Possibilidades Infinitas

Isabelle Maciel
Granulações com Clarice Lispector [1]
2 min readMar 10, 2021
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Com uma xícara de café na mão, sentei no chão e encostei a cabeça na janela, observando o céu azul, praticamente sem nuvens. A sala da casa nova estava cheia de caixas e mais caixas, e mesmo com o suor pingando na roupa e a sensação de cansaço que fazia as pernas ficarem sem força, me sentia bem. Bem de verdade.

Pode até parecer bobo, mas uma casa nova, em um bairro diferente e até mesmo algumas roupas de cores que nunca usei, significam renovação para mim. A saída de um canto muito ruim para algo melhor, mesmo que ainda não entenda exatamente o que é esse “algo”. Eu havia chegado ao fundo do poço, sabe? Encostando as pontas do pé lá, não enxergando nada e entrando em desespero. Foram todos os sentimentos acumulados: o coração batendo mais rápido, o estômago embrulhado, as mãos tremendo, e o ar indo embora, mesmo que estivesse ali, me deixando lentamente, sufocando tudo. Então, no auge do desespero, eu pedi socorro, ajuda, a qualquer um. Caí no poço, me machuquei. Fiquei completamente sem forças, e percebi que aquele era o limite, a única saída seria literalmente sair.

Então fechei a porta daquela casa, girando a chave duas vezes para trancar bem. Fui embora, sem olhar para trás. Agora, com os pés sujos de poeira e o suor escorrendo no corpo, sinto algo. Sinto que finalmente estou fazendo algo para mim, apagando aos poucos todos os sentimentos que me faziam fraquejar, desacreditar de mim mesma. Diminui a marcha e estou indo lentamente, aproveitando a paisagem enquanto o tempo passa e os pequenos momentos que antes não existiam para mim.

Estou permitindo-me ouvir, escutar os anseios e os entender. Não fujo mais. Não fujo mais de mim, por mais que possa vir a doer uma hora ou outra. Afinal, se ignorar a dor e todos os turbilhões, eles nunca irão passar, só irão ficar escondidos, esperando até que me empurrem novamente no poço, sem nenhuma corda para me agarrar.

Boto alguma música aleatória no celular, e com o café em mãos, balanço de um lado para o outro, sorrindo para as novas possibilidades e do caminho que comecei a construir, pedaço por pedaço.

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