Os vídeos documentais e militantes de Rita Moreira

Guia Maria Firmina
guiamariafirmina
Published in
4 min readAug 14, 2018

Em 1972, quando o movimento LGBT e a segunda onda feminista — articulado principalmente por mulheres lésbicas — eram assunto nas ruas de Nova York , duas brasileira com o primeiro modelo de câmera portátil produzida pelo Sony em mãos perguntavam o que homens, mulheres e estudiosos achavam sobres o lesbianismo e a maternidade mulheres lésbicas. Assim surgiu um dos primeiros (ou talvez o primeiro) vídeos documentários independentes feito por brasileiras. As pioneiras foram Rita Moreira e sua parceira Norma Pontes.

“Estava muito ruim para a gente aqui no Brasil [que vivia o período da ditadura militar], então eu e a Norma pegamos as nossas coisas e fomos morar em Nova York. Lá fomos uma das primeiras alunas da classe de vídeos portáteis da Fundação Gugennheim, com a qual pudemos realizar a série New School for Social Research . A Norma ganhou uma bolsa da Living in New York City”, conta a diretora e produtora de vídeos Rita Moreira. Também fazem parte série Living in New York City os vídeos She has a beard, Walking Around e The Apartiment.

De lá para cá, muitos outros vídeos foram produzidos e dirigidos por Rita, tanto de forma independente quanto remunerada. As temáticas sociais como política, racismo, questões de gênero e sexualidade sempre foram o foco do seu trabalho, e apesar da grande quantidade de documentários produzidos e muitos prêmios conquistados, Rita não se considera uma cineasta. “Eu não faço cinema, filme de película eu nunca fiz. Eu faço vídeos”, afirma.

Um dos trabalhos de maior destaque foi o documentário O vídeo recebeu mais de 12 prêmios, inclusive internacionais, e escancara a violência, o preconceito e os assassinatos de homossexuais em São Paulo e Rio de Janeiro nos anos 80.

Além das artes visuais, Rita é jornalista e se aventura pela literatura desde cedo, e já publicou quatro livros: Maria morta em mim (1962), A hora do maior amor (1965), Perscrutando o papaia (1999) e Coração de ontem (2015). Também escreveu para as revistas e , foi correspondente do resitente jornal e redatora nas editoras Abril, Globo e Time Life.

Hoje, aos 72 anos, a diretora se diz cansada e sem esperança em um Brasil melhor. Mesmo assim, recebeu o colheu na Guia Maria Firmina em sua casa exibindo o seu mais novo vídeo, que tinha acabado de ficar pronto: o documentário Caminhada Lésbica de 2018, no último dia 2 de junho. Mais uma vez na companhia de uma Panasonic portátil a artista levantou a questão da luta das mulheres contra o feminicídio e o lesbocídio. Caminhada Lésbica por Marielle, resultado dos depoimentos que

Grande parte da obra de Rita está totalmente disponível no seu canal no Youuube, desde o primeiro vídeo aos trabalhos mais recentes. Para que você não perca a oportunidade de conhecer e prestigiar o trabalho desta mulher que literalmente construiu e registrou o início dos vídeos independentes, selecionamos 5 trabalhos dela para você ver:

Lesbian Mother (1972)

O documentário registra depoimentos de mães que fogem do padrão heteronormativo em uma época em que era muito difícil as mulheres conseguirem a guarda dos filhos por estar fora do casamento. Imagine então sendo lésbicas. O vídeo também conta com a entrevista de Jill Johnston, autora do Lesbian Nation, primeiro manifesto lésbico separatista.

She has a Beard (1975)

Neste vídeo, Rita e Norma Pontes filmam uma mulher que deixa os seus pelos faciais crescerem e saí às ruas de Nova York perguntando o que as pessoas pensam sobre a barba dela.

Temporada de caça (1988)

A obra mais premiada da artista fala sobre a violência sofrida pela população LGBT no período da ditadura militar e redemocratização do país.

Aborto não é crime (1991)

Assim como o vídeo acima, este trabalho ainda expõe um contexto bem atual, apesar de ter sido gravado há mais de 20 anos. Neste vídeo Rita retrata a luta das mulheres pela a descriminalização do aborto no Brasil.

Caminhada lésbica por Marielle (teaser — 2018)

O vídeo completo ainda não está disponível, mas em breve estará no canal do YouTube de Rita, junto a todos os seus trabalhos. As próximas exibições serão no dia 26/08, às 14h, no Espeço Resistência — Rio de Janeiro e também no dia 26/08, às 16h no Juntá Arte Sapatão — Taubaté.

--

--

Guia Maria Firmina
guiamariafirmina

Projeto criado para divulgar o trabalho de mulheres artistas. Por Taís Cruz e Victória Durães