Museus sobre a história e cultura negra

Christiane Odara
Guia Livre
Published in
6 min readNov 29, 2021

Confira a lista de Museus e plataformas virtuais que visam o resgate, e a preservação da memória da cultura negra.

foto: divulgação

MUHCABRJ — Museu da História e Cultura Afro-brasileira

Após quatro anos de existência apenas no papel, o Museu da História e Cultura Afro-Brasileira (Muhcab) foi inaugurado nesta terça (23). Localizado na Pequena África, o Muhcab é um Museu de Território e contempla lugares como a Escola José Bonifácio, a Pedra do Sal, o Largo São Francisco da Prainha e o Cais do Valongo, espaços com papel fundamental no resgate, preservação e revitalização da memória afro-brasileira.

O acervo museológico do Muhcab inclui itens de pintura e escultura de diferentes momentos da história carioca e de diversos momentos da história do prédio sede, desde sua criação como Escola José Bonifácio até o período que foi Centro Cultural e foi a gente em momentos da história do movimento negro do Rio de Janeiro. Inclui pinturas dos mestres Heitor dos Prazeres e Manezinho de Araújo, assim como de figuras como Nelson Sargento e artistas locais envolvidos com o Centro Cultural José Bonifácio.

Gerido pela Secretaria Municipal de Cultura, além das fotografias institucionais referentes ao período de atuação do Centro Cultural José Bonifácio, seu acervo fotográfico inclui ainda a coleção pertencente ao Centro de Estudos da Fundação Nacional de Artes Cênicas (FUNDACEN) e o acervo doado pela atriz Ruth de Souza.

Serviço

MUHCAB

Rua Pedro Ernesto, 80, Gamboa. Qui. a sáb., 10h/16h. Grátis.

Facebook: /muhcab.rio / Instagram: @muhcab.rio

http://www.rio.rj.gov.br/web/muhcab

foto: divulgação

IPEAFRO — Museu de Arte Negra

Após 71 anos, o Museu de Arte Negra sonhado por Abdias Nascimento ganha uma sede. Inaugurado no dia 13, o Museu de Arte Negra (MAN-IPEAFRO) é um projeto do Teatro Experimental do Negro (TEN) que se desenvolveu sob a liderança de Abdias Nascimento. Concebido a partir de 1950 para valorizar a arte, a cultura e a pessoa negra, combatendo o racismo estético, o MAN teve ampla adesão entre artistas e intelectuais brasileiros. Em 1968, aos 80 anos da abolição da escravatura, o MAN abriu sua exposição inaugural. No mesmo ano, o AI-5 mandou Abdias Nascimento, curador do projeto, para um exílio de 13 anos. Suspensas as atividades do MAN no Brasil, Abdias Nascimento seguiu cuidando do projeto no exterior. Em 1981 ele criou o IPEAFRO, que guarda o acervo, realiza atividades educativas e culturais, e atua no combate ao racismo.

A história do Museu de Arte Negra (MAN) confunde-se com a trajetória e a liderança de Abdias Nascimento (1914- 2011). Poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, ativista pan-africanista, professor emérito da Universidade do Estado de Nova York, Abdias Nascimento, também, foi Deputado federal, Senador da República do Brasil e Secretário do governo do Estado do Rio de Janeiro. Com diversos livros publicados e uma carreira nacional e internacionalmente reconhecida, foi oficialmente indicado ao Prêmio Nobel da Paz (2009). Fundador do Museu de Arte Negra e seu primeiro curador, como artista plástico, Abdias Nascimento contribui com pinturas próprias que integram o acervo MAN-IPEAFRO, e são o foco da primeira exposição em 3D e realidade aumentada.

O acervo documental e iconográfico de Abdias Nascimento é reconhecido no Registro Nacional do Brasil do Programa Memória do Mundo da UNESCO (MOW Brasil). O acervo também recebeu o registro de Memória do Mundo na América Latina e Caribe (MOWLAC).

Saiba mais https://ipeafro.org.br/

Instituto Memorial dos Pretos Novos (Rio de Janeiro)

foto: Diário do Porto

Inaugurado em 13 de maio de 2005, o Instituto Pretos Novos (IPN) é localizado na região portuária, exatamente na casa que está sobre um cemitério secular de negros vindos da África. Este achado arqueológico só foi descoberto em janeiro de 1996, quando os proprietários Petrúcio e Maria de La Merced resolveram reformar a residência e, ao sondar o solo para as obras, encontraram fragmentos de ossos humanos misturados a vestígios de cerâmica, vidro e ferro, entre outros. O fato foi comunicado aos órgãos responsáveis que enviaram equipes de profissionais que confirmaram a existência de um sítio arqueológico de grande importância histórica.

