Ágiles 2016

Émerson Hernandez
GUMA-RS
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8 min readOct 19, 2016

Estive em Quito na primeira semana de outubro para o Ágiles 2016. A última vez que eu tinha ido a um Ágiles foi em Florianópolis, em 2009. Essa distância entre um evento e outro fez com que eu tivesse a impressão de estar participando pela primeira vez desse congresso. Eu realmente desconhecia a grande maioria dos presentes. Como as datas colidiram com o TDC em Porto Alegre, acabei sendo o único daqui a ir. Na verdade, enquanto estive na metade do mundo, achava que era o único brasileiro no congresso. De volta a Porto Alegre, acabei descobrindo que isso não era verdade.

Sendo o exército de um homem só, antes de sair pedi a meus colegas que me informassem quais sessões achavam pertinentes / interessantes / intrigantes / … e me mandassem essas sugestões por mail. A medida do possível, iria tentar priorizá-las nas minhas escolhas e relatá-las depois. Aliado a esse pedido, após o evento criou-se o marcador #LoQueAprendiEnAgiles2016 que foi amplamente usado em redes sociais. De posse desses dois motivadores, compartilho meu ponto de vista das sessões que participei, nesses três dias de evento. Tentarei ser breve em cada um dos relatos. Mais do que exaurir cada sessão, meu objetivo é apresentar um grande panorama do que ocorreu e eventualmente gerar curiosidade de mais informação daquilo que convier a cada um.

Keynote, com Jordi Falguera
O evento começou com o keynote sobre aprendizado. O principal ponto apresentado foi o “micro-conceito”, um pedaço de informação pequeno o suficiente para caber em repetições de até um minuto, como se fossem drops de sabedoria. Mais que o tamanho, foi interessante a ênfase dada na repetição, que me levam a compartilhar dois pensamentos fundamentais apresentados:

  1. Aprender > Compreender.
    O exemplo dele foi a própria conferência: é fácil ir às sessões e compreender tudo o que foi dito. Entretanto, o aprendizado real só acontece com a repetição desses conceitos, principalmente acompanhado de ações.
  2. Reter > Adquirir.
    A segunda figura apresentada com a qual me identifiquei foi o uso de workshops de apresentação de conceitos. Esse tipo de evento trás, muitas vezes, a falsa ideia de que uma vez executada essa sessão, o conhecimento está aprendido pelas pessoas presentes.
Facilitadores asombrosos, por Juliana Betancur

Facilitadores asombrosos: logrando mejores conversaciones, com Juliana Betancur

Pra mim foi a melhor palestra do dia. Os slides (ao lado) são super bem elaborados e fáceis de serem seguidos mesmo por aqueles que não estavam na sessão.

Para não fugir de uma metáfora futebolística, quando ela falava sobre liderança neutra, me veio a imagem abaixo.

Um bom facilitador é como um bom árbitro de futebol: não aparece e nem toma pra si o protagonismo do evento.

Créditos: Ahmed Sidky, Riot Games e ICAgile

Escalando el mindset ágil con Learning 3.0, com Rosalinda (Rox) Muñoz
A primeira palestra (de várias no evento!) a usar a figura do artigo do Steve Denning para a Forbes chamado “What is Agile?” como base para sua apresentação.

Relatou sua experiência com Learning 3.0, desde seu contato inicial com os conceitos até experiências mais práticas os utilizando.

Desarrollando ScrumMasters y Product Owners, com Angel Medinilla
Certamente o participante com o espanhol mais difícil de entender, já que falava com a frequência de umas mil palavras por minuto! Falou bastante sobre os dois papeis (SM e PO) e deixou alguns pontos bem interessantes para reflexão.

