GANÂNCIA

Ou “e aí, quer dominar o mundo?”

Giovana Silvestri
Giovana Silvestri
2 min readNov 15, 2022

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O som do bar tocava um rock que era uma mistura com o jazz. O saxofone entrava em meus ouvidos e consumia meu corpo inteiro. Dançando de olhos fechados, apenas conseguia sentir as pessoas se esbarrando em mim. Eu era a loucura no meio das loucuras de um sábado a noite. Naquele escuro pude viver mais do que tinha vivido a vida toda. A música causava isso em mim. Ele se aproximou de mim devagar. Com um copo na mão e o cigarro apoiado entre os dedos. Quando tocou minha mão, abri os olhos devagar e continue a dançar. Quando que ele iria entender que aquele momento era meu? Continuei balançando meus braços para cima. Nunca tive medo do que os outros iriam pensar. Para. Não tem como continuar assim. Desde quando você manda. Respira. Bufa. Sai todo estressado para fora do bar, andando pesado como se estivesse sincronizado com um rock pauleira. Era a cara dele se emburrar. Não há espaços entre nós que reserve o que precisamos. Do lado de fora ele fuma. Um. Dois. Três. A música estava me sincronizando com a vida. Sinto alguém tropeçar em mim. Dou risada. Frenética e alta. Não faz diferença aqui tem tanto barulho. Faz sim, você parece louca. Cala a boca, é sábado a noite, eu só quero dançar e esquecer da vida. Ele sai para a rua. Procurando o inalcançável. Procurando o que não sabe procurar. Procurando o que nem sabe o que procurar. Sai andando cambaleando. De tanto beber do mundo e esquecer da vida. Joga as bitucas. Nada importa, todos vamos morrer. Para no semáforo. Desde quando você sabe o que está fazendo. Leia mais meus pensamentos. Eu só sei fazer isso. Não é verdade, você sabe transar. E ri enquanto chega do outro lado. Decidido a matar. Decidido a jogar tudo para o alto. Não me importo. Nunca me importei com suas atitudes. Somos feitos do nada. O vazio é um tudo. Talvez seja a hora. Não, não é, respondi. Naquele momento uma ansiedade me tomou. Ele tinha estragado tudo. Corri para o bar, dei uma nota alta sem me importar com o troco. Corri para a rua. Vi ele quatro quadras na frente. Eu dancei tanto assim? Sentia o vento cortando meu corpo inteiro, minhas pernas finas e curtas faziam o máximo de si. Meu coração acelerando mais que o normal devido aos altos cigarros da noite. Eu estava livre. Eu voava para o que eu jurava ser algo valioso. Eu jurava sentir que tudo ia dar certo. Eu sorria e os carros passavam por mim de maneira lenta. Eu posso. Eu consigo. Eu sou o tudo. Mesmo que isso não signifique nada. Três e meia. Quatro e meia. E continuo correndo. Quando me alcançar vou dar risada. Engraçadinho. E pulo em suas costas. Ele arfa, revira os olhos, encara o céu negro e intenso. Ele parou de andar, acendeu mais um cigarro, tragou, me olhou com seu jeito fora da lei, imprevisível e irremediável e disse: e aí, quer dominar o mundo?

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