Narcos F.C.

Vinícius Mussel
Go! Marketing Esportivo
5 min readNov 4, 2016

Nos últimos tempos, conhecemos melhor o emblemático Pablo “El Patrón” Escobar, através da série “Narcos”, uma produção original Netflix. Mas o que é exibido de relance nos primeiros capítulos da série é, na verdade, um fato importante na historia do futebol colombiano: a influência do narcotráfico no futebol do país durante a década de 1980. Apesar de toda a participação de Escobar no famigerado Cartel de Medellín, existe um outro lado na história. O colombiano sempre quis passar uma imagem boa para a população de seu país, e além de promover diversos projetos sociais, também usou bastante o futebol como ferramenta para firmar esta imagem. “El Patrón”construiu, além de estádios para seus dois clubes (Atlético Nacional e Independiente de Medellín), diversos campinhos onde foram formados craques, e foi por isso considerado pela população uma espécie de “Robin Hood Sul Americano”.

Apaixonado pelo esporte, Pablo investiu nos dois grandes clubes de Medellín, citados anteriormente. O Millonarios F.C. pertenceu ao seu rival Gonzalo Rodriguez Gacha, e o América de Cali era comandado pelos Irmãos Rodriguez Orejuela, do cartel de Cali. O ápice do sucesso de seu investimento foi quando, em 1989, o Atlético Nacional conquistou a libertadores. Para este feito, Pablo trouxe o então jovem e talentoso treinador Francisco Maturana. Com Maturana, o Atlético conquistaria em 1988 o campeonato colombiano e em 1989 a Libertadores, nos pênaltis, diante do tradicional Olimpia do Paraguai. O Atlético Nacional se tornou o primeiro clube colombiano a conquistar a taça libertadores.

Francisco Maturana, ex-técnico da Colômbia.

Nesse ano, contudo, a Colômbia não teve campeão, pois em 15 de novembro, após um jogo entre América de Cali e Independiente de Medellín, Escobar considerou que o árbitro tinha prejudicado sua equipe e mandou executar todo o quadro de arbitragem. O juiz Álvaro Ortega e um de seus auxiliares foram mortos perto do estádio. Com os últimos acontecimentos, os outros árbitros renunciaram, a FIFA exigiu medidas de segurança e as autoridades locais, sem terem como garantir tal segurança, foram obrigadas a cancelar todas as provas desportivas de 1989.

O árbitro Álvaro Ortega, assassinado após
desagradar Escobar em um jogo contra seu time.

Satisfeito com seu investimento, Escobar financiou o investimento da seleção colombiana para a Copa do Mundo de 1990 e obrigou a contratação de Maturana como treinador desta — lembrando que essa seleção tinha craques como Higuita, Valderrama e Rincón. No Mundial de 1990, os Cafeteros (como era conhecida a seleção colombiana) vinham fazendo uma brilhante campanha e chegaram até as oitavas de final. Em um jogo disputado, foi eliminada por Camarões por 2×1, com dois gols do eterno Roger Milla.

Colômbia na Copa de 1994: Rincón, Asprilla e Valderrama.

Em 1993, após emboscada da policia colombiana, Pablo Escobar seria morto, e o Cartel de Medellín, dissociado. Os traficantes remanescentes apostariam suas fichas na seleção de 1994 e se decepcionariam mais uma vez. A seleção seria eliminada logo na fase de grupos. Foi tido como culpado Andrés Escobar, zagueiro, capitão da Colômbia em 1994, e ídolo do Atlético Nacional.

Andrés Escobar foi assassinado dez dias
depois de marcar gol contra na Copa do Mundo de 1994.

Andrés Escobar, conhecido como “Cavaleiro do Futebol”, marcaria diante da seleção do Estados Unidos um gol contra que decretaria a eliminação dos Cafeteros. Um mês após a partida, em seu país natal, ele foi assassinado em decorrência dessa eliminação. Esse fato foi a ultima gota para uma intervenção da FIFA junto com autoridades para desvincular de vez a seleção colombiana de qualquer pessoa ligada ao tráfico de drogas. Foi o fim de uma época de terror, quando os cartéis mataram jornalistas, árbitros, policiais e dirigentes, além de subornar diversas peças importantes no mundo futebolístico colombiano, como juízes e dirigentes.

Filho de Pablo nega envolvimento de pai no futebol

Em entrevista recente para o GloboEsporte.com, Juan Escobar, filho de Pablo “El Patrón”Escobar, garante que todas as histórias envolvendo a participação de Pablo no futebol colombiano são lendas criadas em torno da figura de seu pai, embora anos depois do crime, um capanga do traficante tenha dito em um documentário que o assassinato do árbitro foi ordem do chefe.

“Nada disso é verdade. Já ouvi muito essas histórias. Meu pai não interviria no esporte dessa maneira, a esse extremo. Não utilizava sua violência para isso. É claro que ele foi responsável por centenas, milhares de assassinatos. Veja bem. Falar de um morto a mais não mudaria muito seu ‘currículo’, não se trata disso”– pontua o filho de Pablo Escobar.

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, Escobar torcia para o Independiente de Medellín, e não para o Atlético Nacional. Campeão de 1989 da Libertadores contra o Olimpia, o Nacional é o principal rival do time pelo qual o pai de Juan torcia. Outro esporte em que Pablo investiu foi o automobilismo. O que antes era um hobby acabou se tornando algo mais sério. Em seu livro, Juan conta que o pai comprou um Porsche do ex-piloto brasileiro Emerson Fittipaldi. No volante, ele nem sempre jogava limpo.

“Ele era fanático pelas ‘carreras de automóbil’, que era a Copa Renault. E era chamada de ‘Coca’ Renault, por óbvias razões”, diz o filho de Escobar. A maior parte dos corredores era narcotraficantes. Eram os únicos que podiam pagar para ter uma equipe, dois carros e todos os investimentos que a modalidade exigia.

Dica do Colunista

Para saber mais sobre a história de Escobar no futebol, recomendo o documentário “Os Dois Escobares”, que tem direção assinada por Jeff e Michael Zimbalist. O filme relaciona o narcotráfico e o auge do futebol colombiano.

FONTE: Alambrado — Record.xl — Globo Esporte — Portal R7

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