O Alívio

Texto de Camila Magalhães

Photo by Travis Yewell on Unsplash

Justo quando o combo de atividades entediantes e notícias ruins na televisão parecia me sufocar, decidi respirar. Mas como seria possível cometer tal loucura? Era domingo à noite, eu não me permitiria pôr os pés na calçada de qualquer avenida movimentada do centro da cidade atrás de uma suposta diversão.

Decidi recarregar as baterias da forma que me pareceu mais adequada: ao som dos discos, rodados em minha vitrola cor de madeira envernizada. Assim, eu dançava leve, rodopiando pela sala de meu apartamento.

De súbito, me veio uma vontade de dar luz à uma dança de palavras no papel em branco sobre a velha escrivaninha. Não sabia o que escrever ao certo. Me permiti, naquele momento, vestir a face de escritora. Nem é minha profissão, mas uma espécie de bode expiatório para a alma. Trabalhar com algo que amo tanto talvez estragasse o sentimento que habita em meu peito.

Sentada no escuro do apartamento, tingi a folha com um desabafo sincero, sem floreios, que me lembro de ler na crônica de uma autora brasileira. “A vida é mais longa do que a fazemos”. Repeti aquilo para mim como um mantra. O porquê daquilo ter sido escrito por mim, era um tanto misterioso. Eu apenas precisava tingir o papel com a tinta da minha caneta.

Ao refletir o que minha alma escrevera, pensei que talvez sair em meio à avenida movimentada fosse uma boa opção, mas a verdade é que nada me faria mais feliz que aquele domingo à noite, comigo mesma ao som de uma melodia antiga. Como é feliz viver essa longa vida sem firulas ou frescuras. Sem máscaras.

Mas amanhã é segunda-feira…

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