Boa sorte, amor.

Texto de Gabriela Barros

Querido Júlio,

Tenho pensado muito nas consequências de dizer-te o que direi agora. Primeiramente, não é segredo que sempre quero que tudo seja perfeito. Que as coisas ocorram da maneira que imaginei, a fim de evitar fazer ou dizer algo fora do planejado. Assim, de um jeito ou de outro, vou fugindo de situações de confronto, distanciando-me do desconhecido. Quero controlar cada momento, fingindo que de algum modo sou uma perfeccionista, o que não é o caso.

Diante disso, ignorei os sinais de alerta que apareceram quando nos conhecemos. Sim, desde o início soube que não éramos tão compatíveis quanto as pessoas pensavam que éramos. Deveria ter agido para poupar-nos tempo, mas parte de mim queria provar-te algo. Pois, jamais havia conhecido alguém como você. Estava muito encantada, envolvida, queria que as coisas funcionassem entre nós.

A verdade é que no fundo estava com medo. Receosa com o que os outros pensariam da nossa relação, de que tomassem-me por tonta e inexperiente, alguém que não sabe aproveitar as oportunidades que aparecem no campo amoroso. Acima de tudo, tinha medo de perdê-lo. Pois o tenho em grande estima e não queria que minha recusa aos seus carinhos fosse entendida como um defeito ou maldade. Detestaria que saísse da minha vida.

Desse modo, lancei-me nesta jornada inusitada que foi a nossa paixão. Fui vulnerável e te contei coisas obscuras até para mim. Porém, não demorou muito para estes esforços tornarem-se insípidos. Minha mente foi acometida pelas mais desesperadoras dúvidas. Dessa forma, passei a postergar nosso vínculo, porque não confiava no meu comprometimento para contigo.

Não tento fazer-me de vítima ou afirmo que tudo desmoronou por sua causa. Já que, poderia ter lutado mais pela nossa felicidade. Como vês, eu não estava preparada para as nossas desventuras.

Percebi do pior modo que jamais haveria um tempo certo em que tudo seria como desejava, por mais que tentasse adiar, e tentei repetidamente, a hora de enfrentar meus temores aproximava-se. Então decidi resolver isso, e pôr um fim nessa existência falsa. Posso parecer rude, egoísta e inconsequente, destarte é o certo a ser feito.

Quero libertar-me das amarras do perfeccionismo, do círculo ilusório de afeto que insistimos em percorrer.

Boa sorte,

Carla.

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