CONTROLE

Ou “somente nós”

Giovana Silvestri
Giovana Silvestri
2 min readMay 26, 2021

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Não dá. Escorre pelas minhas mãos. Há coisas em mim que não sei descrever. Existe alguma coisa pedindo para que eu tenha controle. Mas não dá. Está tudo tão nebuloso e frágil. Gostaria de poder dizer que não. Mas não tenho controle disso. Você quer que eu tenha controle? Como? Se os dias correm, as horas voam, e eu não tenho saída. No breu vejo uma luz. Será que é possível toca-la? Dentro de um gaiola havia um pássaro, frágil, instável e sozinho. Ele cantava uma melodia estridente. Parecia querer chorar, mas não conseguia. Ele queria ter o controle de voar. Mas não tinha. Que dia alcançarei o controle de tudo? Não sei se isso é possível. Nada depende apenas de mim. Nada está apenas em minhas mãos, por mais que eu tente inconscientemente fazer isso acontecer. Você quer o meu controle? Por que me pede tanto isso? Me pede para segurar as rédeas da sua vida quando eu mesma estou cambaleando com a minha. Que dia e que horário você achou que eu poderia ter totalmente o controle de algo? Quando você ousou supor que eu sou uma máquina de produzir? De fazer? Pode parecer. Mas eu não sou. Sou um ser humano com defeitos, falhas e anseios. Sou um nada procurando o tudo e um tudo no meio de um nada. As vezes o ar me falta e tudo que me resta é respirar… respirar essas tentativas falhas e inertes de tentar controlar algo. Não me diga que estou sempre tentando ter o controle. Não mais. Estou saindo a procura de algo que realmente me deixa livre: ter controle de absolutamente nada. Um dia olhei um casal de velhinhos na rua e aquilo me preencheu de paz. Se um dia eu conseguir segurar tudo aquilo que me deixa em paz, talvez, e só talvez, eu durma sob controle de algo. No final das contas, até que posso controlar, tudo que está ao meu alcance em relação a mim mesma. E talvez, apenas e somente talvez, esse seja um caminho saudável para seguir. Quantos dias ainda me restam? Quantas horas ainda vão passar? Como diria uma pessoa muito sabia: nessa vida só sabemos de duas coisas: que o sol nasce e que um dia a gente morre. Ouso dizer que sabemos uma terceira coisa. E a frase vai ficar mais confusa ou mais clara ainda: só sabemos de três coisas. O sol nasce, um dia morremos e podemos apenas ter o controle daquilo que cerca somente nos.

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