CRÔNICAS

OCEANO

Ou “no Brasil da pandemia”

Giovana Silvestri
Giovana Silvestri

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Eu não sei mais o que fazer. Tudo parece um grande rio de incertezas. Ouso dizer que na verdade é um oceano. Profundo, intenso e perigoso. Tem momentos que tudo me consome, e não sei mais para aonde ir. Números e mais números que tentam representar números de luto. Teve dias que eu sorria, teve outros que as trevas me consumiram por inteiro. O que há no horizonte do futuro? Sei que isso nunca saberei. É cientificamente impossível prever. Mas tento. Com uma vontade que me dilacera os nervos. Tudo isso só para tentar de alguma forma me sentir segura. Segura em um mundo de caos. Em um país do atual caos. Até quando vou ficar aqui? Até quando tudo vai parecer tão rarefeito? Como é impossível se sentir assim e ao mesmo tempo perto de tocar os céus? Ouvindo músicas mpb sei que este é o meu lugar. Esse Brasil diverso e colorido. O lugar que eu quero amar. Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Outro dia do que, Chico? Como conseguiu manter esperanças e arte durante a ditadura? Estamos vivendo uma ditadura de sentimentos. Reclusão. Medo. Pavor. Pânico. Ansiedade e muita depressão. Não só econômica, mas comunicacional e sentimental. Não aguento mais. A pandemia só deixou nítido o que eu já sabia: essa cultura que nos leva a beira do precipício. E eu faço parte dela. Faço parte dessa classe trabalhadora que luta constantemente para ter um minuto de paz enquanto há um plano para nós matar. Nos limitar. Nos redimir. Nos boicotar. Marx você entendeu tudo, só não deixou um caminho claro do que fazer. Na prática a revolução é o que? Queria poder responder. Até quando vou procurar nas palavras um refúgio para esse tormento? Até quando vou tentar encontrar alguém ou para culpar ou para me preencher? O caminho não anda sendo fácil e minhas pernas as vezes tremem de medo ao sentir as perspectivas desaguando nesse oceano. Nesse oceano de preocupações cotidianas que é viver no Brasil da pandemia.

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