A importância do aprendiz em um mundo com e pós COVID-19
Com o acesso à internet mais difundido, as formas de aprender e ensinar sofreram algumas alterações relevantes e a educação vem sendo muito questionada por milhares de pessoas no mundo todo. A ideia de uma educação que tem por origem o modelo da Revolução Industrial já não cabe e não supre mais as necessidades da vida contemporânea. Até aí temos um monte de gente pontuando questões importantes e algumas iniciativas surgindo, em sua maioria privadas, desenvolvendo novas formas de educar e aprender com o auxílio da internet. Entretanto, com a chegada do pandemia do COVID-19 a realidade da qual estávamos acostumadas caiu por terra. Até mesmo algumas iniciativas, antes visionárias, ficaram sem ação diante dessa situação nova que foi imposta.
Muito se fala de transformar toda educação em EAD, uma nova educação no estilo Homeschooling, mas a verdade é que nada disso faz sentido quando pensamos em Brasil. Nos últimos anos vemos um aumento expressivo no acesso à internet nas áreas rurais e urbanas do território brasileiro: 79,1% dos domicílios em 2018 já tinham acesso a algum tipo de internet. Apesar disso, um dos três motivos mais citados para as pessoas não usarem a internet está no fato de não saberem usá-la. E isso não é um problema, uma vez que essas pessoas que aparecem na porcentagem sabem que não sabem.
Para mim o problema ainda está mais embaixo, no geral, as pessoas não sabem usar a internet de modo eficaz. Isso nunca nos foi ensinado por ninguém em lugar nenhum. Muitas vezes vemos a internet entrando nas escolas, como que enfiadas goela abaixo, com um total despreparo de todos. Vemos avós, pais e mães pedindo ajuda para crianças para aprender a usar a internet. Mas não vejo ninguém levando esse conhecimento muito a sério. Só depois de anos na faculdade que uma professora se dispôs a nos ensinar a fazer buscas mais efetivas e isso é muito preocupante.
Aprender a usar uma ferramenta tão rica é um assunto que vem antes do EAD ou do Homeschooling. E digo mais, aprender a aprender vem antes de usar a internet para alguma coisa e isso é outro ponto que a escola não nos ensina. De modo geral, não estamos preparados para aderir essas iniciativas de nova educação que são, sim, de fato muito promissoras. Mas não devemos dar um passo maior que a perna ou passar a carroça na frente dos bois.
Dito isso, o mais importante desse novo momento histórico é entender que não basta ser estudante em EAD ou em qualquer outro modelo: temos que nos tornar aprendizes autônomos no processo de exploração do mundo. Em um mundo virado de ponta cabeça pelo COVID-19 o mais importante é que todos questionem seus papéis de estudantes e começam uma busca ativa pelo aprendiz dentro de cada um.
Daí que você deve estar se perguntando qual é a diferença do estudante e do aprendiz. Estudante é aquela pessoa que vai às aulas, que obedece o professor, que lê o que tem que ser lido para aula, que estuda para a prova, que faz o que tem que ser feito. O aprendiz não: ele pode até fazer isso, mas não há um valor intrínseco; o aprendiz não se contenta com o que foi dado em aula, quer saber mais, quer saber o que os outros pensam disso, quer saber de onde vem isso. O aprendiz não se enquadra em nos moldes do estudante, ou é de exatas, ou de humanas, ou de biológica, ou da saúde. O aprendiz quer buscar um conhecimento holístico sempre que possível, pois é inquieto e provocador. Quando vai navegar na internet quer saber qual é a melhor maneira e a mais rápida de chegar no que quer, antes de sair pesquisando de forma aleatória e lendo qualquer coisa e passando qualquer coisa pra frente. Ele cria critério para as buscas, é um questionador nato.
Tendo isso em mente acredito que a nova realidade imposta necessita que as pessoas tenham um espírito mais autônomo e mais curioso, ou seja, que as pessoas independentes de matriculadas em instituições se tornem aprendizes para conseguir desenvolver uma nova realidade que faça sentido para todos.
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