Sarah Roston: a música brasileira é negra

Martina Ceci
guiamariafirmina
5 min readJul 30, 2019

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Melodia, harmonia, ritmo, letra… Música é a melhor mescla de sons e silêncio. É natural, local e ao mesmo tempo universal.

Andamos na rua sem olhar para os lados, celulares e relógios nos guiam, tirando a atenção do universo de coisas que acontecem ao nosso redor… De repente ouvimos uma música, e pronto! Independente de preferências pessoais, uma melodia faz nossa mente parar e sentir.

Desde a pré-história a música é conhecida e praticada, a princípio sob a observação dos sons da natureza, que trouxe ao ser humano o despertar para os sons. A evolução artística e cultural de um povo é evidenciada também através da música.

Os sons do Brasil são um mix de elementos de diversas culturas como: europeia, indígena e principalmente africana, com a diversidade de ritmos, instrumentos e dança. Ainda assim as referências africanas na arte sempre foram desvalorizadas pelos resquícios da escravidão que resultaram na estrutura racista do Brasil.

Conversamos com Sarah Roston, mulher negra, cantora e compositora que falou sobre seu trabalho, a essência da arte brasileira e muito mais!

Como a música chegou até você?
Sempre me expressei pela arte, sou formada em artes cênicas, mas a música me levou. Graças a Deus, porque isso é minha vida! Eu já sabia que seria artista, eu queria isso pra minha vida. Minha avó teve 19 irmãos, viviam no interior de Minas Gerais e meu bisavó levou um professor de música e todos aprenderam algum instrumento, a família toda é artística.
Já morei em muitas cidades e estados diferentes, mas quando voltei pra São Paulo, minha vida mudou, meu irmão também é músico, ganhou o Programa “Ídolos 2009”, ele me abriu muitas portas e de repente comecei a fazer muitas coisas legais na música. Eu já participei do Na voz delas, do Canal Bis e do Cruzeiro Chilli Beans.

E como é seu olhar como uma mulher, negra e artista?
No Brasil, tudo se mistura demais, e São Paulo é outro Brasil. Tudo é mais visível. Os meios artísticos que iniciei aqui são extremamente brancos e elitistas, eu estava fora da caixa, no sentido de não me sentir à vontade com as minhas expressões. As expressões artísticas negras são mais maiúsculas. Tudo que é negro celebra e a cultura brasileira é isso!

E o ‘ser Mulher negra’?
Ser uma mulher negra, pra mim é uma possibilidade de afronte… De afrontar com a minha arte, com a minha voz. É uma felicidade, mas uma grande responsabilidade. Ainda é uma descoberta, eu não sou uma negra retinta e em alguns espaços, quando convém eu sou aceita e quando não convém eu não sou aceita, mas quem me valida sou eu.O papel da mulher negra é ser o que quiser, falar o que quiser, transgredir tabus…Botar a cara no sol, a voz no sol, IMPRIMIR!

Cite uma música marcante para você
Eu comecei cantando na igreja, né?! Muitos artistas se revelam na igreja e várias músicas marcaram minha vida mas O morro não tem vez cantada por Elis Regina abriu muitos caminhos pra mim, eu cantava nos saraus, colocava meu coração pra fora, na bandeja…

Ser uma mulher negra, pra mim é uma possibilidade de afronte… De afrontar com a minha arte, com a minha voz.

Como é seu trabalho autoral?
Compor é se permitir, é ser protagonista das próprias ideias. Eu tenho algumas composições minhas e também com meu irmão… E quando eu decidi lançar um disco autoral, que será lançado em breve, no máximo dentro de um mês, encontrei um parceiro incrível, Ed Cortez e nós decidimos começar o processo de composição e arranjos do zero, começamos a compor juntos.

Como será o EP?
O EP terá 04 músicas, todas com versões em inglês e espanhol. Uma delas é muito especial, se chama Eu incomodo, é um funk falando de funk. Acho importante falarmos disso, um estilo que nasceu no Brasil, e entender o que ele revela e incomoda socialmente. Mas tem outras faces também, um pouco da música preta brasileira, porque eu sou muito brazuca e tem as referências gringas. Meu álbum serão faces minhas.

Você participa de outros projetos… A Orquestra Jabaquara e a Gira Projeto, certo?

Na Orquestra Jabaquara é uma Big Band e lá eu faço muitas coisa que sempre quis… é um som incrível, músicos incríveis e nós lançamos um álbum inteiro, é um sonho que eu realizo estando com eles.
A Gira Projeto é um movimento de mulheres e veio em um momento muito especial. Tem mulheres de vários ramos e a ideia é reunir mulheres empreendedoras, viajar em uma Kombi, trazer arte e discussões sobre empreendedorismo nas cidades por onde passarmos. E é incrível, uma troca surreal!

Quem são as suas referências na música?
Ser criada no Brasilzão é ser formado por um pouco de cada artista… Do que viu, do que ouviu. O Samba é uma escola.
Eu adoro a versatilidade de diálogo e de potência de algumas artistas, como: Elis Regina, Elza Soares, Alcione. Mas também sou apaixonada pela música sertaneja, o Funk pra mim é uma vanguarda, é muito brasileiro com muitas referências de tambores. O Pop também é muito importante.
Quando digo uma única pessoa, isso se restringe muito, mas uma referência de excelência internacional a Beyonce é um marco e Gloria Groove, pra mim é uma grande artista, tem identidade tem potência. São muitas referências.

As expressões artísticas negras são mais maiúsculas. Tudo que é negro celebra e a cultura brasileira é isso!

Siga a Sarah no Instagram: @sarahroston

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