vezes o ar me falta e tudo que me resta é respirar… respirar essas tentativas falhas e inertes de tentar controlar algo. Não me diga que estou sempre tentando ter o controle. Não mais. Estou saindo a procura de algo que realmente me deixa livre: ter controle de absolutamente nada. Um dia olhei um casal de velhinhos na rua e aquilo me preencheu de paz. Se um dia eu conseguir segurar tudo aquilo que me deixa em paz, talvez, e só talvez, eu durma sob controle de algo. No final das contas, até que posso controlar, tudo que está ao meu alcance em relação a mim mesma. E talvez, apenas e somente talvez, esse seja um caminho saudável para seguir. Quantos dias ainda me restam? Quantas horas ainda vão passar? Como diria uma pessoa muito sabia: nessa vida só sabemos de duas coisas: que o sol nasce e que um dia a gente morre. Ouso dizer que sabemos uma terceira coisa. E a frase vai ficar mais confusa ou mais clara ainda: só sabemos de três coisas. O sol nasce, um dia morremos e podemos apenas ter o controle daquilo que cerca somente nos.