Como Encontrar um Propósito de Vida (usando Maslow e Ikigai)

Ramon Pedrollo Bez
Growth Hack Brasil
Published in
7 min readNov 5, 2019

Todo mundo diz que quer ser feliz, mas ninguém sabe direito o que isso quer dizer.

Não faltam teorias, aliás. A mais popular ideia de felicidade é a mais fraudulenta de todas: o materialismo extremado.

Não tem nada de errado em comprar coisas (embora ao escrever isso eu me pegue pensando nas ilhas de plásticos do oceano), mas felicidade não pode estar atrelada diretamente a ter dinheiro, carros, roupas e ainda por cima usar isso tudo para fabricar uma imagem de perfeição bizarra no Instagram.

Dinheiro e bens materiais são meios, não fins. Ter dinheiro pode ajudar, e certamente ninguém com fome e frio vai ter cabeça para pensar no sentido da vida.

É preciso um mínimo necessário para se estar confortável, ainda mais em um país como o Brasil, que não oferece quase nada de suporte na parte de baixo da pirâmide (abaixo).

Mas dinheiro também pode atrapalhar se virar um fim em si mesmo. E essa é uma das desgraças do terceiro mundo. Somos todos obrigados a lidar com economias doentes em que a nossa obsessão por dinheiro (justificável) se enraíza e nos mata (muitas vezes, a tiros mesmo).

A pirâmide de Maslow

Eu já me debrucei com certo afinco em algumas teorias de felicidade — e em filosofia em geral, incluindo alguns devaneios pela filosofia indiana e o daoismo chinês (sobre as quais já escrevi um pouco, e em inglês, para aumentar toda essa esquizofrenia).

Um asiático tem uma probabilidade 10 vezes menor de ser vítima de depressão e ansiedade do que um ocidental. Ou seja, tem algo sobre a maneira com que eles pensam que possui óbvios méritos (e certamente outros deméritos).

Mas quanto mais eu leio sobre algumas dessas ideias mirabolantes, mais eu acabo me desinteressando de “tiorias”, como diria o Belchior, e voltando à genial simplicidade da pirâmide de Maslow.

A pirâmide dispensa apresentações e, se tu é um brasileiro que está com a base da pirâmide sob controle, parabéns. Em um país como o nosso isso já é um feito.

Tu agora pode se dar o luxo de trabalhar na parte de cima da pirâmide, onde a mágica da felicidade acontece.

Aqui vem a segunda parte da desgraça de ser latino americano sem parentes importantes. Mesmo para nós, que colocamos nossa segurança e fisiologia em ordem – pagando preços exorbitantes em condomínio e plano de saúde para tanto, o processo de conquistar tudo isso nos consome de tal maneira que não sobra quase nada para o resto da pirâmide.

A maneira com que trabalhamos hoje, ineficiente, capenga e cheia de frustrações, exige esforço mental tal que a gente acaba tendo pouca ou nenhuma energia para fomentar nossa vida social, e muito menos buscar autorrealização.

Mas digamos que tu teve o mérito de organizar a base da tua pirâmide e quer mais. Como Raul Seixas, tu acha que deveria estar contente por ter conseguido tudo o que quis, mas agora olha abestalhado para a tua vida e se pergunta “e daí?”

Não tema. Tu tem ainda uma porção de coisas grandes pra conquistar. Basta liberar tempo e espaço mental (dica sem-vergonha: faça o nosso workshop e aprenda mais sobre como fazer isso) e focar no topo da pirâmide.

Como chegar no topo da pirâmide?

Como eu disse, ter um certo nível de dinheiro e bens materiais é importante, mas o topo da pirâmide em nada tem a ver com riqueza ou fama, como muita gente pensa ao ler a palavra “reconhecimento” ali.

Na maioria dos casos, ser famoso tem o efeito contrário. Destrói as relações pessoais e atrela tua autoestima ao nível de atenção que tu recebe. Quando a fama cai, os sentimentos de realização e estima despencam.

É quase impossível ser famoso e manter a sanidade. Se o Fábio Assunção já não é um aviso definitivo, talvez mais pessoas deveriam prestar atenção no que o Jim Carrey (que também anda meio louco) disse esses tempos:

“Gostaria que todo mundo fosse famoso e milionário para que percebessem que esse não é o caminho.”

O primeiro passo da escalada da pirâmide, o andar social, é simples: basta chamar os amigos para tomar aquele chopp que tu vive querendo marcar, ligar para os seus pais com mais frequência, passar mais tempo com os seus filhos (ou pelo menos passar mais tempo de qualidade com eles).

