Sentidos de Segurança nas Interfaces do Facebook

Audiovisualidades e Tecnocultura (TCAv)
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5 min readNov 16, 2021

No dia 10 de novembro, ocorreu a banca de qualificação de doutorado da discente Roberta Fleck Saibro Krause. A pesquisa intitulada “Sentidos de Segurança nas Interfaces do Facebook’’, orientada pela professora Dra. Sonia Montaño, contou com as considerações dos professores Dr. Gustavo Daudt Fischer e Dr. Ronaldo Cesar Henn.

Ao apresentar sua proposta, Roberta expôs o processo de construção da pesquisa, iniciada ainda no mestrado, e que segundo ela tangibiliza a sua maneira de encarar a história e a relação entre presente, passado e memória. Esse movimento a fez considerar perspectivas como as arqueologias das mídias, que visa refletir sobre as descontinuidades e rupturas das mídias, e que está presente na forma que ela tensiona o objeto.

A discente explicou como a proposta da tese foi sendo reformulada a partir do Seminário de Tese, do qual participou ainda em 2020. Foi a partir dele e pelas provocações feitas pelos professores, que começou a repensar seu tema, na época considerado como as atualizações do estado vídeo na contemporaneidade, tecnocultura e apropriações do vídeo nas redes sociais.

Foi assim que voltou à uma coleção de captura de telas, onde a pesquisadora começou a perceber a potencialidade da sua pesquisa. Não somente a ida à essas capturas proporcionaram essa visão, mas também inferências a partir de autores como Peter Krapp e mais adiante Zygmunt Bauman, que propunha perceber sensações de proteção das imagens de interfaces de ameaças externas, dando a ver as ambivalências entre estar numa comunidade segura, ao mesmo tempo que se renuncia a liberdade. Nesse sentido, e a partir dessas reflexões, Roberta passou a olhar para os sentidos de segurança construídos nas interfaces do Facebook, que perpassam pela construção de imaginários. Para ela, os sentidos de segurança ganham uma centralidade hoje, e portanto em sua pesquisa, podendo ser observados segundo a audiovisualização da cultura, como na vigilância urbana e governamental e outras iniciativas midiáticas como campanhas publicitárias e dispositivos tecnológicos.

A partir disso, seu trabalho foi tomando forma com o objetivo de compreender como os sentidos de segurança se atualizam nas interfaces do Facebook, considerando que eles se atualizam seguindo características próprias da interface e lógicas individuais inscritas dentro de uma tecnocultura. Baseada em alguns autores como Debra Shaw, Mcluhan, Fischer e os já referenciados anteriormente como Bauman e Krapp, constrói sua pesquisa a partir dos conceitos de tecnocultura contemporânea e tecnosegurança de dados, comunidade e papel da segurança da comunicação na tecnocultura.

Proposta metodológica

A sua proposta metodológica, que foi sendo definida pelo objeto, propõe ver seus movimentos como um itinerário, compreendidos no esquema visual abaixo.

A partir do primeiro e segundo movimentos, o flanar e o colecionar, olhando para as interfaces da plataforma do Facebook, Roberta explica que foi possível refletir sobre o tema da segurança dos dados e da estética do cuidado com o usuário. A partir da flânerie (Benjamin, 1986) nas interfaces da plataforma, ela agrupou duas coleções chamadas de territórios. A primeira, denominada de território do usuário, considera a interação restrita plataforma-usuário.

E na segunda coleção, território do Facebook, é possível perceber que assume o lugar de fala da plataforma.

No terceiro movimento, dissecar, foi feito o exercício inicial de dissecar as interfaces colecionadas, num espaço onde há ethicidades e enunciações relacionadas ao ambiente do Facebook. Nestes espaços, Roberta percebeu os diversos imaginários convocados, pois é nas interfaces que se dão os espaços onde “comparecem as tendências de softwares, dados e imaginários sociais’’. Assim, passou a questionar “que mundos haviam sido reconvocados nessas interfaces?”.

Na figura acima é possível perceber um ambiente feliz, colorido, como em um universo infantil, que é alicerçado principalmente no design das imagens e que formam associações e imaginários, presentes nas imagens apresentadas ao usuário. Essa estética pode ser pensada como atualizações de muitas memórias e imaginários construídos para e pelo usuário. Além disso, também há ideia desse universo no território do Facebook, visto na imagem abaixo,

Roberta explicou que a ideia da comunidade segura dentro do Facebook acontece a partir das tentativas da plataforma em manter o usuário nela por mais tempo. Esse sentido de segurança das interfaces então “perpassa diversos imaginários que estão alicerçados ao conceito de comunidade de Bauman”. Há uma tentativa de construção dessa segurança a partir desse ambiente alegre, da sensação de pertencimento, aconchego, do constante estímulo da roda de amigos que desperta esse senso de pertencimento, de comunidade. Para Roberta, “aspectos relacionados à privacidade e à segurança dos dados são preocupações do modelo de sociedade em que vivemos atualmente, e que de alguma maneira conferem ao Facebook um status de confiabilidade”.

Assim, como proposta que irá ser desenvolvida até a defesa da tese, pretende explorar a arquitetura da confiança da plataforma do Facebook que promete uma eficiência do segredo aos usuários. Para isso, propõe encontrar as molduras que constroem a segurança como ethicidade do Facebook, a partir do movimento de dissecação das suas interfaces.

A Banca

Para o professor Dr. Ronaldo Henn, a pesquisa possui consistência conceitual, processo metodológico complexo e relevância para os dias de hoje, quando há reflexões sobre a segurança e ao mesmo tempo, polêmicas acerca de vazamento de dados. Para o professor Dr. Gustavo Fischer, a tese já dá a ver assuntos importantes para a linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais, assim como para a comunicação de forma geral. Ele vê como grande desafio para Roberta, assumir que o enfrentamento dos materiais e a construção da problematização irão trazer potências investigativas para a tese. Assim, entre considerações e sugestões feitas pela banca, Roberta tem agora o desafio de processar o que foi discutido considerando os pontos importantes que foram colocados, para então seguir desenvolvendo a pesquisa até a sua defesa de doutorado.

Texto: Flóra Simon da Silva

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Grupo de pesquisa Audiovisualidades e Tecnocultura: Comunicação, Memória e Design (TCAv), vinculado ao PPG em Comunicação da UNISINOS.