Aprender a Aprender: como o cérebro funciona

Fernanda Carvalho
Habilit Oficial
3 min readApr 24, 2020

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Quando falamos de aprender a aprender é preciso conhecer minimamente o funcionamento do cérebro para saber traçar estratégias de estudo. Quem nunca viu essa imagem da capa deste artigo? De um lado do desenho do cérebro temos uma área meio cinzenta, na qual imperam o raciocínio analítico e o conhecimento matemático. Do outro lado, temos uma explosão de cores, indicando a área responsável por processos criativos da mente. Essa representação bem simplificada de quais são as áreas do cérebro é uma ótima ilustração para introduzir o tema da primeira parte de “Aprendendo a Aprender”, de Barbara Oakley; leitura indicada a todos os aprendizes.

A representação do cérebro em duas partes serve aqui muito mais para elucidar a forma geral como ele trabalha e não para dizer que existem partes do cérebro que são “burras” ou “inteligentes”. É importante ressaltar que não faz sentido pensar dessa forma. Já ouvi muitas estudantes da área da saúde dizendo que essa é uma simplificação desnecessária e que até atrapalha a compreensão geral que temos sobre o cérebro. Dito isso, vamos ao que nos interessa.

Basicamente o cérebro funciona em dois modos: focado e difuso, ambos essenciais para a aprendizagem de qualquer coisa. Enquanto o modo focado está associado ao córtex pré-frontal, área da anatomia cerebral que concentra os processos de raciocínio analítico, o modo difuso, como o próprio nome sugere, não está associado a uma parte específica do cérebro e nos fornece uma visão panorâmica sobre as coisas quando estamos com a mente relaxada. Esses modos se alternam em nossa mente ao longo do dia sem que nós necessariamente pensemos: “vou ativar o modo difuso agora”. Muitas vezes, além disso, o modo difuso atua em segundo plano durante o tempo que estamos focadas em algo sem que nós tenhamos percepção disso. Contudo, o que veremos é que é possível e necessário manipular esses modos durante o estudo.

Como citei inicialmente, falar que existe uma parte mais ou menos inteligente no cérebro é uma simplificação desnecessária e que impede o bom desempenho nos estudos. Precisamos do modo focado para que tenhamos concentração na hora de estudar, para que sejamos capazes de resolver problemas matemáticos e algorítmicos de maneira correta. Esse processo ocorre baseado no encadeamento lógico de diversos conhecimentos que já adquirimos.

Saber que o modo focado trabalha dessa forma é tão fundamental quanto podemos imaginar para a aprendizagem! Você percebeu que a construção dos algoritmos mentais de solução de um problema são baseados em premissas conhecidas? Um grande erro que nós cometemos é querer resolver problemas novos iniciando direto no modo focado. Mas não é possível fazer isso, pois as premissas de um novo problema são premissas novas e nosso córtex pré-frontal lida com conhecimentos adquiridos e consolidados. E aqui entra o pulo do gato!

O modo difuso é simplesmente essencial para o aprendizado. Isso porque é ele quem nos fornece uma visão global dos problemas, criando relações que não sabemos exatamente de onde vêm e com um alto grau de abstração e criatividade. Essa característica do modo difuso nos auxilia na solução de problemas com os quais ainda não tivemos contato, pois nos coloca no papel de uma exploradora que vai investigar os mais diversos caminhos. É como quando jogamos um RPG e temos um mapa com diversas áreas bloqueadas: o que fazemos é investigar várias rotas e resolver pequenas missões no caminho para ir desbloqueando o mapa aos poucos. Depois que as rotas se tornam conhecidas, transitar por elas se torna muito mais fácil. E você percebe que esse é um processo ativo? Não pense que vai simplesmente sentar e esperar o modo difuso fazer todo o trabalho. Ao contrário, você terá um papel ativo no processo de busca pelas respostas. Porém, esse processo vai ser mais livre e criativo.

Criatividade é muito importante para o aprendizado e para a vida de forma geral. Se você não trabalhar seu modo difuso, é muito provável que fique empacada em desafios que seriam resolvidos com facilidade. Por isso, faça coisas que ativem e fortaleçam seu modo difuso: durma bem, pratique uma atividade física, ouça uma música, tome um bom banho, tire um tema para você, tire um tema para não fazer nada, leia, escreva… relaxe.

Referência:

OAKLEY, Bárbara. Aprendendo a Aprender. São Paulo: Atena, 2015. Tradução de Alexandre de Azevedo Palmeira Filho.

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Fernanda Carvalho
Habilit Oficial

Analista de Business Intelligence e professora de Banco de Dados em curso técnico. Sempre buscando uma forma mais fácil de compartilhar conhecimento.