Fragmentos de um Renascer
Por Dayse Cardoso em setembro de 2020
Percebi um luto quando este passou
Luto que relutei tanto em admitir
É que tava com tanta saudade de mim
Que fui correr atrás do lado de dentro
De tudo que tava atrasado posto de lado
Enquanto em estado de amor embriagado
Fragmentada em busca da totalidade
Agora já transformada
Não havia pra onde voltar
Mas reconhecer um novo lugar
Mal disse o nosso lar
Mas o maldito precisava ser dito
Desabafado sanado curado
Não … eu não tenho raiva desse ser
Sinto na verdade um afeto profundo
E um tanto a agradecer
Mas senti raiva do que me permiti viver
De como manejei a invasão ao meu mundo
Hoje compreendo que, de repente,
Era o que tinha que acontecer
Lidar com os sintomas da toxicidade
Não é algo fácil
O risco de ser incompreendida
E mais julgada ainda é um fato
Ainda mais numa sociedade doente
Carente do contato com o Sagrado
Mesmo com esse papo todo empoderado
Durante tanto tempo sendo forte
Não reconhecia mais meu ponto de suporte
A rede de apoio que nos inspira a viver
Mas sabe, sou meio kamikase
Procuro afetos que eu admiro
Que estão no meu convívio
Quem lida com as linguagens
com as quais simpatizo
Mesmo que isso seja difícil de compreender
E vou aprendendo com quem e como contar
Sabendo que sou responsável apenas pelo que emanar
Num período reservada
aparentemente calada
cuidando de mim, da cria,
dos estudos, da família
em meio a uma pandemia
veio um combo de cura
de tudo que me atravessava
enquanto me refazia
Agradeço as escutas empáticas,
As sinceras e as nem tanto assim
Tudo isso me fez recordar de mim
Não que eu não soubesse
Mas me desconhecia
E, um tanto arredia,
Como fera ferida me feria
Transitar do mundo sutil ao concreto
É um experimento complexo
E nessa refazenda
Aprendemos a fazer renda
E a se enAMORar