Tudo Nela Brilha e Queima, a força da poesia de Ryane Leão

Guia Maria Firmina
guiamariafirmina
Published in
3 min readNov 15, 2017

resiste, preta
é o que sinto vontade de dizer
mais sei também que machuca
permanecer no fronte
de pé e armada
sei dos dias
que a gente quer colo
e mais nada
dos dias que a paz
não faz visita
dos dias em que
o aperto no peito grita
você me diz que parece
que vai quebrar
não deixe te fazerem esquecer
que nenhuma espada
pode te cortar
sua raiz tem profundezas ancestrais
é por isso que você já renasceu tantas vezes em tão pouco tempo
e seu coração é escudo
quem mantém viva
sua luta

O livro de estreia da poeta Ryane Leão, Tudo nela brilha e queima, traz poemas fortes da vivência de uma mulher negra e lésbica. Falando de amor, coração partido e relacionamentos abusivos, muitas vezes os poemas têm desfechos tão precisos que chegam a tirar o ar da leitora.

Ryane não é uma poeta que escreve para si, mas para todas as mulheres infinitas, e acredita que a poesia é um meio de troca que ensina sobre cura, amor, luta e mais uma porção de coisas. Para essa troca existir a autora conta com a identificação, por acreditar que a partir dela temos certeza que não estamos mais sozinhas. Em busca da sua própria identificação com o mundo literário, ela faz acontecer em seu livro tudo que não vê em outros, como os poemas de amor lésbico.

Apesar de ser o seu primeiro livro, Ryane Leão publica suas poesias há mais de dez anos em diversos blogs que já criou, em lambes e nas redes sociais. A maioria das poesias que estão no livro são inéditas para este projeto que a autora vê como uma vitória.”Uma mulher preta que publica um livro leva várias outra mulheres juntas com ela, é uma vitória não só ancestral como atual. Ainda mais no âmbito da poesia, para desconstruir esse pensamento de que a poesia é acadêmica, branca e feita por homens velhos”.

Nas redes sociais, Onde jazz meu coração é onde os seus poemas e lambe-lambes que saia colando pelas cidade são publicados cotidianamente. Além disso, ela também declama seus poemas em saraus e slams. O slam foi uma surpresa que descobriu há pouco mais de um ano, quando batalhou pela primeira vez do Slam das Minas SP.

“O Slam é um espaço onde a gente não se cala, onde a gente se sente confortável e tem coragem de dizer quem a gente é. Onde a nossa história importa, e as pessoas que estão lá sabem que ela importa e vão te ouvir. É um lugar onde a gente se fortalece, é onde a gente sabe que não está sozinha. É um espaço para literatura marginal eclodir, para as quebradas falarem o que passam e para essas mulheres que são tantas e tão diversas se abrirem e serem elas mesmas”, conta Ryane.

Entre poemas e rimas, Ryane Leão também é professora. Junto com uma amiga criou a escola Black to Black, que ensina inglês e cultura afro para mulheres negras.

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Guia Maria Firmina
guiamariafirmina

Projeto criado para divulgar o trabalho de mulheres artistas. Por Taís Cruz e Victória Durães