  1. Algumas vezes há uma troca de nomes do modelo antigo para o ágil. Aí, Scrum Master e Product Owners não são nada além de termos cosméticos. Alguém aí já viu isso acontecer?
  2. Foco em conversar sobre os problemas e não sobre as soluções, sejam elas mais simples (como reuniões diárias) quanto mais complexas (como SAFe). Esse ponto também foi bem reforçado na charla do Lucho, no segundo dia quando apresentou o Nexus: fale sobre os porquês e então evolua para os como.
  3. Duas boas metáforas para a blindagem de times ágeis foram as batalhas das Termópilas e a do Abismo de Helm. Principalmente pela primeira, dado o evento dos Persas que, chegando na retaguarda grega por um caminho direto, destruíram o exército espartano. Para ele, é exatamente o que ocorre quando um stakeholder consegue diretamente influenciar o trabalho de alguém e assim, minar as interações do time.

5 guías para crear Organizaciones Ágiles, com Luis Mulato
Por ter ultrapassado mais do que os 45 minutos iniciais, o Agile Coach colombiano usou também uma sessão de sábado para apresentar os 5 guias que se propôs. Além dos cinco itens (foto abaixo), friso outros fatores:

  1. Cocriação > Colaboração.
    Trazer alguém para uma reunião para ouvir a sua opinião é bom, porém menos eficiente do que efetivamente a construção colaborativa. Entretanto, não é a melhor solução para times sem a autonomia necessária para colocar em práticas as ideias cocriadas.
  2. Dividiu as transformações ágeis em dois grupos, por prescrição ou por descobertas. Focou bastante na segunda. Por mais que concorde que são mais aderentes à filosofia ágil, como agentes de mudança, não podemos tê-las como única alternativa dados os diferentes contextos que vamos encontrar nas empresas que atua(re)mos.
Fotos toscas tiradas com meu celular de trechos da apresentação de Luis Mulato.

Beyond Portfolio, com Jordi Falguera e Unai Roldán
Outra ótima palestra sobre as experiências dos apresentadores sobre o processo de transformação ágil que estão trabalhando na América Latina. Para eles, alguns dos principais destaques dessa experiência:

  1. Conseguiram fazer contratos ágeis com provedores que tinham prazo máximo de 3 meses de duração.
  2. Todas as suas ações foram diretamente impactadas por gestores que possuíam “agendas ocultas”. Um dos principais exemplos foi “como eu posso aproveitar a transformação para subir de posto?”.
  3. Em seu contexto extremamente hierarquizado, estratégias bottom-up não funcionaram.

Keynote, com Lori Leitgeb
No primeiro dia o congresso começou às nove. No segundo, às oito e meia. Por ter descoberto isso tarde demais, acabei perdendo o início do keynote que falou sobre equipes que acabaram se tornando independentes ao invés de autônomas e os problemas que esse tipo de movimentação acarretou para a empresa.

Nexus, com Lucho Salazar
Entrei na palestra com o ceticismo de quem ouve sobre framework de escalada ágil. O que vi foi uma apresentação bem peito aberto sobre essa ferramenta e, principalmente, uma boa reflexão sobre quando escalar ou não. Música para os ouvidos foi escutar o que muita gente tem esquecido:

“Se um time não funciona, simplesmente usar um desses frameworks, vai fazer tu escalares os problemas e não as soluções.”

Créditos: Johnny Ordoñez

Modern Agile, com Johnny Ordóñez
Johnny foi até o Agile 2016 em Atlanta e se encantou com o Modern Agile do Joshua Kerievsky. A partir daí criou uma apresentação para o Ágiles dos quatro pilares com sua visão particular sobre essa agilidade moderna. Para mim uma boa metáfora que ele utilizou foi a do equalizador de som para os balanços de organizações ou times ágeis, onde cada banda sonora é um atributo.

Teatrágil: “La Transformación de un Cuadrado a un Círculo”, com Renato Otaiza e Leo Barrientos
A ideia dos chilenos foi apresentar conceitos ágeis através de pequenas cenas retiradas de experiências reais intercaladas com análises sobre essas situações. Baita ideia que ainda vai dar muito pano pra manga.

