Lésbicas à frente com a banda Sapataria

Guia Maria Firmina
guiamariafirmina
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3 min readJul 3, 2019

Lesbianismo, punk rock, feminismo e empoderamento é o que define a Sapataria. Apenas esses adjetivos dão conta da potência da banda formada em 2016 por Marina, Dan, Zu e Isa, quatro mulheres lésbicas que, influenciadas pelos movimentos Riot Grrrl e Hardcore, cantam e gritam sobre suas vivências enquanto mulheres que amam outras mulheres.

“Eu tenho orgulho de ser sapatão, tenho orgulho de ser lésbica. Eu tenho orgulho de ser como sou”. Depois desses versos da música “Orgulho”, nem precisamos dizer que a banda levanta a bandeira LGBT e mostra que o L não está ali para enfeite, né?

O primeiro ensaio da banda foi dia 11 de setembro de 2016, e desde então a Sapataria vem marcando presença no cenário underground, em festivais feministas e eventos como a Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais — realizada tradicional um sábado antes da Parada LGBT de São Paulo.

“A ideia de formar uma banda só de lésbicas surgiu pra mim a partir de uma militância lésbico feminista que me abriu os olhos para invisibilidade na qual nós somos submetidas”, explica Marina, guitarrista da banda. “Quando reencontrei a Dan (baixista) e tentei convencê-la a formar uma banda não poderia ser de outra maneira: nossas amizades, afetos e ligações eram com e por mulheres lésbicas”.

Mesmo presente nesses espaços, muitas vezes a Sapataria é a única composta integralmente por mulheres lésbicas no rolê. “Estamos sim ganhando espaço, mas é uma constante luta. Apesar de parecer mais receptivo, o processo de esvaziamento ideológico que o Brasil vem enfrentando também reflete no meio punk e musical, no geral. É preciso se atentar a isso”, alerta Isa, baterista da banda.

A participação de bandas femininas fica restrita, quase sempre, ao cenário underground. “Os grandes festivais ainda relutam muito em abrir o line-up para as bandas de minas. Ao longo desse quase três anos fomos muito bem recebidas em vários eventos em que éramos a única banda feminina, mas isso nos faz questionar também porque só nós estávamos ali, sendo que existem várias bandas”, comenta Marina.

Dentro daqui parece que vou explodir. É tanta violência, e o desejo de fugir
Carta aos pais

A Sapataria lançou seu primeiro EP homônimo em junho de 2018. Nas seis faixas — Orgulho, Carta aos pais, AA Lourdes, Texto, Muito Tarde e MSB — somos presenteadas com músicas autorais, muito rock, solos de guitarra e batera. Nas letras, versos de dor aos pais que não aceitam suas filhas, às sogras que querem se livrar de suas noras e a todos que interferem na orientação sexual alheia. Há dor, mas há luta: orgulho de ser quem é, resistência para continuar existindo e amor, afinal, esse é o motivo pelo qual elas e toda a população LGBT luta e resiste diariamente.

Eu vou levantar, eu vou destruir, não vou apanhar
Texto

Ilustração: Ana Antonov

Um pouquinho da rebelião feminina punk rock do Riot grrrl

O movimento punk feminista começou na década de 1990 nos Estados Unidos, incentivando mulheres a se expressarem da mesma maneira que homens se expressavam há anos no cenário do punk rock. Patriarcado, sexualidade, racismo, empoderamento feminino, estupro e abuso doméstico são alguns dos temas mais frequentemente encontrados nos versos de bandas riot grrrl. Mas não ache que o movimento fica restrito à música: as riot grrrl apoiam iniciativas que unem arte e ativismo político (artivismo), zines e atividades do tipo faça-você-mesmo, para incentivar a independência feminina do capitalismo. No Brasil, a banda mais conhecida do movimento é a Dominatrix.

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Guia Maria Firmina
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Projeto criado para divulgar o trabalho de mulheres artistas. Por Taís Cruz e Victória Durães