A era dos jogos de tabuleiro online

Leonardo Limberger
goblingeek
Published in
3 min readApr 16, 2020

Por que pagar 350 reais na versão física de um jogo, se deslocar para reunir quatro pessoas, perder tempo montando o setup e aprendendo regras, se a versão digital custa um décimo do valor, cada um joga no conforto de sua casa, já vem “montado” e ainda tem um tutorial?

Nesse período de isolamento social joguei pouco, algumas partidas com a minha namorada e eventualmente uma ou outra partida solo. Sentindo falta de jogar mais, recorri aos “jogos de tabuleiro virtuais”.

Terraforming Mars (2016) de Jacob Fryxelius. App disponível na App Store, Google Play e Steam.

Para quem não conhece, existem inúmeras plataformas e aplicativos para jogar jogos de tabuleiro de forma virtual. Existem sites com vários jogos, aplicativos de jogos para celular, jogos de tabuleiro na Steam, e muito mais.

Tive algumas experiências com diferentes programas destes e sempre que jogava sentia que estava faltando alguma coisa. Pensei muito sobre a carência de interação social, sobre como aquele jogo estava puramente mecânico, sem nenhum tipo de convívio ou contato.

Então decidi chamar meus amigos para jogar online com o auxílio da videochamada. Realmente, foi um upgrade na partida, senti que havia mais da tal interação social, mas ainda não me trouxe uma experiência completa e isso me deixou pensativo.

Como é que um jogo de tabuleiro me entrega mais em uma partida solo na minha mesa, do que o mesmo jogo com meus amigos em uma plataforma virtual?

Azul (2017) de Michal Kiesling

Depois de dias refletindo, lembrei de um podcast do Covil em que o Renato Simões fala do Azul, sobre como o jogo é uma grande produção, que até mesmo o som das peças naquele saquinho é agradável. Nesse momento eu tive um insight, identifiquei o que estava faltando para que eu tivesse a sensação plena de estar jogando um jogo de tabuleiro.

Infelizmente, aquilo que faltava, uma plataforma virtual não conseguiria me entregar. O simples ato de posicionar um tile, embaralhar cartas, mover um peão ou rolar um dado… isso tudo é insubstituível. Os jogos de tabuleiro são esse conjunto de mecânicas, pessoas e componentes interagindo para proporcionar uma experiência ímpar e incomparável.

Não é nenhuma crítica às plataformas, elas são extremamente práticas e funcionais, inclusive, neste momento de isolamento elas se mostram excepcionais. Este texto é apenas uma reflexão sobre as vivências e sensações que um jogo de tabuleiro entrega, que também é o motivo dos board games fazerem tanto sucesso em uma era sobretudo digital.

Por que pagar 350 reais na versão física de um jogo, se deslocar para reunir quatro pessoas, perder tempo montando o setup e aprendendo regras, se a versão digital custa um décimo do valor, cada um joga no conforto de sua casa, já vem “montado” e ainda tem um tutorial? Basicamente, porque o primeiro entrega uma experiência única que não pode ser substituída por uma tela.

--

--