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O Peregrino

Matheus Lima
Granulações com Clarice Lispector [1]
2 min readMar 14, 2021

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Sou peregrino, preciso andar, o caminho até minha pátria ainda está distante. Às vezes me pergunto porque é tão laborioso chegar até lá, seria tão fácil se me levassem de uma vez, se eu não tivesse que fazer esforço nenhum pra obter isso. Mas esses sentimentos vêm da minha fraqueza, eles me mostram o quão pequeno eu sou diante dos desafios. Por isso que eu estou pronto a continuar e apenas agradecer.

Nesse processo, seria fácil também murmurar, lamentar, me desesperar, mas por qual motivo eu faria isso se vou voltar para o nada, isto é, de onde vim. Não sinto as dores e perdas que este mundo, a pátria que me aguarda deixa-me anestesiado para estas coisas. Alguns almejam muitas coisas, planejam, desfazem planos, constroem projetos, mas alguns nem se dão ao real, ficam apenas no campo das ideias, eu, pelo contrário, sei que o meu futuro é real e eminente para todos.

Os nossos olhos famintos por espetáculos certamente ficam vorazes por consumir o futuro, mas este não se dá a conhecer. Eu prefiro não saber como minha pátria está, quero que o impacto seja contundente quando o observar pela primeira vez, eu preciso desse embate com aquilo que tanto desejei. Por enquanto, apenas vagueio nas minhas expectativas desta caminhada com um destino, mas sem uma data de chegada. Continuo peregrinando.

O que um peregrino tem a dizer? Tudo para mim é efêmero, as ações, reações, relações, ou seja, não há muito o que me prenda, que me cative, que produza em mim raízes, pois estou sempre me mantendo distante, a fim de que as coisas daqui não cativem e oprimam meu genuíno desejo de ser assunto à pátria celestial. Por isso prefiro me manter calado, sendo útil naquilo que puder, nos momentos rápidos a que sou exposto.

Alguns me elogiam por não sofrer, não me desesperar, não ficar aflito frente às decepções e frustrações deste mundo, mas não vejo nenhum mérito em mim nisso. O que vejo e reconheço é tão somente o sentimento de voltar a ter uma maior intimidade com minha pátria. Por este motivo eu declaro meu amor, meu sentimento profundo por aquele lugar que me gerou e que me fez um peregrino em busca de novos entusiastas da minha pátria.

Estou com saudade, quando será que vou? Como diz aquela canção: “Qual filho, de seu lar saudoso, Eu quero ir / Qual passarinho para o ninho, Eu quero ao céu subir”. Que bom que amanhã é domingo, é o dia que o sentimento pela minha pátria será alimentado pelo pequeno momento de vislumbre daquilo que me espera. Depois, a semana se inicia e eu continuo buscando converter novas pessoas para os céus, escrevendo as lembranças que desejo rever nestas páginas.

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