LUA

Ou “ela está falando sobre ele, eu que não estou querendo ouvir”

Giovana Silvestri
Giovana Silvestri
4 min readFeb 5, 2021

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Toda vez que eu olho a lua me machuca um pouquinho. Talvez porque eu sabia que é mesma lua para todos e você, em algum momento, deve ter visto ela. Esse é o máximo que eu consigo ter de estar perto de você. E hoje me vi me forçando a olhar para a lua, como nos últimos dias, para lembrar de você para eu sentir essa dor pra eu me ver como eu sou quebrada. Em muitos sentidos, aliás. Estou quebrada para o que sinto, para o que eu acho que sinto, para o que eu evito, para o que eu vou atrás. Estou aos poucos percebendo que estou quebrada faz tempo e que não permito que ninguém chegue muito perto porque eu estou, assim, ferrada de algum forma e eu não quero, mesmo, ferrar ninguém. Só que esse ato de me forçar olhar a lua, só para sentir os cacos dentro de mim, é tão forçado, tão ensaiado, nada é natural agora quando olho a lua. Porque talvez, no fundo, eu saiba que não estou tão quebrada como antes. Que, querendo ou não, eu fui me concertando, me ajustando, colando tudo que existia aqui dentro. Faz tanto tempo que não olhava a lua. Não é atoa que antes olhar a lua era automático, era uma forma de fuga para me sentir aliviada das dores que vivia sentindo. Hoje, não. Hoje, olhar a lua, é saber que estou muito bem e procuro ela apenas para me certificar que sinto coisas aqui dentro, coisas ruim. Porque depois que você passa um tempo não sentido nada a flor da pele, como era há anos atrás, você busca sentir as coisas, a flor da pela, e infelizmente as coisas que sinto, por leve segundos, como se o mundo fosse acabar agora, como se uma chama se aproximasse da minha pele e me queimasse, como se eu levasse um beliscão ali e outro aqui pra acordar, vem só sentimentos ruins. Sentimentos de insegurança, de medo, de rejeição, de desamor. Eu nem estou tão quebrada assim. São sensações que não gosto mas, só para sentir algo, busco, para provar para mim mesma que sou capaz de me sentir como me sentia aos 16 anos de idade. Mas, quem eu quero enganar com isso, não há nada mais cruel do que se machucar de propósito, mesmo que por alguns segundos. E é com isso que sigo olhando a lua, procurando um refúgio em sentimentos ruins para eu conseguir enxergar em mim uma garota cheia de sentimos intenso. Não é mais olhar a lua para querer ficar bem lembrando de você, agora é me forçar a olha a lua e me forçar a sentir as coisas ruins que já senti por você. Isso tudo deve estar acontecendo porque quero despertar em mim esse lado jovial, esse lado garotinha de 15 anos, esse lado intenso e efêmero, só porque ele apareceu e está cutucando coisas antes adormecidas em mim. Aquela sensação de segurança e paz que só se encontrar em finais de filmes de romance que os casais ficam juntos no final. Não é sobre titanic, nem sobre 500 dias com ela, é mais sobre simplesmente acontece, é sobre as 10 coisas que odeio em você. E sigo nessa doida tentativa de me lembrar que estou um pouco quebrada por conta de tudo que aconteceu, por conta de época que eu olhava a lua pra me sentir bem e perto de você. Sigo nessa tentando criar desculpas ilusórias de que não estou pronta para viver algo de forma calma, devagar e sincera. Sigo num trilha de sabotagem comigo mesma para conseguir criar uma forma de fugir dele em algum momento. Sigo tentando olhar a lua e encenando lembrar de ti só para me sentir mal, para me convencer de que não te superei, sendo que estou há mais de meses sem nem lembrar da sua existência. E vou me forçando olhar os céus e as estrelas como um ato romântico de encenação, para eu tentar achar em mim alguma parte que ainda doa por coisas que não mexem mais nem um pouco comigo, para encontrar coisas que já perdi faz tempo aqui dentro de mim: sofrer por amor. E não posso mais para agora porque são quase quatro da manhã, está um ventinho gelado bom, as estrelas brilham tão forte quanto a lua e o céu parece um lugar calmo, sereno e imenso, do jeitinho que deixa qualquer coração manso, mas para mim não, para minha autosabotagem não, porque eu estou tentando me convencer de que não estou pronta para algo, e até a lua já cansou dessa situação, ela me olha com pena gritando para mim que, agora, ela não fala mais sobre você, ela está falando sobre ele, eu que não estou querendo ouvir.

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