Linha guia da carreira
Sobre plano de desenvolvimento individual, crises e caminhos.
Você já participou de entrevistas de emprego que perguntam: onde você quer estar em 5 anos? Acredito que a maioria que está lendo vai responder que sim. Em contrapartida, poucos diriam que já pararam para refletir de verdade onde gostariam de chegar nesse tempo. O que trago para refletirmos é exatamente isso: onde você quer chegar?
No ano passado, eu ainda morava em Porto Alegre e estava à procura de uma nova empresa para trabalhar em São Paulo — com isso, acabei fazendo algumas entrevistas. Em uma delas, perguntei à pessoa do RH como era o plano de carreira da área de Design dentro da empresa. E, apesar dela ter me falado algumas coisas nas quais eu não acreditava, teve algo que fez sentido:
O desenvolvimento da carreira do profissional aqui dentro é 50% responsabilidade da empresa e 50% do profissional.
Levando em consideração que tu também concorda com essa frase, eu gostaria que voltássemos à pergunta que iniciou este texto: onde você quer chegar? E agora acrescento: você sabe o que fazer para chegar até lá?
Quando olho para a empresa que estou, o Grupo ZAP, vejo que existe a construção dos 50% de responsabilidade empresa. E que os meus 50% estão relacionados ao plano de carreira, ciclo de desempenho e na verba educacional.
Ladder de Design
Ladder é como chamamos o nosso plano de carreira dentro do Grupo ZAP. Nesse documento são declaradas as expectativas da empresa pertinentes à técnica aos profissionais de Design. A ladder de Design é construída com o objetivo de ser perene e com a intenção de evoluir o profissional, que pode exercer um dos três papéis possíveis dentro da empresa: Product Design, Visual Design e Design Research. Dentro do ciclo de desenvolvimento de produto, temos 4 pilares: Identifica, Planeja, Executa e Mede; e é em cima deles que a nossa ladder é construída. Fazendo com que nós profissionais, independente do papel, tenhamos conhecimento e nos desenvolvamos para pensar em produtos digitais, e não em competências. Já os níveis de senioridade evoluem na régua do impacto gerado.
Ciclo de Desempenho
O ciclo de desempenho é uma avaliação 360 graus, em que eu avalio meus pares e líder — e eles também fazem suas avaliações sobre mim — assim temos clareza de como as pessoas observam o nosso fit aos princípios e valores da cultura. Nós somos avaliados a partir dos 5 valores que guiam a cultura do Grupo ZAP: Somos agéis, Transformamos, Agimos com cabeça de dono, Entregamos resultados e Estamos juntos. Nesse conjunto de princípios, valores e hábitos entendemos o que a empresa valoriza e tem como expectativa dos nossos posicionamentos.
Verba Educacional
A verba de educação tem o objetivo de dar condições para que as pessoas se atualizem ou desenvolvam novas habilidades. A idéia é que seja usada para desenvolver competências importantes para execução do trabalho no Grupo ZAP, podendo ser para atingir habilidades técnicas e comportamentais.
Primeiro contato
Pois bem, em um determinado momento meu dentro da empresa, me foi apresentada a ladder. Tu espera que a pessoa aqui fale que deu tudo certo, afinal de contas em nenhum outro lugar no qual eu havia passado havia uma declaração clara das expectativas técnicas e comportamentais da empresa sobre o meu trabalho. No entanto, não foi o que aconteceu.
No primeiro momento, eu não conseguia entender o que estava sendo esperado de mim, e por consequência não conseguia me ver no meu papel e no meu nível dentro da empresa. Em sequência, houve a devolutiva do ciclo de desempenho, na qual trouxe evidências que meu comportamento em alguns valores poderia ser ajustado. Vocês sabem no que isso acarretou? Uma grande crise existencial.
Quando me vejo nesses momentos de crise, costumo conversar um pouco com cada pessoa ao meu redor para conseguir ter diferentes visões e, de certa forma, pedir ajuda. Em uma dessas conversas, a pessoa me falou sobre o seguinte trecho de Alice no país das maravilhas:
Alice ao se ver perdida no bosque, se encontra em uma encruzilhada com vários caminhos a sua volta. De imediato surge o gato Cheshire.
