Saia da sua zona de conforto — será?

Renato Stefani
hack life
Published in
5 min readFeb 7, 2014

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Você já ouviu isso antes: saia da sua zona de conforto. Parece ser o mantra que recorre em todos os canais de mídia e entrevistados, toda vez que o termo “Empreendedorismo” é citado. Escape do esquema de trabalhar das 9 às 5, seja seu próprio chefe, faça acontecer, não tenha medo, faça coisas diferentes……. blá, blá, blá.

Admito, fui ludibriado por algum tempo, gritando o hino do empreendedorismo e insistindo para que outros seguissem o mesmo caminho. Depois de refletir por mais um tempo sobre o que realmente era a zona de conforto, eu percebi que tinha entendido o conceito errado desde o princípio.

O que segue é um relato sobre como isso conseguiu me afetar e como fiz para recomeçar. Meu objetivo aqui é simplesmente jogar uma ideia para gerar uma discussão relevante e compartilhar experiências parecidas.

Eu participava ativamente do ecossistema de startups brasileiro. Ia em eventos, conhecia cada vez mais pessoas com o mesmo mindset que eu. Pessoas que queriam algo novo, que estavam cansadas da estrutura hierárquica das empresas, cansadas de ter que driblar o esquema estrutural para fazer as coisas acontecerem, cansadas de ter ambições enormes e ter que se contentar com empregos onde o desafio é pequeno ou inexistente. Pessoas que me entendiam, que me inspiravam, que falavam a minha língua. Loucos, assim como eu, com paixão nos olhos, que não se importavam em passar finais de semana a fio prontos para fazer seu negócio acontecer, colocar sua ideia no mercado e impactar tantas outras pessoas.

O “sair da zona de conforto” estava cada vez mais presente, até que finalmente juntei um dinheiro suficiente, me coloquei na posição de não ter nada a perder e pedi demissão para focar 100% na minha startup.

Sair da zona de conforto estava cada vez mais claro: mate um leão por dia, procure fazer tudo o que você sempre teve medo de fazer, largue a segurança do emprego estável.

De alguma maneira, o inverso ocorreu: fazer coisas diferentes todos os dias, sair da rotina, conhecer pessoas novas, encontrar novas maneiras de alavancar meu negócio e sempre vir com novas ideias era a minha nova zona de conforto.

Pequenas tarefas enfadonhas do dia a dia começaram a não fazer mais sentido para mim.

Sou bem extrovertido (isso significa que ficar ao redor de pessoas me energiza), e sempre que eu estava fazendo as coisas comuns do dia a dia, aquilo começou a me sugar uma energia absurda.

E, claro, como sempre, toda vez que eu me via nessa situação desconfortável, eu apenas pegava meu telefone e ficava na espiral negra: emails, facebook, whatsapp, vocês sabem…. a fuga de sempre.

Foi então, que algo me atingiu bem forte. Eu estar “fora da minha zona de conforto” começou a ser exatamente o contrário do que deveria ser. Em 2014, decidi que seria interessante dar um passo atrás, e experimentar novas coisas.

Por motivos pessoais, decidi que esse ano trabalharia em alguma empresa com valores alinhados aos meus, antes de empreender novamente.

O interessante foi como a tarefa de procurar esse emprego se desenrolou.

A busca começou bem antes do ano começar, foi um período de muita insegurança, dúvida, ansiedade e angústia.

Alguns dos meus hábitos contribuíram pra isso, nos últimos 4 meses, eu:

— Todo dia eu apertava a “soneca” por cerca de 2 horas, até meu quarto ficar insuportavelmente claro ou eu cansar de ficar na cama.

— Eu chorei assistindo O Rei Leão (quem nunca?)

— Deixei minha barba crescer por 2 meses

— Ficava procrastinando o dia inteiro no “Mundo negro da diversão” (vídeo atras de vídeo no Youtube, artigo atras de artigo, Facebook, TED Talks e por aí vai…).

O que aconteceu nesses quatro meses? Desertos da vida são comuns, e atingem pessoas de todas as idades quando grandes mudanças ocorrem na nossa vida.

O interessante desse período, é que ao mesmo tempo em que tanta angústia ocorria, uma análise maior ocorreu: eu estava pronto para sair da minha zona de conforto mais uma vez, e isso que estava me deixando desesperado.

Eu não queria voltar a trabalhar das 9 as 5.

Eu não queria deixar de almoçar e tomar café com meus outros amigos empreendedores (que tem essa liberdade).

Eu não queria tolerar a ideia de acordar cedo e ter de pensar antes do meio dia (eu trabalho muito melhor de madrugada).

Eu não queria lidar com os “baba ovo” do mundo corporativo.

Eu não queria as conversas baratas de pessoas que só sabiam falar de novela e futebol, enquanto trabalham em um emprego que não as completa.

Eu não queria usar roupa social.

Eu não queria voltar a ser “gente grande” de novo.

Eu não queria ter responsabilidades, que não fossem as que eu mesmo estipulasse.

Eu não queria ter um chefe de novo.

De repente, o sair da zona de conforto pareceu ainda mais abominável do que o mesmo de um tempo atrás.

Foi aí que o cérebro deu um “click”, e as 2 próximas semanas foram incríveis:

— Troquei 12 horas de sono por 4 horas e dois cochilos de 20 minutos durante o dia, no melhor esquema de sono polifásico. (procure por “everyman polyphasic” no Google, se você não conhece)

Sai de casa todos os dias, nem que fosse para ir em um café usar o wi-fi.

— Levantei todos os dias e tomei uma chuveirada gelada para acordar de verdade. (é incrível como funciona!)

Parei de beber bebidas alcóolicas e qualquer tipo de comida porcaria. — Diminui de 3 cafés/ dia a 1 café por semana.

— Acordei mais cedo para meditar 20 minutos, diariamente, e mais 20 antes de dormir.

— Consegui me reinventar e me reposicionar no mercado.

— Voltei a criar disciplina para escrever meu livro todos os dias. Isso tudo foi combinado com diversas propostas de emprego, longe da chatice do mundo corporativo, mas que tinham a ver com meu perfil e com as ambições e habilidades que estava disposto a enfrentar nesse ano.

Diversas ideias de novos negócios começaram a surgir, inclusive comecei a executar algumas (pode ser que eu comece a empreender antes do que esperava).

Tudo isso, para falar que: ou você faz o que tem que ser feito, ou você acaba gerando hábitos que começam a te afundar cada vez mais em uma espiral negativa, com um medo do mundo e de viver.

Tudo isso para falar que a montanha russa do empreendedorimo é cruel, e que você deve ser sua prioridade número um, em saúde mental e física, para que você possa sempre atender à todas as demandas que exigem o seu máximo.

Como você espera empreender, se as vezes você mesmo está incompleto? Com uma gestão péssima? Comece empreendendo em você mesmo.

E você? Já passou por uma situação parecida? Comenta ai!

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