Nomadismo digital, quero!
Em agosto de 2018 tive uma das melhores experiências da minha vida, viajar para o Canada e Estados Unidos com minha noiva. A princípio tinha dois objetivos com essa viagem: participar do SIGGRAPH como voluntário e tirar um período de férias. Foi assim que planejei a viagem enquanto comprava a passagem em janeiro desse ano.
Mas, como a vida é dinâmica e nem sempre as coisas ocorrem como o planejado, em abril enfrentei uma situação difícil onde trabalhava na época e cheguei ao ponto de pedir as contas o que me deu um certo medo, pois, ainda tinha contas para pagar e minha vida tinha virado de cabeça para baixo. Para resumir, dois meses depois eu consegui me estabelecer em um trabalho freelance dessa vez trabalhando remotamente.
Desde minha primeira semana busquei explicar minha situação com a viagem já programada e buscar entender como a empresa enxergava minha situação com o SIGGRAPH, afinal planejei a viagem antes de arrumar esse trabalho. Acontece que fui bem recebido por conta de meu voluntariado na conferência e a viagem podia acontecer, porém, não mais como uma viagem de férias e foi então que surgiu a primeira possibilidade de se fazer Nomadismo Digital.
Segundo o Wikipedia, “Nômade digital é um indivíduo que aproveita a tecnologia para realizar as tarefas de sua profissão de maneira remota e ao não depender de uma base fixa para trabalhar, conduz seu estilo de vida de uma maneira nômade.”
É um sonho de conceito e muito desejado pela minha geração que quer viver viajando. Pois bem, fiquei super animado e bastante ansioso (efeito colateral de três anos estressantes da minha vida). Comecei o planejamento: durante vinte dias iria trabalhar enquanto viajava e teria que equilibrar minhas horas de trabalho durante a conferência.
Organizei com meu time as datas de viagem e busquei ao máximo que meus deslocamentos ocorressem aos finais de semana ou à noite. Por conta de estar em um fuso horário diferente, acordava mais cedo para trabalhar (às 5 horas da manhã) e seguia com meu horário até o almoço, se não tivesse reuniões agendadas para o período da tarde, colocava a mochila nas costas e saía turistando, voltando para hospedagem o mais tarde que conseguia. Ao chegar trabalhava mais uma ou duas horas ou até terminar uma tarefa importante (o que me levou a uma noite em claro nos últimos dias de viagem).
Essa foi minha rotina: alternando trabalho e turismo sempre que possível. Foi uma experiência cansativa, porém fantástica.
Uma coisa que passou pela minha cabeça, foi que eu nunca tinha feito tal rotina e, obviamente, só a segui pois meu tempo de viagem era curto (e o dólar muito alto!) então tinha que otimizar todo os meus recursos: dormia pouco, comia barato (e mal) e vivia com pressa. Foi o preço pago pela inexperiência.
Eu teria feito tudo de novo se fosse possível, tenho consciência que estava fazendo o melhor que podia. Mas, para o futuro eu sugiro ficar atento aos seguintes aspectos:
Não ter uma rotina afeta sua produtividade
Durante a viagem fui muito difícil entrar no estado de flow e consequentemente demorei mais que o esperado em algumas das minhas tarefas, o que me dava uma sensação ruim de inutilidade e que às vezes me deixava deprimido, atrapalhando também meu turismo. Para isso dar certo, você tem que se comportar como um morador local e ter uma rotina saudável.
Boa alimentação é fundamental
Viver de fast food só porque é mais barato vai te destruir em qualquer lugar do mundo. Fiquei com saudade de comida feita em casa.
Descansar o corpo e a mente têm que fazer parte da rotina
Terminei a viagem extremamente cansado e ainda tinha que enfrentar mais de 20 horas de viagem de volta para o Brasil, isso foi um dos fatores para que eu não conseguisse entrar no estado de flow e acabou afetando minha viagem de um modo geral uma vez que precisava de bastante estimulantes (café!!!) para permanecer atento.
“Vou abrir o computador nesse Starbucks e trabalhar algumas horas” é uma ilusão
Comigo não funcionou. Internet lenta e muito barulho frustraram minha concentração e logo abandonei essa forma de trabalhar. Trabalhe de casa ou em lugares construídos com o intuíto de te dar uma sensação de estar no trabalho. Starbucks para ler e-mails e olhe lá.
No final, os contras são bem pequenos e fáceis de resolver com a experiência e eu definitivamente vou insistir no nomadismo digital no futuro, mesmo com o cansaço me senti contemplado com tudo que estava vivendo e ainda consegui trabalhar em um bom nível e extremamente motivado por conta da oportunidade que estava tendo.
O aprendizado que carrego dessa experiência é que, ser um nômade digital não é ser um turista enquanto trabalha, mas sim ser nativo em qualquer lugar do mundo não importa de onde venha, cidadão do mundo que trabalha sem fronteiras.