Episódio 017 — Camarada, com Adelaide Ivánova
Em Camarada: um ensaio sobre pertencimento político, Jodi Dean apresenta uma teoria da camaradagem. A autora enxerga “camarada” forma de tratamento, figura de pertencimento político e portador de expectativas. Ao dar forma à relação política entre aqueles que se encontram do mesmo lado, “camarada” promete alienação e realização: libertação das amarras do capitalismo patriarcal racista e uma nova relação nascida do trabalho político coletivo em direção a um futuro igualitário emancipatório. Indo além de certa noção de política como convicção e escolha individuais, “camarada” aponta as expectativas de solidariedade como indispensáveis à ação política.
A poeta, tradutora, fotógrafa e camarada Adelaide Ivánova constrói muy gentilmente esse episódio conosco, direto de Berlim.
Comparecemos a reuniões a que talvez faltaríamos, fazemos trabalho político que possivelmente evitaríamos e procuramos estar à altura de nossas responsabilidades uns com os outros. Experimentamos a alegria da luta comprometida, a alegria de aprender pela prática. Superamos medos que poderiam nos arrebatar se tivéssemos de enfrentá-los sozinhos. Meus camaradas me fazem melhor e mais forte do que eu poderia ser sozinho.
Jodi Dean coloca que o problema fundamental da esquerda contemporânea é a sobreposição da identidade política a uma relação de pertencimento político que precisa ser construída, sustentada e defendida. E através da sua teoria da camaradagem, ela defende que “camaradas” são pessoas que se encontram de um mesmo lado de uma luta política, unindo-se voluntariamente por justiça, sua relação é caracterizada por disciplina, coragem e entusiasmo.
O camarada é o grau zero do comunismo porque designa a relação entre aqueles que se encontram do mesmo lado da luta para produzir relações sociais livres, justas e iguais, relações desprovidas de exploração. Sua relação é política, é divisora. E é íntima, entrelaçada com a sensação de quão desesperadamente cada um depende do outro para que todos perseverem.
Camarada chega primeiro às mãos dos assinantes do Armas da Crítica, o clube do livro da Boitempo, que todo mês antecipa um lançamento do catálogo da editora. Os assinantes do Armas da Crítica recebem em primeira mão o livro em versão impressa e e-book, brindes, marcador de páginas, adesivo, um guia de leitura exclusivo no Blog da Boitempo e um vídeo antecipado na TV Boitempo, as duas edições semestrais Margem Esquerda, além de 30% de desconto em toda loja virtual.
Material complementar ao episódio:
- pdf do artigo Capitalismo comunicativo, de Jodi Dean: segundo a autora, o capitalismo comunicativo nomeia a fusão entre democracia e capitalismo na mídia de massa personalizada, redes de telefones celulares, wi-fi, redes sociais e distração em massa, por meio dos quais veiculamos nossos sentimentos e nossas opiniões de maneiras que fazem nos sentirmos importantes, engajados, políticos. O capitalismo comunicativo impõe o cultivo da identidade individual;
- artigo Amor e revolução, por Ana Flávia Bádue, no Marxismo Feminista: onde tudo começou rs. Apresenta um resumos das principais contribuições de Jodi Dean sobre o tema do amor, inclusive linkando uma aula maravilhosa da autora sobre Alexandra Kollontai.
- programa do curso Feminismo Socialista, desenhado por Jodi Dean para um curso de graduação do departamento de Ciência Política do Hobart and William Smith Colleges (NY), traduzido e adaptado por Ana Flávia Bádue, do Marxismo Feminista (esse conteúdo é precioso demais!).
- podcast Left Business Observer, episódio com Tithi Bhattacharya (em inglês): sobre capitalismo, marxismo, feminismo, autocuidado, vibradores de madeira de reflorestamento kkkk e sociedade;
- site do Working Group Right to the City for All, movimento de diretos à moradia em Berlim, do qual nossa convidada Adelaide Ivánova faz parte;
- um pouco sobre os partidos de esquerda na Alemanha: aqui sobre o The Left, aqui sobre o “partidão” KPD, o partido comunista (em inglês);
- artigo Desmontar a arquitetura neoliberal, por Verónica Gago e Javiera Manzi, no blog da editora Elefante: das ruas às urnas: a eclosão que começou com estudantes pulando catracas contra o aumento da passagem do metrô se consolidou com o triunfo de candidatas feministas, ambientalistas, indígenas e de esquerda que terão a difícil tarefa de derrubar a arquitetura constitucional promovida pelo neoliberalismo como a chave do sucesso em toda a região.
- no Lavra Palavra, uma boa reunião de artigos da própria Jodi Dean traduzidos para o português: Derrubar tudo isso é possível (entrevista); Ruina ou revolução; O sujeito da revolução; Nós, não eu (se for pra escolher um, leia esse aqui!); EUA: por um novo partido comunista;
- no blog da Boitempo, Silvia Federici, a exploração das mulheres e o desenvolvimento do capitalismo: Jodi Dean escreve sobre da italiana e reforça que sua obra é essencial para compreendermos como a consolidação do sistema capitalista dependeu da subjugação das mulheres, da escravidão e da exploração das colônias.
- artigo de Jodi Dean Precisamos de camaradagem, na Jacobin Brasil: por muito tempo, a retórica individualista do “autocuidado” eclipsou nosso senso de trabalho coletivo em busca de objetivos comuns. A camaradagem tem a ver com nossa responsabilidade uns pelos outros — e nos torna melhores e mais fortes do que jamais poderíamos ser sozinhos.
Esse é o GRIFA PODCAST: aproximando teoria feminista da prática revolucionária cotidiana, em todas as plataformas de streaming.
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