Cinquenta tons de PoCs, Protótipos e MVPs

Eduardo Meira Peres
GUMA-RS
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4 min readJul 6, 2019

Muitas pessoas sorriem quando menciono que meu critério de sucesso para um projeto é fazer o cliente chorar. Fico imaginando que isto ocorre porque a primeira imagem que deva vir em suas lembranças seja de um cliente chorando por não ter suas expectativas atendidas. E como disse Ash Maurya, autor de Running Lean e criador do Lean Canvas, “A vida é curta demais para construirmos algo que ninguém quer”.

Mas porque será que presenciamos tão poucas vezes este nirvana de satisfação e felicidade? Certamente, a jornada de fazer a coisa certa do jeito certo, é árdua e repleta de riscos e percalços, e cada vez mais aparecem novas siglas que prometem ser a solução definitiva para todos os problemas. Quando falamos de inovação, escolher entre PoCs (provas de conceito), MVPs (produtos mínimos viáveis) e protótipos pode tornar-se um verdadeiro dilema, onde ao final são os times que ficarão a chorar.

Fazendo uma comparação singela, se tivermos pregos e parafusos não adianta termos só martelos, também vamos precisar de chaves de fenda, e no tamanho certo de encaixe!

Para ajudar a colocar os is em seus pingos, compartilho a seguir minha compreensão sobre o significado e utilidade destes conceitos, que encontram sustentação em diferentes estratégias.

Provas de Conceito (PoCs)

São uma forma de demonstração prática de que um conceito ou ideia são viáveis. Através de PoCs podemos chegar à conclusão de que uma ideia de software pode ser construída no mundo real e quais tecnologias devem ser usadas neste desenvolvimento.

PoCs são indicadas para questões pontuais, quando temos dúvida sobre a viabilidade da implementação de um conceito ou ideia. Não é algo para colocarmos na mão do cliente para uso continuado, por isso não estamos preocupados com questões de acabamento, nosso foco está no conceito central que precisa ser validado. A ideia de uma PoC é comprovar este conceito, podendo indicar a continuidade, adaptação ou cancelamento de uma ideia de produto antes mesmo de iniciarmos seu desenvolvimento. Por isso recomenda-se a execução de PoCs antes da decisão de investimentos em produtos inovadores. É bem possível que o resultado de uma PoC não seja reusável, e muito menos escalável. Por outro lado, o investimento em uma PoC pode representar o menor custo para empreendedor decidir pela continuidade ou não de uma ideia, situações em que podemos ter que nos desapegar da paixão por uma solução e manter a paixão pelo problema.

O que é uma PoC? “Evidência que mostra que uma proposta de negócio, uma ideia de design, etc. funcionará, geralmente com base em um experimento ou projeto piloto” — oxfordlearnersdictionaries.com

Quando utilizar uma PoC? Quando for necessário comprovar se é possível implementar uma determinada solução antes de seguir em frente. Usualmente fazemos PoCs durante o estudo de viabilidade de um produto ou então em atividades de Pesquisa ou Desenvolvimento (P&D) mas podem ocorrer a qualquer momento em um projeto.

Protótipos

São modelos de um produto que poderá vir a ser construído, em diferentes níveis de fidelidade e com os quais o usuário pode interagir. Desta forma pode-se observar e aprender com a experiência de seu uso, fornecendo subsídios para adaptações e melhorias. Um protótipo de baixa fidelidade é construído rapidamente, normalmente com materiais de baixo custo, para validar alguns aspectos do produto, sem a necessidade de manter uma semelhança estética com o produto modelado. Já um protótipo de alta fidelidade é construído de para emular o produto modelado em seu comportamento e design.

O que é um protótipo? “Primeiro exemplo de algo, como uma máquina ou outro produto industrial, a partir do qual todas as formas posteriores são desenvolvidas” — https://dictionary.cambridge.org

Quando utilizar um protótipo? O mais cedo possível, quando for interessante obter feedback do usuário.

Produto Mínimo Viável (MPV)

Diferente do que pode parecer, um MVP não é um produto final, trata-se de um experimento para testar hipóteses e gerar aprendizado validado pelo usuário, com o menor esforço possível.

Para que possamos maximizar este aprendizado, precisamos manter o foco nas hipóteses que estamos querendo validar, deixando de lado questões que seriam relevantes para a construção de um produto a ser colocado em produção ou implementado em escala.

Durante a construção de um MVP não podemos nos distrair com aquilo que não esteja diretamente associado à hipótese que queremos testar. Através de ciclos de construir-medir-aprender, junto com os momentos de pivoteamento que fazem parte da abordagem Lean Startup, conseguimos adaptar continuamente o MVP até que o mesmo esteja em uma maturidade na qual possa entrar em uma esteira de desenvolvimento incremental em escala de produto.

O que é um MVP? “O produto mínimo viável é a versão de um novo produto que permite que um time obtenha o máximo de aprendizado validado sobre os clientes, com o mínimo de esforço” — Eric Ries

Quando utilizar um MVP? Quando precisarmos validar as hipóteses de um produto e utilizar o aprendizado obtido com o cliente para a evolução ou mudança de rumos, antes de iniciarmos seu desenvolvimento em escala.

“MVP é um processo em que você repete várias vezes: identifique sua premissa de maior risco, encontre o menor experimento possível para testá-la e use os resultados do experimento para corrigir a direção. “- Y Combinator

Enfim, uma POC nos demonstra se uma ideia é factível, um Protótipo nos mostra como seria um produto e através de um MVP aprendemos rapidamente e de forma evolutiva qual produto atenderá as reais necessidades dos clientes.

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Eduardo Meira Peres
GUMA-RS

Soluções de impacto não nascem nas respostas certas. Antes é preciso fazer as perguntas certas, e antes ainda é preciso apenas observar.