BIOGRAFIA

As Filhas de Baracho: o cirandeiro está vivo

Guto Moraes
Guto Moraes
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3 min readMar 30, 2018

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Publicado pela Agenda Cultural do Recife em Junho/2015.

Maria Dulce, 67 anos, natural de Carpina, e Severina, 55 anos, de Nazaré da Mata, carregam um sobrenome de importância histórica para a cultura popular pernambucana e brasileira. Filhas de Antônio Baracho da Silva, ou simplesmente Baracho, falecido em maio de 1988, elas assumiram a responsabilidade de manter e divulgar o trabalho de seu pai: a ciranda. Considerado, entre cirandeiros e estudiosos da cultura popular, o precursor desta manifestação em Pernambuco, Baracho foi um agitador popular e um dos maiores compositores de ciranda do estado.

Dulce e Severina cresceram nas rodas e cantigas de ciranda. Acompanhavam seu pai nas apresentações respondendo aos versos entoados por ele. As primeiras aparições aconteceram no centro do município de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife, quando ainda pertencia ao município de Paulista e se chamava Maricota.

“As ruas não eram nem calçadas, era tudo no chão batido”, lembra Dulce. Com o apoio de amigos, da irmã e de duas amigas, estas apresentações aconteciam sempre às sextas-feiras, sábados e domingos e atraia a população local. A partir daí, a ciranda de Baracho foi convidada para se apresentar em outras localidades da Região Metropolitana e em praias do litoral pernambucano.

Quando a ciranda se consolidou, as apresentações percorreram cidades da zona da Mata e Agreste, dentre elas Carpina e Garanhuns. Onde quer que fosse Baracho, suas filhas o acompanhavam — e assim fizeram até o fim de sua vida. “Quando não podia mais cantar, meu pai nos acompanhava e, sentado numa cadeira, nos dizia os versos para que repetíssemos”, conta Dulce.

Após a morte de seu pai, as atividades do grupo foram suspensas. Mas o cirandeiro permaneceu vivo no alcance que tiveram suas composições, como “Essa Ciranda quem me deu foi Lia”, “Ó Cirandeiro”, “Casa de Farinha”, que continuaram sendo reproduzidas chegando, inclusive, a ser consideradas de domínio público.

Em 1997, o produtor de Lia de Itamaracá, Beto Hees, reuniu diversos cirandeiros a fim de descobrir a autoria da composição que leva o nome da artista. Durante a pesquisa, o número de canções atribuídas a Baracho chamou a atenção do produtor que, depois de procurar familiares do mestre cirandeiro, encontrou Maria Dulce e Severina.

As irmãs passaram a integrar os shows de Lia de Itamaracá nos vocais. Em 1999, Hees propôs às duas que iniciassem um projeto interpretando todas as canções de Antônio Baracho. Nasce assim o projeto “Ciranda As Filhas de Baracho”. O grupo é composto por dez pessoas, entre integrantes de palco e produção. Um disco chegou a ser gravado, mas não houve lançamento oficial e poucas cópias foram geradas em virtude da ausência de recursos.

Atualmente a “Ciranda As Filhas de Baracho” se apresenta em eventos dos ciclos comemorativos organizados na Região Metropolitana do Recife e em eventos além do território pernambucano. Dulce e Severina acompanham, ainda, a cirandeira Lia de Itamaracá em apresentações por todo o Brasil, enriquecendo o trabalho da artista e mantendo a troca de histórias que faz rodar a ciranda.

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Guto Moraes
Guto Moraes

Repórter de Cotidiano da Folha de Pernambuco. CEO da Revista Dona Custódia. Colaborou com o Catraca Livre e Revista O Grito!.