A casa, cuja construção data de 1866, passou a ser a sede do IPN e no local foi também instalado o Memorial Pretos Novos, que recebe muitos pesquisadores, estudantes e professores. Foram descobertos no sítio arqueológico mais de 5 mil fragmentos, nos quais uma profunda análise permitiu a identificação de 28 corpos, em sua maioria do sexo masculino na faixa etária entre 18 e 25 anos. No memorial estão expostos, além de painéis e fotos, ossadas e arcadas dentárias, artefatos do cotidiano e fragmentos diversos. Estudos mais detalhados continuam sendo feitos e toda a área do Sítio Arqueológico foi reconhecida pela Unesco e em breve será tombada. Em janeiro de 2016, serão comemorados 20 anos do Achado, com a realização do Seminário Internacional sobre Arqueologia e Museologia, além do lançamento de uma revista eletrônica.

O IPN é uma organização sem fins lucrativos criada para preservar a memória dos Pretos Novos, desenvolvendo também projetos educativos e de pesquisa que estimulam a reflexão sobre a história da escravidão no Brasil, além de divulgar e valorizar a cultura negra.

Serviço

09h às 16h — 3ª a 6ª sábados (agendar visitas guiadas e para grupos, por e-mail)

Site: http://www.pretosnovos.com.br

E-mail: anc@pretosnovos.com.br (visitas guiadas)

Museu AfroDigital — RJ

O projeto é uma iniciativa por parte da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e possui o objetivo de construir um acervo digital e exposições virtuais na busca de construção de uma memória para a comunidade negra.

A ideia é que a galeria digital funcione em uma perspectiva interdisciplinar como espaço de encontro e compartilhamento de saberes a respeito do legado africano e de afrodescendentes.

Entre os documentos que compõem o acervo são aceitos textos, poesias, medicina tradicional, fotos, gravações, partituras, jornais, etc., disponibilizados em exposições e arquivos. Entende-se que a digitalização da informação facilita a repatriação de documentos e dissemina outros documentos de difícil acesso.

CULTNE

A plataforma Cultne foi criada em 2009, a partir dos acervos de Enúgbárijo Comunicações de Ras Adauto e Vik Birkbeck e CP — Cor da Pele Produções de Filó Filho e Carlos Medeiros. A produção conjunta dessas duas produtoras chegam a mais de dois mil horas de vídeo, envolvendo manifestações culturais, políticas e sociais da população negra no Rio de Janeiro. O objetivo principal era convergir todos os documentos audiovisuais disponíveis, de relevância cultural popular, em especial a afro-brasileira, de modo a refletir para a população como um todo a magnitude da rica diversidade de expressões artísticas e intelectuais do segmento afrodescendente, que hoje representa a ampla maioria do povo brasileiro. Atualmente, grande parte deste material inédito, assim como audiovisuais de outras fontes autorais relevantes necessitam ser digitalizados, garantindo sua perpetuação e a distribuição em redes.

O canal Cultne na plataforma Youtube, lançado em março de 2009 reúne mais de 3 mil vídeos, tornando-se o maior acervo digital de cultura negra da América Latina, e o seu desenvolvimento vem se refletindo positivamente na autoestima da população negra que se vê representada com um expressivo conteúdo cultural. Além dos arquivos históricos, CULTNE hospeda novas e incessantes produções em vídeo da cultura negra brasileira.

Saiba mais: https://cultne.tv/

01.01 Artplataform

A 01.01 é uma plataforma de arte que oferece uma forma mais consciente e sustentável de adquirir arte contemporânea, com foco na produção da Diáspora Africana e Africana. Criado por artistas e curadores africanos/brasileiros, contamos com o apoio de instituições do Reino Unido (Bockantaj- Inglaterra), Portugal (Galeria ILHA DO GRILO -Lisboa) e Gana (Fundação Gana de Arte Contemporânea). Nosso objetivo é inverter antigas rotas comerciais de escravidão em um circuito de intercâmbio cultural promovendo formas justas de coletar e consumir arte. Diante das limitações relativas às ferramentas de leitura e experiência da arte contemporânea e sua relação com culturas silenciadas em todo o mundo, a plataforma 01.01 surge como um projeto onde o mercado de arte e seus componentes estão comprometidos em criar um novo ambiente global. Preocupadas em apresentar uma experiência sólida, nossas atividades possibilitam uma enorme circulação de obras de arte, artistas e conteúdo crítico gerando não apenas visibilidade, mas uma família selecionada e engajada de colecionadores.

Saiba mais: https://www.0101artplatform.com/

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