Experiência

Hackvision: Que Raios É Esse Estágio Multicompany em Health Tech?

O que esperar de um estágio no Hackvision e o meu principal aprendizado no processo

Luísa Kinas
Hackvision 2020

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Lucas, nosso balão e a parede de tinta lousa da nossa sala (pra rabiscar várias ideias)

Esses primeiros dois meses de estágio passaram bem rápido, com várias informações, conhecendo muitas pessoas, projetos interessantes e novas metodologias de trabalho.

Ao refletir sobre o que aconteceu e o que aprendi até agora, penso que seria muito bacana compartilhar a experiência por aqui. Meu intuito é informar estudantes interessados sobre o estágio multicompany do Hackvision e compartilhar meu principal aprendizado no processo.

Sou estudante de sistemas de informação e continuo aprendendo, essas são apenas minhas opiniões pessoais baseadas nos meus dois meses por aqui. Questões e feedback são bem-vindos (: meu email tá na bio.

O programa Hackvision

O Hackvision é uma maratona de inovação (hackathon) anual em saúde ocular promovida pelo HOSAG — Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, pelo grupo Opty — Hospitais Oftalmológicos e pela Magrathea Labs. Soluções em health tech foram desenvolvidas para promoção da saúde ocular e prevenção à cegueira, em um período de 48 horas em setembro de 2019, no Ágora Tech Park. As equipes vencedoras ficaram com a tarefa de implementar os projetos vencedores em um estágio de 6 meses. Vou contar um pouco do que está rolando nessa implementação.

Brainstorming com a Rafaela e a Raquel da Magrathea, horas antes de apresentar nosso projeto no hackathon

Somos um grupo de 7 estagiários, nos dividimos em dois projetos diferentes: o projeto Scope (formulário de pré-consulta e BI com métricas do paciente, do qual eu faço parte) e o projeto Argos (dispositivo de pré-exames visuais disponível em farmácias).

O Projeto Scope

O objetivo do Projeto Scope é modernizar a forma como os médicos recebem as informações pré-consulta dos pacientes. A solução em desenvolvimento é uma aplicação web disponível em tablet. Ela permite o preenchimento de um formulário digitalizado, acessível, com processamento e transmissão automática das informações do paciente para o prontuário médico.

Além disso, estamos estudando a possibilidade de desenvolver uma plataforma de business intelligence (BI) vinculada aos dados desse formulário, para que o hospital e seus parceiros possam acompanhar estatísticas relevantes do paciente, como seu comportamento e dados clínicos.

Essa solução otimiza horas de trabalho do médico, dispensando-o do retrabalho de digitar informações no prontuário. Além disso, é uma forma muito mais eficiente de coleta e armazenamento de dados do que os formulários em papel utilizados até o momento.

O Projeto Argos

O Argos é um dispositivo desenvolvido para facilitar o acesso aos primeiros exames de saúde ocular. Com a proposta de estar disponível em farmácias, o sistema coleta informações relevantes da saúde do usuário e executa exames visuais rápidos. Posteriormente, é feito contato com o usuário, para disponibilizar o resultado dos seus pré-exames.

A importância desse projeto está na identificação precoce de problemas visuais e na atenção primária à saúde, com fornecimento de informações necessárias ao usuário sobre sua visão.

Estágio multicompany — regime de trabalho

O objetivo do nosso estágio se desdobra em três:

  • Desenvolver soluções digitais de impacto para a promoção da saúde visual e prevenção à cegueira;
  • Capacitar o profissional do futuro em um programa de estágio totalmente novo — multicompany, multidisciplinar e em torno de desafios concretos;
  • Promover a integração entre os diferentes stakeholders para inovação em saúde ocular: sociedade, comunidade acadêmica, empresas dos setores de saúde, profissionais de negócios, design e computação.

Nossa carga horária é de 30 horas semanais, temos uma sala exclusiva no andar administrativo do Sadalla. O estágio é chamado de multicompany porque recebemos mentoria de outras empresas também. Somos livres para visitá-los, trabalhar no local, marcar reuniões e receber orientações sobre o nosso projeto. As empresas participantes são a Magrathea Labs (mentoria de tecnologia), o Dartisans Group (mentoria de design) e a agência BriviaDez (mentoria de negócios e design).

Prazer, essa é a nossa sala! Recebendo noções em oftalmologia, com a Dra. Silvia Chuffi do Hospital Sadalla

Empresas Mentoras

A Magrathea Labs é uma empresa de engenharia de software, que entrega soluções para outras empresas em desenvolvimento de produto digital, engenharia de big data e ciência de dados. A Resultados Digitais, a Agriness e a Softplan são alguns dos clientes deles. Confira mais sobre a Mlabs aqui. Eles também tem um Medium para compartilhar o que andam fazendo, que nos inspirou a fazer o nosso.

