Pássaro, pássaros

Sarahmelo
Granulações com Clarice Lispector [2]
2 min readMar 18, 2021

Que sinfonia cor-de-rosa, este céu!

Um deles teria rido de mim por isso. Por vocalizar em brado tão grande beleza.

Mas sei que eles entenderiam, sei porque o fizeram no passado, no antes.

O vento não é tão mais frio sem eles aqui, porque ainda me fazem companhia.

Não falta muito para chegar àquele lugar.

Estariam lá? Não há como saber se estou atrasado demais, ou o contrário.

Já percorri tantas outras malhas verdes, tantas outras grandes rochas.

Não sei se devo ter pressa em terminar este ciclo, mas temo me tornar estranho a eles. Mas não poderia a pressa acabar nos separando mais?

Estariam à minha frente, ou atrás de mim?

Estariam em direção à noite, ou ao dia?

Os céus são extensos o suficiente para todos nós.

Já encontrei tantos que se parecem sem serem próximos realmente…

Mas eu estou aqui, aqui neste agora.

Eu tenho o meu presente e eles têm os deles.

Quem sabe… talvez, talvez se fosse estranho a mim o sentimento de compartilhar um tempo…então quem sabe…

Ainda assim sou capaz de olhar para o chão abaixo de mim, sou capaz de sentir o vento, de perceber o cheiro de madeira e de verde nele, e de agradecer pelos últimos raios de luz no hoje, que me permitem seguir adiante.

Afinal, a vida não conhece pausa. Nunca desde seu princípio.

Eles ririam mais uma vez, dizendo que penso demais.

Dividiremos um só presente!

Prometo do mesmo jeito que agradeci as cores do céu mais cedo: a quem quer que tenha ouvidos e a qualquer um que tenha cansado do próprio silêncio.

A delicadeza que me sustenta no alto já pede descanso.

Meus olhos finalmente alcançam a sombra fraca da grande rocha no verde.

Será desta vez?

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