Ser brasileiro é nesse quesito uma vantagem, finalmente. De acordo com alguns estudos sobre felicidade, brasileiros (e latino americanos em geral) são na média mais felizes que pessoas de países desenvolvidos, mesmo com todos os nossos problemas, porque nós nos esforçamos mais para manter nossas relações pessoais.

Tendo a vida social e familiar em ordem, tu pode seguir subindo a pirâmide: a estima e autorrealização são os próximos degraus da escalada.

Essas duas partes da pirâmide são mais complicadas e estão diretamente relacionadas a ter um propósito na vida, afinal ser útil é mais realizador do que tentar comprar felicidade ou ser uma celebridade vazia.

Ao descobrir teu propósito e trabalhar nele, tu passa automaticamente a se sentir melhor contigo mesmo (estima) e a se dedicar cada vez mais a desenvolver suas habilidades e traços pessoais (autorrealização).

Projetos paralelos

A maioria dos empregos — os mesmos que nos garantem a base da pirâmide –pouco trazem em termos de oportunidades de se chegar no topo da mesma.

São trabalhos que fazemos para garantir nossa sobrevivência (e quem sabe sobra algum pro lazer), mas pouco contribuem para nos autorrealizarmos como profissionais e muito menos como seres humanos.

Nesse caso, uma das melhores maneiras de atingir autorrealização é começar um projeto paralelo. Eles te ajudam a ser mais útil para o mundo e, consequentemente, mais feliz contigo mesmo.

Além disso, um projeto paralelo que traz um dinheiro extra vai melhorar a tua condição no emprego oficial. Sem depender 100% no salário, tu pode te dar ao luxo de tomar decisões mais arriscadas, como se mover lateralmente ou até mesmo dar um passo “abaixo” na carreira para ter um “pay off” grande lá na frente.

O simples fato de ter uma retaguarda que te habilite a potencialmente mandar o teu chefe se foder, mesmo nunca o fazendo, muda completamente o jogo.

As relações profissionais não são tão diferentes assim das relações pessoais. Todos somos mais atraídos por quem parece ser mais autoconfiante.

Ikigai

Ikigai é um conceito japonês que combina ‘iki’ [生き], significado da vida, e ‘gai’ [甲斐], valor. É normalmente traduzido como “propósito de vida” e se refere à arte de viver uma vida feliz. E também carrega uma ideia de se pensar no futuro (sim, eu ainda estou interessado em “tiorias”, mas essa é útil, acredite).

A ideia é buscar atividades que considerem os quatro círculos acima, já que sentimentos de estima e realização estão intimamente ligados a:

  1. Fazer o que gostamos (dã)
  2. Fazer o que temos maior aptidão em fazer (e entrar em estado de flow)
  3. Construir algo que faça diferença em uma escala maior do que nós mesmos
  4. Ter uns pilas para gastar com lazer porque ninguém é de ferro

O primeiro passo é fazer uma lista de 5 a 10 coisas que tu gosta de fazer. Não te preocupe ainda se podem dar dinheiro ou não. A minha lista tem coisas como tocar música, construir coisas, escrever, trabalhar com tecnologia em geral.

Depois tu faz uma lista das habilidades em que tu faz bem. Pensa aí nas matérias que tu ia bem na escola, nos elogios que tu recebe no trabalho ou dos amigos (espero que tu tenha amigos melhores que os meus, que acham que ser amigo é passar o dia se xingando no Whatsapp).

O passo seguinte é fazer uma lista de coisas que o mundo precisa. Eu coloquei, por exemplo, coisas como: o mundo precisa de músicas melhores, lidar melhor com tecnologia, um estilo de vida mais sustentável, um sistema educacional mais ligado com o futuro.

Por último, pense em coisas que podem trazer dinheiro, por mais remota que seja essa possibilidade (estamos em fase de brainstorming então tudo vale). No meu caso eu escrevi coisas como criar cursos online, lançar uma loja online, fundar uma escola, escrever artigos no Medium, iniciar um canal no Youtube, fazer consultoria de marketing e growth…

Ao juntar essas quatro listas, tu tem material suficiente para ideias de projetos paralelos, sejam eles negócios ou não. Aí só o que resta é começar no que for mais plausível.

Uma das minhas ideias foi ser músico de rua, por exemplo. Duvido que eu consiga muito mais do que alguns centavos com a minha habilidade musical. E provavelmente não vou fazer isso tão cedo, mas a vida é longa. Quem sabe um dia?

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