Durante os lançamentos dos novos carros, pilotos se manifestam sobre a “censura” da FIA

Com um novo Código Desportivo Internacional, a FIA impede que pilotos da categoria se manifestem durante as corridas

Giovanna Oriani (Gio)
Giovanna Oriani
4 min readFeb 24, 2023

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Giovanna Oriani

Bandeira da Federação Internacional de Automobilismo. Foto: Divulgação/FIA.

No fim de 2022, a FIA, Federação Internacional de Automobilismo, atualizou seu Código Desportivo Internacional para a temporada de 2023, trazendo um novo artigo que restringe manifestações de pilotos da Fórmula 1 em defesa de causas políticas, sociais, étnicas e ambientais. Segundo a FIA, o objetivo era que a competição tivesse tom de “naturalidade” tal qual outras organizações esportivas como a FIFA, o COI e até a FIBA.

A medida gerou controvérsias, principalmente dentro da Fórmula 1, cogitando se isso até não seria uma “censura” da FIA com os pilotos e as equipes. O CEO da Fórmula 1, Stefano Domenicali, se pronunciou ainda em 2022 quanto a decisão da Federação:

“Todo mundo quer ter uma voz, então ter esse espaço para dizer o que quer da maneira certa é o melhor caminho. Temos uma grande oportunidade por conta do nosso esporte estar cada vez está mais global e multicultural”.

O assunto voltou à tona durante os lançamentos dos novos carros para a temporada de 2023. Na live de lançamento da equipe Mercedes, o heptacampeão Lewis Hamilton, que virou um símbolo de defesa dos direitos humanos dentro e fora das pistas, se manifestou ao ser questinado sobre o assunto:

“Nada vai me parar. O esporte ainda tem a responsabilidade de sempre falar sobre as coisas, de criar consciência sobre tópicos importantes, especialmente porque estamos viajando para lugares diferentes”.

Lewis Hamilton vestindo uma camiseta do movimento “Black Lives Matter” em manifestação. Fonte: Divulgação/F1

Alguns dias antes, o atual campeão da competição Max Verstappen se manifestou durante o lançamento da RB19:

“Não acho que isso seja necessário, porque, de uma maneira ou de outra, você está se assegurando de que as pessoas não possam se manifestar mais, o que acho que deve ser permitido. Alguns vão falar mais, outros menos, mas foi desnecessário, sim”, concluiu o bicampeão.

Max Verstappen durante o lançamento da RB19. Foto: Divulgação/F1.

O jovem piloto da McLaren, Lando Norris, assim como os colegas, se impós quanto a decisão tomada e lembrou da importância da liberdade de expressão e como todos na Fórmula 1 já são adultos e tem discernimento para lidar com suas decisões:

“Nós deveríamos poder dizer e fazer o que quisermos. É isso que define as pessoas, o que nos cria, o que nos faz humanos. Nós não deveríamos perguntar sobre tudo e dizer ‘podemos fazer isso? podemos fazer aquilo?’. Acho que somos crescidos o suficiente para tomar decisões inteligentes."

Piloto Lando Norris. Foto: Divulgação/F1.

A categoria já chegou a trazer uma campanha sobre mais igualdade e diversidade dentro do esporte. O “We Race As One” (“Nós Corremos como Um” em português) foi introduzido em junho de 2020 por influência do piloto britânico, que já fazia esse trabalho fora das pistas, o projeto tinha como objetivo alertar o público e ajudar a combater o racismo e o preconceito contra a comunidade LGBTQIA+.

Em 2021 o projeto se manteve focado também na sustentabilidade, porém a categoria foi criticada por não seguir arrisca sua proposta, pois ainda mantinha a etapa da Arábia Saudita, país que é extremamente conservador e, por manter o piloto Russo Nikita Mazepin, que tinha sido envolvido antes de sua estreia em um caso de assédio no seu país. Ainda em 2022, antes de cada corrida, um espaço era reservado na frente do grid para que os pilotos tivessem tal liberdade para manifestação.

Pilotos antes da corrida em manfiestação ao fim do racismo. Foto: Divulgação/The New York Times

O ex-piloto Sebastian Vettel que deixou o grid no ano passado, assim como o britânico, também usava o esporte para se manifestar principalmente em causas ambientais, pediu que os pilotos não deixassem que isso os calasse e alertou sobre a importância de se manifestar:

“Isso (censura da FIA) é um absurdo. Acho que é absolutamente importante se posicionar em algumas questões, e vimos nos últimos anos que mais e mais pessoas estão se posicionando. Não faz muito sentido ir contra isso agora”, disse o tetracampeão.

Sebastian Vettel no GP da Hungria em 2022 em manifestação aos direitos da comunidade LGBTQIA+. Fonte: Divulgação/Motorsport.com.

Provavelmente o assunto virá à tona novamente durante a temporada, é preciso esperar as primeiras corridas para ver se os pilotos vão ou não acatar a decisão da FIA, a temporada tem início programada para o dia 5 de março.

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