Sobre o pensamento computacional e como o preconceito é um programa defasado

Camila Picheth
HelloNerds.js
Published in
3 min readMay 25, 2022

Acredito que estamos em um momento semelhante à Revolução Industrial, no sentido de que há um foco no medo das pessoas em perder seus empregos para as "máquinas". Esse medo acessa aquela intensa narrativa - em que vários gatilhos psicológicos são acionados - de que as máquinas são monstros racionais sem emoções que irão dominar o mundo e exterminar os seres humanos. Há inúmeros níveis e perspectivas dessa história, e se você entrar rapidamente em uma livraria ou acessar seus streamings, vai encontrar muitas delas.

Esse tema sempre me chama muito a atenção, porque eu acho interessante como ocorre aqui a polarização e julgamento de lados de uma mesma coisa.

O que quero dizer é que vivemos em um mundo dual, binário, onde tudo tem dois lados. E é assim que compreendemos o mundo. Direita / Esquerda; Frio / Quente; Dia / Noite; 0 / 1. Esse é o sistema operacional em que vivemos. Mas, há séculos, falhamos em ver que esses opostos fazem parte da mesma coisa; e que se sincronizados de maneira equilibrada, temos harmonia (caso contrário, o caos).

Eu sempre fui de "humanas". Me formei em jornalismo, fiz pós-graduação em psicologia analítica e antropologia social, e trabalho atualmente com marketing digital. Todas essas áreas olham para o lado mais emocional, individual, único das pessoas e situações. Aqui, fugimos loucamente das generalizações. Sou bem treinada nisso.

Agora que estou estudando programação, entra o pensamento computacional, a lógica racional. Para você automatizar algo, escrever um programa, é necessário distinguir padrões e realizar abstrações. É preciso generalizar.

Achei engraçado quando me dei conta disso, mas essa experiencia está servindo como mais uma corroboração daquele conceito que citei acima. As polaridades se completam e são desenhadas para serem equilibradas.

Pegue o humano, seu cérebro, seu sistema operacional. Imagine o caos que seria viver sem a lógica racional. No mínimo, ficaríamos horas olhando para uma pedra tentando entender o que ela é, para que serve, se é perigosa, etc. Precisamos colocar as coisas em "caixinhas", precisamos etiquetá-las para entendê-las. O problema é se ficamos só nisso, se deixamos o programa defasado.

Os próprios pilares do pensamento computacional trazem que esse é um trabalho de processo contínuo, em um círculo virtuoso que envolve teste, análise e refinamento. Forever, ad infinitum. Aí conseguimos ver que o problema em âmbito pessoal, social, educacional — é que as pessoas tendem a não refinar e atualizar o programa.

Assim temos o preconceito, o racismo, a xenofobia, a intolerância. Assim tivemos um frenesi durante a Revolução Industrial e estamos tendo outro agora (na verdade, quando não estamos em múltiplos frenesis?). Em termos conceituais, a máquina jamais irá substituir o humano. Porém, sabemos que existe toda uma área dessa discussão que envolve, por exemplo, economia e sistema educacional.

Mas o ponto é, se alinharmos o pensamento racional com o emocional, poderemos chegar na harmonia. Imagina viver em um mundo automatizado em que as máquinas fazem os serviços mecânicos e o humano tem tempo e estrutura para ser criativo? Tempos Modernos seria uma peça de museu.

___________________________________________

Nas postagens do HelloNerds.js, estou documentando minha jornada no mundo da programação. Todos os posts estão aqui: medium.com/hello-nerds

--

--

Camila Picheth
HelloNerds.js

📝 A word after a word after a word: • copy, storytelling, redação, programação.