Polêmicas sobre Prod Ops: afinal, com quem concordamos?

Julie Cransac
Grupo OLX Tech
Published in
5 min readJan 4, 2022
Ilustração da polêmica sobre Product Operations

Quem é de Product Operations (“Prod Ops”), provavelmente, viu as polêmicas que rolaram recentemente sobre nossa atuação nas empresas de tecnologia. O encontro da Comunidade Brasileira de Prod Ops em dezembro 2021 foi sobre isso, vou contar um pouco mais aqui.

A polêmica

Trazendo o contexto, em outubro 2021 o Marty Cagan, guru de produto e autor dos livros referência em Produto Inspired e Empowered, publicou um artigo intitulado “Pessoas de Processo”. Neste artigo, ele traz à tona o crescimento de áreas de Product Operations nas empresas de tecnologia, com os seguintes ênfases (tradução livre por mim):

“Tipicamente em empresas de produto, existem dois tipos de contribuidores: os executores, e os gestores. Podem ter discussões sobre onde se encaixa o Product Manager, entre executor e gestor, dependendo da maturidade da empresa. Na última década, temos visto o surgimento de um terceiro tipo de contribuidores: as pessoas de processo. Processo não é necessariamente ruim, mas é perigoso. […] Em muitas empresas, a tendência nesta direção perigosa tem sido o surgimento de Product Operations (Operações de Produto). […] Acredito que eles têm boas intenções. Mas na prática, podem fazer mais mal que bom.”

Marty Cagan elenca quatro razões pelas quais Product Operations, segundo ele, causam danos às equipes de Produto: falta de experiência das pessoas de Prod Ops, incapacidade de gestores a fazerem seu papel corretamente, paixão pelo processo e não pelo produto, riscos de estandardizar processos.

Melissa Perri não perdeu tempo e respondeu no mesmo dia, por Twitter e em seguida no seu podcast Product Thinking.

Tweet de Melissa Perri em resposta ao artigo de Marty Cagan

No podcast, Denise Tilles e Melissa Perri explicam por que discordam fortemente da visão do Marty Cagan caracterizando Prod Ops como simplesmente “pessoas de processo”. Prod Ops ajuda organizações a escalar, e ajuda times a informar, implementar e monitorar suas estratégias de produto. Melissa Perri sempre traz um olhar sobre Prod Ops com três pilares:

  1. Insights sobre dados e negócio
  2. Pesquisas de mercado e com usuários
  3. Processos e práticas

Quisemos aprofundar essas distinções de visão sobre Prod Ops, no nosso encontro da Comunidade.

O entendimento da Comunidade sobre a polêmica

O resultado do brainstorm da Comunidade sobre as polêmicas

Identificamos os seguintes riscos sobre escopo de Prod Ops, concordando em parte com as colocações do Marty Cagan:

  1. Existem riscos de processo pelo processo. Os processos são feitos para ajudar a companhia a escalar, porém não podem travar ou engessar o desenvolvimento de Produtos.
  2. Pessoas sem experiência ou interesse em Product Management podem, ao ingressar em Prod Ops, trazer metodologias ou processos que não combinem com a companhia.

Em contrapartida, enxergamos o seguintes pontos como ajudas fundamentais que Prod Ops traz em empresas de produtos de tecnologia:

  1. Quando a área de Prod Ops implementa algum processo, é realmente voltado para ajudar a companhia a escalar. Um exemplo simples é a questão de roadmaps e modelo operacional: sem algo minimamente homogêneo entre os diversos times / tribos de Produto, surgem diversas formas de elaborar planejamentos e roadmaps, e a falta de linguagem / formato único atrapalham a eficiência das decisões.
  2. Trazer algumas orientações sobre documentação de Produto é também um elemento que ajuda a trazer maior eficiência para escalar: definir ferramentas e principais expectativas de documentação — de novo sem burocratizar!
  3. “Processos e práticas”, o terceiro pilar de Prod Ops na visão da Melissa Perri, pode abrangir uma atuação extremamente ampla. Por exemplo, um processo que permite apoiar o crescimento e a velocidade de entregas do times de produto, é o Onboarding de novos colaboradores. Em certas empresas, Prod Ops abraça este processo, permitindo assim que novas pessoas cheguem mais rapidamente à velocidade de cruzeiro. Ou seja, um processo é repensado a partir da identificação de um problema cuja resolução pode ajudar o crescimento da empresa.
  4. Reforçamos que Prod Ops tem um papel fundamental de facilitação: não para engessar ou travar ou impor processos, e sim para empoderar times e permitir que foquem mais no produto e no usuário do que nas operações.
  5. Prod Ops ajuda a trazer fluidez e comunicação entre os diferentes níveis de hierarquia de Produto dentro da empresa.
  6. Disseminar a cultura de produto da empresa é mais um elemento que Prod Ops contribui, através de cerimônias e evangelização com todos os times. A atuação de Prod Ops se faz tanto a nível de Tribos/Ligas em conexões estratégicas, quanto a nível transversal envolvendo todos os times.

Fazer as perguntas certas

Esta polêmica permitiu provocar algumas reflexões sobre Product Operations, e trazer luzes sobre esta área que ainda é nova em várias empresas de tecnologia. Demonstrou que, apesar de ainda pouco conhecida, está ganhando forças e trazendo cada vez mais provas do seu impacto nas companhias.

E resumindo, o maior impacto de Prod Ops se faz através dessas três perguntas:

  1. Entendemos qual é o maior desafio da empresa, em termos de Produto, neste momento?
  2. Como em Product Management, estamos focando no problema, e não na solução?
  3. Procuramos sempre o equilíbrio, trazendo soluções que de fato permitam escalar os Produtos da empresa?

Em um artigo publicado pelo Marty Cagan (o 3° da série!) posteriormente ao nosso encontro, ele chega à conclusão que a definição ideal que ele defende, está alinhada com a da Melissa Perri — reformulada com as próprias palavras dele:

Insights quantitativos, insights qualitativos, ferramentas e evangelismo de boas práticas

Ou seja, afinal ambos concordaram.

Síntese das referências deste artigo

A Comunidade Brasileira de Product Operations

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