Tinder

Robson Felix
Gotas de Prazer
Published in
4 min readApr 15, 2016

Madrugada. Sinto a solidão mal disfarçada, mascarada de autopiedade, envolvida em uma preguiça emocional imensa com gotas de crise econômica e política; que me fita à espreita. Nada me apetece. Só me resta a internet roubada do vizinho. Ou melhor, só me resta o Tinder. É isso ou o beeg.com, yourporn ou redtube. É, pode até ser… mas não agora. Meu pau arde e lateja após as vinte e tantas bronhas que eu já bati hoje. Desenvolvi algumas técnicas masturbatórias adaptadas dos movimentos do sexo tântrico, e as utilizo como exercícios sexuais solitários. São séries de várias repetições ao dia, para hipertrofiar o músculo PC e estimular a kundalini, visando o paraíso perdido do orgasmo múltiplo masculino. Por isso a quantidade exagerada de punhetas. Mas, isso não afasta o fato d’eu não estar comendo ninguém. Ao menos de forma fixa. (E vou te falar uma coisa… quando eu não estou comendo ninguém eu fico com um tesão danado. Nota mental: será que é assim com todo mundo?.) Eu até prefiro assim, sabe. Não sou muito fã de sexo e uma hora ou outra esse pequeno detalhe acabará com qualquer relação. Minha tesão não aceita muita carga emocional. Odeio quando chega esse momento de cobrança de sexo dentro de um relacionamento. Na real, me sinto constrangido quando alguém me pede sexo. Acho que deve ser assim com todo mundo. É um anticlímax. Sexo não se pede. Assim como não cabe implorar amor ou beijo. Aí eu meio que travo de vez e não rola mesmo, de jeito nenhum. Um bloqueio sexual criptografado se instala em mim.

Brinco com algumas fotos no Tinder que parecem preencher o vazio da solidão e ao mesmo tempo me fazer esquecer a ardência em meu pau.

Outro dia um amigo me contou sua estratégia no Tinder: dar like em tudo o que rolar no maior raio de ação possível em um amplo espectro de idade… like, like, like, like, like, like… quando cansa, ele passa o telefone pra alguém do trabalho continuar o serviço: like, like, like, like, like, like… depois é só peneirar a colheita conforme suas preferências (garimpando trans, homos, bizarros, e afins…), segundo ele, é foda certa! Não tenho tanta paciência, nem compulsão (ou dinheiro) assim para dar like indistintamente…

…opa! Deu Match: Blanka, 26 anos, 6km… pelas fotos, me parece um match bom!

E então vamos lá… o que vou falar? Sou péssimo em puxar o primeiro assunto… o que devo dizer de primeira? Nessa hora eu me sinto um impostor tentando me impressionar em uma competição de conhecimentos gerais sobre minhas próprias referências.

Espontaneidade zero:

Eu — Olá menina mulher da pele “blanca”, tudo bem??? Quando puder falar me chama, please…

(Opa… uma abordagem animada para disfarçar o tédio… [embora o excesso de interrogações e o trocadilho com o nome dela, em retrospecto, me incomodem bastante…] …acho que me saí bem!)

Ela — Olá…

Eu — tranquilo? Moramos tão perto e nunca nos esbarramos. Ah, o destino… atrapalhou?

(Aquele espirituoso/espaçoso/compulsivo…)

Eu — digo, atrapalho? Tá trabalhando agora? Pode falar? Quer falar mais tarde? Gosta de homens mais velhos?

(O passivo-agressivo/ansioso/tarado/compulsivo do tipo “trá-trá-trá-trá-trá…”, fazendo contato…)

Ela — olá. Gosto de vinhos e de homens mais velhos…

Eu — hahahahahahaha

(Riso nervoso… tá estranho, tá tudo caminhando fácil demais… de qualquer forma: me preparo para dar o bote…)

Eu — boa… eu moro no início de Copa, podemos marcar um vinho qualquer dia desses…

(Mentira… na pindaíba em que eu me encontro, vai rolar mesmo é um sangue de boi…e se rolar.)

Ela — sim, sim, claro… moro na Duvivier…

(“Show… dá pra ir andando”, pensei.)

Eu — o que você gosta de fazer?

(Caída essa pergunta… que porra é essa?, entrevista de emprego?…)

Ela — sexo…

(Não, ela não disse isso…)

Ela — kkkkk

(Sim, ela disse isso sim… preciso pensar rápido, preciso de uma estratégia… e pra ontem...)

Eu — opa, gostei disso… vamos nos falar no whats? Anota o meu contato 991…

(Eu animadão já, passando o número e pensando nos nudes que eu irei teceber… aquele clima gostoso de ‘já comeu” na torcida do “gatinho”…)

Ela — mas, tem o seguinte…

(Oi? Como assim? Eu sabia… tava fácil demais…)

Ela — você deve saber que eu recolho uma moral no encontro $$$…

Eu — eu te dou toda a moral que você quiser…

(Resposta errada e no melhor estilo “torta na cara”.)

Ela — não é isso… é que eu só saio de casa com cachê acertado…

Eu — e quanto vale o seu show, bonita?

(Pense rápido… passivo/agressivo/compreensivo/empreendedor/falido… e tentando esconder a decepção…)

Ela —ah, pra você é coisa pouca, merreca… e sem pressa, viu?… pode ficar tranquilo.

Eu — rola anal?

(Tentei… só pra encaroçar a negociação…)

Ela — anal é mais caro… duzentos e cinqüenta!

(‘Se depender do que eu tenho no bolso, não ganho nem um “abracinho””, refleti…)

Eu — show… tô indo pra SP amanhã à negócios e na volta te dou um toque… volto na quinta que vem…

(Encerrei o assunto mentindo de forma elegante, e tentando me manter por cima…)

Ela — aaaa… poxa!

Eu — quando voltar, falamos… prometo! beijos.

Ela — beijinhos…

E eu fiquei ali fumando um cigarro, olhando pro celular, tentando me lembrar qual foi a última vez em que botei os olhos em uma nota de cem pratas.

Duzentos e cinquenta reais?… ah, se seu tivesse essa grana… o que eu faria se tivesse duzentos e cinquenta reais?, refleti.

Bom, deixa pra lá… vida que segue…é melhor eu voltar logo pra NET do vizinho e completar minha série de ginástica sexual…

…deixa eu aproveitar enquanto a punheta ainda é grátis.”

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