A Importância das Pessoas nos Métodos Ágeis
Este post foi criado com base nas minhas experiências e do 10º relatório anual sobre agilidade criado pela Version One. A Version One é uma das principais empresas de implantação de ágil do mundo, segundo o Gartner. Fonte: https://www.gartner.com/reviews/market/application-development-life-cycle-management/vendor/versionone
Apesar de parecer ainda um assunto novo para muitas pessoas e empresas, no mês de fevereiro deste ano, o Manifesto Ágil completou o seu décimo quinto aniversário. Agilidade para os íntimos, essa nova forma de construir software, que muitas vezes soou como atrevida e anárquica, mostra que veio realmente para ficar.
Como pode ser comprovado ao analisar o gráfico exibido abaixo, os Métodos Ágeis estão a cada dia mais presentes no cotidiano das empresas. Dos 3.800 participantes da pesquisa, apenas 5% responderam que não possuem times praticando agilidade. Infelizmente, não é possível mensurar esse percentual para o Brasil, pois não há uma pesquisa atual sobre o tema. Mas, de acordo com a minha vivência, esse número é maior.
Quando perguntados sobre o que os motivou a adotar métodos ágeis, a maioria dos participantes responderam que os três principais motivos para adoção da Agilidade foi a aceleração na entrega dos produtos, o aumento na capacidade de gerenciar mudanças e aumento da produtividade.
Nos últimos dois anos, tenho tido a oportunidade de trabalhar diretamente com Agilidade e venho percebendo que, de fato, há um aumento do interesse das empresas públicas e privadas em adotar Ágil pelos mesmos motivos apresentados na pesquisa. Ao mesmo tempo em que comemoro esta nova realidade, fico preocupado com os motivos que impedem as empresas de adotar o Ágil de maneira satisfatória. Segundo a mesma pesquisa, o principal motivo para falha na adoção dos métodos ágeis é a Cultura.
Segundo o site http://www.significados.com.br/, "Cultura significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro."
Isso significa que o principal responsável pela falha na adoção de métodos ágeis nas empresas são as próprias pessoas?
Infelizmente a reposta para esta pergunta é sim!
Mas isso acontece por que as pessoas são terríveis sabotadoras e querem que os seus chefes e empresas se deem mal?
Para responder esta pergunta, precisamos analisar alguns fatos.
Olhando o Manifesto Ágil com atenção, podemos perceber que 50% dele fala da importância das pessoas.
Indivíduos e interação entre eles mais que processos e ferramentas
Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos
Infelizmente, apenas 29% dos entrevistados responderam que uma das razões para adotar métodos ágeis era o aumento da moral do time. Ou seja, simplesmente 50% dos ensinamentos que o manifesto nos trouxe é jogado no lixo por 71% das empresas que resolvem adotar agilidade.
Ainda no site do manifesto, temos acesso aos princípios ágeis. Um deles reforça ainda mais a importância das pessoas na Agilidade.
Construir projetos ao redor de indivíduos motivados. Dando a eles o ambiente e suporte necessário, e confiar que farão seu trabalho.
Em julho de 2015, o Gartner publicou um post com 10 recomendações sobre o Desenvolvimento Ágil que todo líder de TI deveria saber. Dentre as recomendações, temos:
5- Aprenda com tudo: Os profissionais devem estar comprometidos a melhorarem continuamente a qualidade e o custo-benefício dos projetos. Isso significa que cada desenvolvimento é vasculhado à procura de lições para o aprimoramento de políticas e práticas corporativas.
Esse aprendizado não é de responsabilidade única dos profissionais no nível de gestão, mas componentes fundamentais da carga de trabalho de toda a equipe.
