CRÔNICA

SILÊNCIO

Ou “um único som sequer”

Giovana Silvestri
Giovana Silvestri

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Me faz um favor e me deixa quieta. Mas não se cale porque o silêncio carrega consigo as piores das interpretações. Uma parte de mim busca você e a outra ignora. Sei que aí tudo funciona parecido. Quando foi o momento que tudo isso desmoronou? Queria saber a data exata para contar os dias que me sinto assim contigo: ansiosa demais para ter qualquer perspectiva boa de futuro e perdida demais para não saber o que fazer agora. Nossa mas tudo isso é tristeza? Pode ser questões hormonais. Mas só sei que me sinto assim. Teria uma forma de mudarmos isso? Talvez esperar, o tempo passar, a vida mudar, visualizar um caminho diferente. É tanta gente equivoca e que faz mal uso da palavra, falam falam o tempo inteiro, mas não tem nada a dizer. Chorão estava certo. Ela não quis dizer isso, foi você que interpretou errado. Eu não falei X, mas você martela no Y. Ah que falta me faz uma comunicação efetiva e assertiva. Ah que anseio me dá essa ruptura cada vez mais latente nas palavras não ditas. Ah que ansiedade me corrói quando estou há dois meses na frente visualizando o colapso eminente. Tudo isso se passa um segundo na minha cabeça. Engraçado que como em silêncio eu estou explodindo em farrapos em menos de um segundo. Engraçado como a minha cabeça não sabe administrar o tempo e pronto: já consegui tocar o futuro distópico antes mesmo da utopia chegar. Respira agora se não o mundo vai desmoronar e isso não pode acontecer. Foi porque você disse aquilo daquela forma. Disse o que? Disse nas entrelinhas que tudo que faço parece errado, e eu não sei até quando vou aguentar ouvir isso por meio da sua fala calma. Prefiro que um silêncio me arme e me consuma do que te ouvir falar calmamente palavras que buscam me minimizar. Eu não caibo em você. Ainda bem. É ser estúpido, mesmo falando calmo e dando risada, com a intenção de ser estúpido, não tem como não ser estúpido. Só tenho a chance de provar para mim mesma agora que minha mente pode estar há três, cinco ou até mesmo oito anos na frente e isso faz sentido se eu tiver um bom plano para viver bem e daquilo que mais preciso: eu mesma. Mas é a ausência de palavras certas, é a calmaria da madrugada, é a hesitação antes de proclamar algo, é o olhar cabisbaixo evitando verdades, é a não resposta ao meu desespero e a rispidez de palavras duras ditas de volta que revelam o perigo de nosso silêncio. Hoje brinquei com a Siri só pra rir atoa e me apegar aos momentos pequenos de felicidade. Não havia como procurar algo além disso. É amando as coisas idiotas da vida que a gente aprende a ser feliz. É fugindo da ausência tóxica que achamos uma saída. É admitindo que as vezes o silêncio é violento, já dizia Twenty One Pilots, que a gente aceita a dor do vazio. O dia foi estranho, mas sigo com a certeza de algumas coisas: não somos mais os mesmos, tudo está sensível e abalado, não há escapatória da morte e, se quisermos viver felizes, precisamos nos lembrar que tudo passa, mesmo que seja tudo isso rodeado do não som, do chiado do rádio, do pane no sistema do celular que impossibilita a saída de qualquer barulho. O caos, a tristeza, a glória, o terror e o vazio. Tudo passa. E se não passar é como se nunca tivesse interferido, é como se fosse natural e normal, é como se fizesse parte de quem somos. Quando isso acontecer, partirei para bem longe, em busca da calmaria de um silêncio saudável. Porque aí estarei imersa na morte da música e assim estarei morrendo aos poucos por dentro. O segredo está aí: saber sobreviver diante de uma maré de pensamentos negativos e relações estreitas que uma hora desmoronam a um palmo de nós – sem propagar um único som sequer.

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