O tempo

Suyane Lima
Granulações com Clarice Lispector [1]
2 min readMar 12, 2021
Photo by Cristian Newman on Unsplash

Um aniversário pode ter significados diferentes para pessoas diferentes. Eu mesma nunca liguei ‘pro’ meu, mas fiz questão de bater um bolinho todo ano para cada um dos quatro meninos que coloquei nesse mundo. Hoje virarei sexagenária, parece palavrão, né? Mas não é não. E o tempo continua correndo afoito, passando tão rápido que nem sentimos. Ontem era menina brincando com boneca feita de sabugo de milho, carregando tamborete de água na cabeça e aprendendo a bordar. Naquela época, meu cabelo era grande e escuro, as marcas na pele não existiam e o corpo não doía. Brincava de subir nas árvores com meus primos, sorria ‘pro’ vento e vivia com os joelhos ralados. E era bom. Agora as coisas parecem ter se acalmado, porém, não sei dizer se é o mundo que diminuiu o ritmo ou se foi eu quem desistiu de acompanhá-lo. De tudo e todos, poucas coisas fizeram questão de ficar comigo nesse trajeto. As bonecas foram as primeiras a ir embora e depois a água veio encanada, o cabelo ficou branco, a pele menos elástica, a coluna também não é mais a mesma. Mas as agulhas, tecidos e linhas permaneceram e insistem em continuar me ajudando a bordar o mundo. E assim, eu continuo levando a vida, antes que ela me leve. Amém.

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