6. Trabalhe bem em equipe
A unidade organizacional básica de entrega em desenvolvimento ágil é uma equipe pequena, entre cinco e nove pessoas, tanto desenvolvedores quanto certificadores de segurança. Sob uma perspectiva de recursos humanos, gerenciar equipes ágeis envolve se dividir entre manter os times produtivos unidos e mudar indivíduos de grupo para encorajar novas ideias.Quando alteradas com muita frequência, as equipes falham em desenvolver unidades produtivas. Quando permanecem intactas, cada grupo passa a se isolar e a divergir dos outros. É importante ressaltar que a localização física das equipes é mais importante na metodologia ágil do que nas outras abordagens de desenvolvimento.
Mas o porque esquecemos das pessoas?
É muito comum que a maioria dos profissionais da área de tecnologia tenham mais aptidão intelectual para áreas das ciências exatas do que para as áreas das ciências humanas. Logo, naturalmente, temos mais facilidade em utilizar métodos e padrões científicos do que saber lidar com o outro, principalmente quando o outro possui muitas das nossas próprias características e quando não há investimento na formação humana por parte das empresas.
O Scrum é o Framework ágil mais utilizado no mundo, e na minha opinião, esse grande volume acontece justamente porque o Scrum possui definições claras dos papéis, eventos, artefatos e regras prescritas no seu manual, e esses detalhamentos, favorecem a escolha dos iniciantes. Em contrapartida, é muito comum ver empresas sofrerem problemas com esta escolha, principalmente quando as adequações aos papeis começa a ser realizada, pois em muitos casos, impacta diretamente no ego e no poder das pessoas, fazendo com que apareçam comportamentos negativos no time como por exemplo, falta de colaboração entre pessoas para que o outro não fique em evidência, medo de perder o controle do time por parte dos gerentes, etc.
No livro Scrum — A arte de fazer o dobro de trabalho na metade do tempo, escrito por Jeff Sutherland, fica claro a necessidade de se trabalhar a motivação e felicidade das pessoas. Em um dos trechos do livro ele relata que "Felicidade é crucial para o seu negócio e, na verdade, é um indicador da receita melhor do que a maioria das medidas que o seu CFO fornece.".
Para exemplificar como o foco nas pessoas aumenta as chances de implantar ágil eu vou contar uma pequena história que vivi.
Atuei alguns meses como desenvolvedor de um projeto de software durante a minha transição de Salvador para Porto Alegre. Tratava-se da manutenção de um sistema legado de uma grande empresa e, como todo legado, não possuía tecnologias modernas que sempre deixam os desenvolvedores motivados. Ao chegar no projeto, encontrei uma equipe talentosa, mas que estava com a autoestima completamente baixa por ser sempre responsabilizada pela falta de satisfação do Cliente, mesmo quando a decisão das ações foram tomadas pela equipe de gestão, o que acabava refletindo na qualidade das entregas realizadas pelo time.
Mesmo sem ocupar um cargo de Consultor ou Coach Agile, resolvi apresentar ao time o Manifesto Ágil e iniciamos um trabalho de motivação para resgatar a qualidade das entregas realizadas. Por não ter negociado com a diretoria da empresa a implantação de uma metodologia, resolvemos apenas seguir os ensinamentos do Manifesto Ágil e os seus princípios.
Após algumas semanas, ficou evidente que essa nova abordagem gerou um resultado super positivo. Saímos de um projeto que tinha um backlog de quase 80 bugs, para um projeto com menos de 10 bugs, resultando na recuperação da satisfação do cliente e da autoestima do time.
Desta forma, fica claro que não podemos perder o foco na motivação e melhoria contínua das pessoas. Não podemos cair no mesmo erro que as empresas que utilizavam e ou ainda utilizam Waterfall ao construir processos focados apenas em controlar o resultado do trabalho das pessoas sem acompanhar o impacto que as atividades geram na vida dos integrantes do time. Indicadores como eficácia, e velocidade precisam ser acompanhados de medidas que analisam a felicidade dos colaboradores em desempenhar as suas atividades.
Lembre-se sempre, pessoas felizes são sempre mais produtivas!
