Análise e questionamento da “luta contra a obesidade”
A pessoa com IMC acima do considerado ideal depara-se com diversos problemas ao longo de sua vida: problemas estruturais, sociais e de saúde física e psicológica.
Para começar a analisar este fenômeno, temos que esclarecer algo relativo a estudos e pesquisas: qualquer empresa ou pessoa física (médico, cientista ou não) pode fazer um “estudo” ou “experimento” ou “pesquisa”, mas a que citaremos nesse texto é do tipo que é aceito na comunidade médica como válida, ou seja, que toma como amostragem a quantidade de pessoas e quantidade de tempo suficiente para obter resultados sólidos e que tem uma margem de erro pequena para retratar o que ocorre na sociedade.
A maioria dos estudos e pesquisas que são mencionados na mídia não satisfazem esses parâmetros.
O sobrepeso e a obesidade se caracterizam pelo índice de massa corporal acima do estipulado como normal pela organização mundial de saúde e é uma condição que pode ou não estar associada a doenças.
As doenças associadas à obesidade também podem ser encontradas em pessoas com esse IMC dentro do ideal.
Nesta pesquisa é demonstrado que o sedentarismo mata duas vezes mais do que todas as “doenças relacionadas a obesidade” juntas.
Esse movimento “Saúde em qualquer tamanho” é feito por médicos e baseado em um conjunto de pesquisas e ações que demonstram que vida saudável independe de peso.
Essa pesquisa mostra que pessoas com um certo tipo de gene que diminui a quantidade de gordura corporal está mais propícia à doenças cardíacas e diabetes tipo 2.
Mas então por que existe a luta contra a “obesidade” e não a luta “pelos hábitos saudáveis” e “contra o sedentarismo”?
Vamos analisar.
Quem tem pais obesos e/ou infância obesa tem chance de ser obeso para o resto da vida independente de dieta e exercícios físicos e pode ou não desenvolver as tais “doenças relacionadas à obesidade”.
Apenas 20% das pessoas que emagrecem mantém o peso magro, 80% voltam a engordar, independente dos seus hábitos, pois o corpo humano por motivos de sobrevivência (desde a época das cavernas) está geneticamente moldado para voltar para o maior peso possível.
Então quer dizer que: uma pessoa gorda vai continuar gorda, pode emagrecer, mas muito provável que ela vá engordar de novo, porque o corpo dela é assim.
Quem lucra com a “luta contra a obesidade” e com o padrão de beleza exaltando as pessoas a terem o mínimo de gordura corporal possível?
Pessoas menores significam:
- Assentos menores em ônibus, aviões, trens, barcas e menor peso em relação à quantidade de pessoas, mais gente em espaços menores igual a mais lucro para essas empresas de transporte.
- Um padrão de móveis menos resistentes consequentemente feitos com material mais barato e assim mais lucro para as indústrias.
- Maior quantidade de assentos em restaurantes, cinemas, teatros e outros locais públicos, podendo acomodar mais pessoas em menores espaços e assim, mais lucro para essas empresas.
- Indústria de suplementos alimentares “emagrecedores”, shakes, chás, químicos e etc.
- Empresas especializadas em “emagrecimento”.
- Academias.
- Profissionais de saúde como nutricionistas, nutrólogos e endocrinologistas que encontraram no emagrecimento o seu ganha pão e são verdadeiras fábricas de receitar dietas e fórmulas que incluem misturas de anorexígenos, calmantes e laxantes, muitas vezes sem ao menos se preocupar nem com a ética médica.
- Agora veja a lista de indústrias e serviços que lucram com a associação direta de baixa gordura corporal com saúde, mesmo sabendo que apenas cerca de 20% das pessoas que procuram um “emagrecimento saudável”, mesmo mantendo sua dieta e rotina de exercícios, manterão esse peso baixo.
- Cirurgiões plásticos e cirurgiões de estômago (que fazem a bariátrica), anestesistas, instrumentadores cirúrgicos.
- Cadeias de lojas de equipamentos de exercícios, produtos “naturais”, shakes, chás etc.
- Celebridades que ganham dinheiro endossando tais produtos.
- Programas de televisão especializados no culto ao corpo.
- Programas de receitas.
- Indústria alimentícia de produtos “diet” e “light”.
Se houvesse apenas o foco na “saúde” e não na “perda de peso”, a maior parte dessas indústrias sofreria uma queda enorme no público e no lucro.
Então é lucrativo tanto para a indústria alimentícia que vende seu produto de forma quase sexual, atrelando seus produtos ao prazer, ao proibido e tirando totalmente o foco de “alimentação como combustível para viver”, quanto para a outra indústria que vende o emagrecimento como chave da felicidade.
Pois o culpado é o gordo.
É muito mais simples e lucrativo para toda essa rede bilionária continuar o padrão de associação direta entre a “obesidade” e doenças — que podem ser associadas a ela OU NÃO — do que esclarecer a população que o consumo de certos alimentos em excesso associados a um estilo de vida sedentário, independente do seu IMC, podem prejudicar a sua saúde.
Porque sem o objetivo concreto do “ser magro para ser feliz” teria que haver uma revolução total na maneira em que as pessoas pensam e que os produtos são vendidos, essa quebra de paradigma poderá causar um prejuízo enorme e até mesmo a quebra de indústrias e segmentos inteiros.
Portanto, o gordo continua sendo o vilão, o culpado, o preguiçoso e sendo estereotipado pela mídia como tal, para reforçar a ideia de que “gordo é ruim e magro é bom”, seja a custo da saúde física ou psicológica, negando às pessoas consideradas obesas direitos básicos como o direito de ir e vir, de entretenimento, de emprego e de ser tratado como ser humano sem o pré julgamento feito apenas no primeiro olhar de que ele é menos capaz, lento, preguiçoso, sedentário, tem falta de higiene e cuidados pessoais e incompetente e todos os estereótipos mantidos por toda essa rede apenas por ele ter mais gordura corporal.
E deixa as empresas e indústrias funcionando livres de culpa, anunciando seus produtos e lucrando, cada um em sua área.