Elefantes adoptando Agilismo… ¿Utopía o realidad?, com Rose Mery Restrepo
Essa foi uma das palestras que chamou bastante atenção de meus colegas que não foram, todos eles pensando que elefantes seriam as empresas. Realmente eram, mas a primeira pergunta da apresentadora queria gerar reflexão: “não seriam elefantes também as pessoas?”.

Dentro de sua experiência compartilhada nessa sessão, dois destaques:

  1. Eles possuíam marcos públicos com os quais balizavam o trabalho de transformação e assim adaptavam o trabalho;
  2. Eles possuíam um roadmap de times sustentáveis. Não havia um trabalho de criação de novos times se a empresa não tivesse capacidade de absorvê-los.
Créditos: Maica Trinidad

Espacios Agiles, com Maica Trinidad
A experiência de trocar o ambiente de trabalho fez com que a agilista — antropóloga de formação — pensasse mais a respeito da relação dos espaços modernos de trabalho. Pra mim o principal pensamento foi o impacto do “não-espaço” e suas superficialidade e efemeridade no resultado dos profissionais.

Um bom teste é olhar a figura do slide 14 e achar um espaço adequado. Mas ele não é! Então fica o convite para reflexão sobre as diferenças das casas do slide 6 e o impacto na vida das pessoas que ali habitam.

Empoderando equipos responsablemente, com Diego Rebolledo
Nessa sessão o chileno apresentou duas ferramentas do Management 3.0 e como usá-las: Moving Motivators e Delegation Board. Casualmente, o exercício com o quadro de delegação foi exatamente no formato que discutíamos para utilizar na próxima reunião da área.

Bienvenid@s, la puerta abre hacia adentro, com Martin Alaimo
Certamente o melhor dos três keynotes. Abordou muito os assuntos de cultura e liderança, ressaltando dois grandes aspectos:

  1. A cultura de um local é dada pelo pior comportamento aceitos pelas lideranças.
  2. Não precisa ser gestor para ser líder.
Martin Alaimo apresentando seu keynote, no terceiro dia do Ágiles.

Aliado a isso, usou a escala de Laloux para organizações, criando uma pilha (foto acima) com Liderança, Cultura, Sistema e Ferramentas. Com isso exemplificou e associou vários comportamentos (sempre através das camadas e das cores) a seu impacto em práticas ágeis.

Retrospectiva do Evento, com Thomas Wallet
Essa sessão foi responsável por co-criar as dinâmicas que seriam usadas na retrospectiva do evento. Após um pouco mais de uma hora, a estrutura que viria a ser executada foi:

  1. foram criadas bolhas de três integrantes que gravaram um vídeo breve com as coisas que gostaram do evento;
  2. duas burbujas uniram-se para formar um grupo que teve de criar uma pergunta intrigante;
  3. a pergunta era passada para o grupo ao lado que a responderia;
  4. ao fim, celebração coletiva

Formação de Agile Coaches, com Martin Alaimo
Essa sessão foi um pedido de um participante equatoriano que foi facilitada pelo argentino do keynote do dia. Com foco nos desafios atuais dos presentes, identificou-se um conjunto de conhecimentos necessários para atacá-los.

Agile HR, com Pablo Lischinsky
Essa sessão foi facilitada pelo uruguaio que se valeu da apresentação de Fabiola Eyholzer para guiar as conversas. Muita participação de todos com perguntas e trocas de experiências. Ao final, a criação de um grupo para os interessados falarem mais sobre isso além do evento.

Retrospectiva do evento

Voltei para casa extremamente satisfeito por ter ido ao congresso. Achei as palestras de altíssimo nível e as conversas pelos belos corredores do complexo Eugenio Espejo extremamente interessantes e enriquecedoras. Muito se falou sobre agilidade, sobre cultura e sobre resultados. Mas em algumas dessas conversas, um assunto foi recorrente e deixo como pergunta para quem chegou até o fim: onde estão os outros agilistas brasileiros que não no Ágiles?

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