Pensamentos fotográficos meio mal humorados

Dayse Cardoso
Graphia de Luz
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3 min readJun 15, 2018

Fotografia, ipsis literis, é escrita da luz.Tecnicamente é alinhar velocidade, abertura do diafragma e o ISO com o objeto e a iluminação.
É apurar o olhar para enxergar a realidade com poesia. É transformar o simples em composto ou vice versa. É brincar com ângulos, enquadramentos, elementos… É poder iludir ou esclarecer.
É prender a respiração pra foto não tremer. É ficar em posições esquisitas pra capturar uma imagem. É marcar encontro com a luz de determinado horário em determinado lugar.
É sentir a lágrima cair física ou metaforicamente ao captar instantes belos e também os tristes, os injustos, os dramáticos, os trágicos, os vitoriosos, os históricos…
É ficar de banzo com a camera parada esperando… esperando…e (pelo menos na época da película) voltar sem um clique. É ser caçador.
É arriscar perder a vida (ou um olho) no meio de um conflito porque é preciso que alguém testemunhe e faça o resto do mundo enxergar. É ser julgado por quem não estava lá se além da foto houve ajuda. Nessas horas, lembra daquele principezinho que dizia que o essencial é invisível aos olhos…
É ouvir, desde que decide fotografar, que isso é um hobby muito caro ou, depois de tirar uma foto bacana, que a máquina é foda como se quem fizesse a comida fosse o fogão.
É respirar aliviado quando pode andar tranquilamente com o equipamento onde não corre risco de ser assaltado (meldels onde fica esse lugar? rs)
É correr atrás para manter seu equipamento “saudável” e ter que se atualizar continuamente pra melhorar seu trabalho e pra acompanhar a tecnologia que se esforça pra fazer as máquinas captarem o que só nosso olho e nossa alma conseguem.
É ser mal compreendido quando fala sobre questões relativas a créditos na imagem mesmo sendo (ou deveriam ser) óbvias.
É depois das fotos ter que selecionar, editar, organizar, entregar no prazo…
Claro que, como em qualquer profissão, ocorre a falta de ética e de caráter de quem a exerce. Mas não defina nunca uma pessoa por sua profissão.
Um fotógrafo irresponsável pode ser invasivo, agressivo e desrespeitar a Vida em sua individualidade e /ou coletividade e pode mesmo por em risco a vida de alguém. Pode ser um idiota que tasca um flash no meio do espetáculo correndo o risco de cegar momentaneamente o artista em cena além de atrapalhar os expectadores que estão ali pra ver o espetáculo. Ainda que os expectadores, ultimamente, não tenham sido os melhores com todas aquelas mãos levantadas com celulares em punho…
No mais acho que fotógrafo tem ser meio que nem gato com andar macio, se fazer invisível, e às vezes até enxergar no escuro… Traduzindo, procurar ser discreto mesmo que às vezes seja complicado com aquela parafernália na mão.
No mais a fotografia, como me disse um professor certa vez, é uma ótima válvula de escape.

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Dayse Cardoso
Graphia de Luz

Yoguini, reikiana, fotógrafa, mãe, investigadora em dança e palhaçaria e se arrisca em escrever.