Quando eu olho para minha dor…

Sobre como dissolver suas sombras

Gustavo Tanaka
Gustavo Tanaka

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Eu nunca gostei de sentir dor.

Muito menos de sofrer.

E o que é que eu faço com as coisas que eu não gosto? Eu evito. Talvez hoje menos que antes. Mas foi assim que eu vivi a minha vida toda.

Sempre fugindo daquilo que me trazia dor. Sempre evitando olhar para aquilo que me incomodava.

Ao menor sinal de desconforto, eu pulava fora.

Eram várias artimanhas. Pensar em outra coisa, mudar de assunto, puxar conversa de elevador com alguém, assistir a um video, ouvir uma musica que me trouxesse outros pensamentos.

E assim eu aprendi a viver.

Sempre fugindo dos meus problemas. Sempre deixando eles de lado. Sempre tentando apenas pensar positivo e ver o incrível lado bom das coisas.

Mas qual o problema de não olhara para sua dor? É que ela sempre continua lá.

Tudo aquilo que me incomoda internamente sempre continua lá. Me chamando. Levantando a mão para ser visto. Falando baixinho para ser escutado. Todos os dias. Um pouquinho por dia.

Às vezes acontecem tantas coisas no dia que parece que eles foram embora. Eu me ocupo com milhares de atividades e acho que aquela dor foi embora.

Mas ela continua lá. Esperando para ser vista.

E então uma hora eu me canso disso e decido olhar.

E quando eu começo a olhar para minha dor, parece que ela vem mais forte. Dói. No peito. Um nó na garganta. Uma massa densa que vai do umbigo até a boca quase. E quanto mais eu olho, mais ela cresce.

Mas eu sigo olhando. Converso com essa dor. Tento entender o que ela significa. O que está por trás. Eu converso de verdade. Pergunto e ela me responde. Como palpites. E começam a vir insights. E lembranças. Coisas que eu nem tinha prestado atenção começam a aparecer. Padrões que se repetem.

E dá vontade de fugir. De mudar de assunto. De falar de outra coisa.

Mas eu sigo olhando. Eu pergunto e ela me responde.

E o meu ego começa a aparecer. Com medo. Medo de ser enfraquecido. Medo de não poder mais continuar sendo aquele personagem que achava que era. E aí eu me vulnerabilizo.

E quando chego nesse estado, eu consigo aceitar. Aceitar que eu não sou forte e que não sou um ser perfeito que não erra mais. Sou apenas esse ser frágil. Que sente dor. E que sabe que precisa dessa dor para crescer.

Antes eu fugia da dor.

Hoje eu olho para ela. E ela conversa comigo.

Eu ressiginifico. E magicamente me sinto bem logo depois.

É como uma massa densa que se dissipa. Como uma nuvem negra de chuva que começa a abrir e deixar o sol passar.

E por debaixo dessa dor vem um sentimento nobre. Bonito e mais elevado.

Eu não sei bem o que é. Uns chamam de amor, outros de graça, outros de Deus. Tanto faz. Eu não preciso saber o nome.

Só preciso saber que debaixo dessa dor que a gente sente, tem algo mais bonito querendo sair.

Não fuja do que te faz sofrer. Olhe para sua dor. Converse com ela. Luz e sombra não ocupam o mesmo espaço.

Quando você olha para a dor, você coloca luz e ao iluminar o que está obscuro em você, você entende melhor. E quando entende as coisas mudam. E a clareza traz uma libertação gigantesca. Você se conhece melhor. Você entende quem é.

E quanto mais entende quem é, mais livre você pode ser.

E ser feliz é isso. Ser livre. Livre para ser quem você é.

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