Foto com o Diogo (bem na esquerda) e o Rogers (no fundo, de óculos), founders da Magrathea. Isso foi depois de uma conversa com o Diogo sobre algumas stacks que eles usam (Ruby on Rails, Heroku, GitHub)

A BriviaDez é uma agência de publicidade que atua em diferentes segmentos: estratégia digital e de marca, UX design, desenvolvimento de plataformas digitais e gerenciamento de mídia. Alguns dos clientes deles são a 3M, Docol e a Embraco. Confira mais aqui.

No espaço descolado da Carbon Coworking, depois de uma reunião sobre Scrum com o João da BriviaDez

O Dartinsans Group é um hub de empresas multidisciplinares com foco em transformação digital de negócios. As três empresas que formam esse grupo são a Pixelhead (criação de produtos digitais), a Ether (marketing digital) e a Nukearts (estúdio de ilustração e animação 3D). Entre os clientes estão a LG e a BRF. Saiba mais sobre eles aqui.

Temos uma reunião semanal com os mentores de cada empresa, que acompanham o andamento dos nossos projetos. Trocamos sugestões, referências, eles compartilham a experiência que possuem em design, negócios e tecnologia. Eventualmente, pode até rolar uma sugestão de pivotar o projeto ¯\_(ツ)_/¯.

Esse espaço livre de aprendizado foi arquitetado pela Manu, nossa supervisora, coordenadora do Centro de Estudos, Pesquisa e Inovação (CEPI) do Hospital Sadalla e pelo Dr. Renan, oftalmologista e head de inovação do HOSAG e grupo Opty, ambos idealizadores do Hackvision. Eles exercem uma liderança horizontal que nos deixa mais à vontade para compartilhar nossos erros e acertos. A parte de mentoria em oftalmologia e health tech também fica por conta deles. Queria realmente agradecer esses dois, em especial. Já tive experiências anteriores de trabalho e posso dizer que uma liderança saudável faz muita diferença no nosso desempenho e vontade de trabalhar.

Happy hour do Hackvision com 3 dos nossos mentores: Dr. Renan bem na esquerda, André (UX designer da BriviaDez) de jaqueta jeans e Manu do CEPI bem no meio

D0NT P4N1C: a mágica de se acostumar com o desconforto

Aprender não é confortável, resolver problemas também não. Enfrentar desafios sem se desesperar tem sido uma prática constante nesse estágio, porque tudo é novo, livre para ser definido e isso pode ficar caótico e cansativo.

Uma maneira de se adequar ao processo é já esperar o caos, ele estará presente em qualquer oportunidade de crescimento. Ele estará presente se o que você está procurando é liberdade de criar soluções em um ambiente inovador. Para lidar com o caos, é sempre bom manter os olhos no panorama geral das coisas, entender as diferentes perspectivas (de mentores, stakeholders, pacientes, colegas de estágio). As perguntas abaixo precisam ser respondidas toda semana:

  • O que essas pessoas querem?
  • Em que etapa do projeto estamos?
  • Qual é o nosso objetivo principal agora?

É ao responder perguntas assim que você ganha uma coisa muito preciosa chamada contexto. O contexto vai ajudar e muito na hora de não se desesperar, eu percebo que até já fico mais calma quando meu contexto tá bem entendido.

Depois disso, a gente quebra o objetivo principal em pedaços menores. Esses pedaços menores serão as tarefas desenvolvidas, os nossos entregáveis, nossas pequeninas porções de desconforto que não vão nos desesperar porque sabemos mais ou menos como executá-las.

Completar esse processo repetidas vezes vai nos deixando familiares com o processo de lidar com coisas desconhecidas, vai aumentando nossa confiança e organização mental. Até o momento em que estamos preparados pra dormir numa cama de cactos:

A ideia basicamente é virar esse gato

Encerro o texto com a ideia dessa imagem. Tenho 27 anos, sou formada em Engenharia Civil e decidi mudar pra desenvolvimento de software. Tem sido tudo menos fácil: aprender a programar, segunda graduação, entrar num estágio pra desenvolver um projeto indefinido, tentar ser uma Scrum Master sem experiência e por aí vai.

Algo que consegui notar em todas as pessoas que conheci pelo Hackvision é o enfrentamento do desconforto, todo mundo tá fazendo o melhor que pode, com esforço, tornando-se aberto para ajudar. Estar em um ambiente assim nos move, as pessoas que escolhem fazer isso possuem autonomia. Isso motiva ações que solucionam problemas, que olham pra vários lados. Pessoas autônomas não esperam acontecer, não procuram desculpas: fazem com as próprias mãos, com os recursos disponíveis, dentro de um contexto plausível. É essa atitude que vejo nos mentores desse projeto e, na minha opinião, um dos maiores aprendizados dessa oportunidade.

Espero que isso tenha sido inspirador o suficiente e até o post da semana que vem!

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Luísa Kinas
Hackvision 2020

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