Episódio 019 — Louise Bourgeois e os modos feministas de criar, com Gabriela De Laurentiis

Isadora Attab
grifapodcast
Published in
4 min readDec 1, 2021

Louise Bourgeois e os modos feministas de criar é o trabalho da pesquisadora e artista Gabriela Barzaghi De Laurentiis, resultado da pesquisa de mestrado realizada na Unicamp e publicada no Brasil pela primeira vez em 2017, com tradução espanhola em 2020 (No Libros). Desta vez, o trabalho retorna ao público nacional pela editora parceira Sob Influência em novo projeto gráfico e novo posfácio, assinado pela professora Ana Paula Simioni (USP), além de contar com as apresentações originais de Edgard de Assis Carvalho (PUC-SP) e prefácio de Patrícia Mayayo (Universidad Autónoma de Madrid). Este é o financiamento coletivo para a publicação do livro.

“Para mim a escultura é o corpo. Meu corpo é a minha escultura”. Essa frase de Louise Bourgeois, uma das epígrafes do livro, explicita muito daquilo que Gabriela Di Laurentiis nos apresenta ao longo de seus 3 capítulos. Neles, é o fazer artístico e o fazer a si mesma que emerge pela análise detalhada do trabalho de Louise Bourgeois. Indo além de definições estritas e conclusivas do que seja o feminismo ou, mais ainda, a arte feminista, a autora mostra que o trabalho da artista permite a expressão da experiência de muitas mulheres., para além das concepções identitárias estabelecidas.

Formas arredondadas, paisagens corporais, maternidade e paternidade, histeria, “ser mulher” e devir-animal; todas essas conceitualizações, materialidades, percepções, se conjugam na análise de Gabriela De Laurentiis de modo a dar forma a uma percepção e compreensão próprias da obra de Louise Bourgeois que, talvez, perpasse a história da arte, se entendemos essa como a convenção acerca das técnicas, estilos e formas expressivas à luz de uma sincronicidade temporal. Inclusive porque problematiza, a partir da forma própria da obra de Bourgeois, a noção de história da arte e do lugar da mulher artista em tal história, desafiando convenções e noções binárias e antitéticas por excelência, pares opositores que tradicionalmente refletem a hierarquização e normatização sociais modernas. Todos esses processos emergem na obra de De Laurentiis do mesmo modo que na obra de Louise Bourgeois: a partir de um trabalho profundo de invenção e reflexão sobre a complexidade de tal processo na potencialidade de nossos eus.

Louise Bourgeois opera, também, nesse sentido combativo e questionador ao travestir-se, provocativamente, com inúmeros seios ou produzir a destruição do pai. Como dito, são paisagens corporais criadas a partir de referenciais de confronto contra a cultura patriarcal. Nelas, a narrativa de uma história pessoal pode ser percebida, no entanto, sem se enquadrar numa chave confessional, mas, sobretudo, num movimento de transformação de si. É a pele que ganha novos contornos, que se expande, se desfaz, se refaz, articulando as novas formas do corpoescultura. Assim, é possível afirmar que a prática de narrar a si produz a quebra com a noção de uma identidade biológica inata, que tornaria as mulheres incapazes para a criação. A verdade se escancara: elas podem imaginar, inventar, formar e deformar imagens, em especial as suas próprias.

Operando com imagens culturalmente construídas, artistas como Louise Bourgeois produzem um enfrentamento contra os signos e os discursos falogocentricos. São nômades criando cartografias da subjetividade, inventando, de distintas formas, imagens de si próprias, que tensionam as identidades de gênero. Imaginando e criando, a artista expõe os silêncios e os discursos sobre os quais se funda a identidade feminina na modernidade. Elabora, assim, um repertório imagético em ressonância com as lutas feministas contra a cultura patriarcal, simultaneamente recuperando e desestabilizando as representações estabelecidas do feminino. Escava o passado, questiona o presente, desmascara as tecnologias de poder investidas em seu corpo. Ela alude às potentes e resistentes mulheres esquecidas pela história. Repete as imagens e os discursos que aprisionam as mulheres em identidades sedentárias, para que se desgastem e abram-se, então, possibilidades para a produção da diferença. Outro de si, outra mulher em combate. Escrever uma história de Bourgeois é aliar-se aos seus próprios movimentos, e traçar seus percursos estéticos e políticos é criar memórias sobre mulheres que numa atitude feminista não param de arrebentar tudo aquilo que as aprisionava.

Constrói esse episódio conosco a própria autora do livro, a artista e pesquisadora Gabriela De Laurentiis.

Material complementar ao episódio:

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