O gato fala: Está perdida jovem criança?
Alice pensou e falou: “Poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar?”
“Isso depende bastante de onde você quer chegar”, disse o Gato.
“O lugar não importa muito…”, disse Alice.
“Então não importa o caminho que você vai tomar”, disse o Gato.
Quando ouvi isso, finalmente parei para realmente pensar onde eu gostaria de chegar, e o que eu queria fazer quando chegasse lá.
Autoconhecimento
Desde quando me mudei de cidade, venho passando por um período de autoconhecimento, o que me ajudou a dar o primeiro passo para sair da crise. Em paralelo a isso comecei a fazer o exercício de montar o meu ikigai, que é o nome que os japoneses dão para a “razão para ser”, ou seja, para o propósito de vida. Procurando como construir meu ikigai, me deparei com a frase:
Em geral, somos tão obcecados com o sucesso e grandes metas que a vida acaba se tornando intimidadora. O legal do ikigai é que você pode partir de coisas pequenas até chegar aos grandes objetivos de vida.
Com o auxílio dessa ferramenta, eu consegui evidenciar duas coisas:
Eu amo ajudar as pessoas ao meu redor — é o que mais me motiva diariamente. E eu sou boa em pensar soluções para os problemas.
E acontece que, no fim das contas, como Product Designer no Grupo ZAP é para isso que sou remunerada. Ainda não sei bem do que o mundo precisa, mas sabendo o que eu amo, no que eu sou boa, e pelo o que eu posso ser paga, acabo definindo uma boa linha guia para tomar decisões na minha vida.
Em paralelo a essa jornada pessoal, dentro da empresa eu compartilhava minhas angústias e questionamentos sobre a ladder com o Paulitcho (Paulo R. Floriano) e com o time de design. Trabalhamos juntos para que cada um conseguisse se enxergar e se entender na ladder e evoluímos o documento para que não hajam tantas dúvidas no futuro.
Elisa, onde tu quer chegar afinal?
Depois de me enxergar na ladder e entender como eu estava em relação aos princípios e valores da cultura, eu conclui que sabia onde eu estava e como eu estava. Mas então, onde eu quero chegar?
Bom, eu digo pra vocês: eu não sei qual posição, cargo ou empresa eu quero ocupar daqui 5 anos, contudo eu sei que eu quero estar ajudando pessoas e encontrando soluções para seus problemas. E é com base nisso que as minhas decisões serão tomadas, pelo menos durante um tempo.
Plano Individual de Desenvolvimento
Enfim, depois de saber o caminho que eu estava tomando, construir meu plano de desenvolvimento individual (PDI) ficou muito mais fácil. Essa ferramenta é usada dentro das empresas para nós profissionais propormos um planejamento de aperfeiçoamento das nossas habilidades. Esse plano é construído levando em consideração as expectativas da empresa, técnicas e comportamentais.
Dentro do nosso time de Design aqui no Grupo Zap, sempre pensamos que as nossas habilidades desenvolvidas nas atividades que realizamos estão relacionadas ao impacto que geramos. Ou seja, não queremos apenas saber como fazer algo, queremos que o que fazemos transforme as coisas ao nosso redor.
Enfim, o último convite que trago para reflexão é sobre como pensamos nossa carreira:
A metáfora mais usual de ascensão profissional é a escada, mas essa analogia não se aplica mais à maioria dos trabalhadores. (…) Pattie Sellers bolou uma metáfora muito melhor: ‘Carreira é um trepa-trepa, não uma escada’. A escada é limitante — a pessoa só pode subir ou descer. Já o trepa-trepa pode ser explorado de maneira mais criativa. Existe apenas uma maneira de chegar no alto de uma escada, mas existem muitas maneiras de chegar ao alto de um trepa-trepa.
E as crises, terminaram?
Eu gostaria muito de dizer que sim, mas sabendo a pessoa que eu sou, possivelmente logo mais estarei tendo outra. De qualquer forma, agora eu sei que tudo bem às vezes me sentir perdida ou sem clareza dos próximos passos, pois tenho uma linha para me guiar mesmo quando eu estiver no escuro.
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