Aquele adeus…
Um conto inspirado pela música “Aquele Adeus” de Cícero Lins
(discando…
…chamada em andamento
…)
Alô! Ana?
Quanto tempo…
Como estão as coisas por aí? Ainda está aqui em São Paulo?
Por aqui está tudo na mesma. O som dos carros ainda estremece as janelas do apartamento — sempre acordo às 7 da manhã por conta disso, acredita? É estranho ouvir todo esse barulho desacompanhado dos seus resmungos, mas estou me acostumando.
Faz tanto tempo desde que você pegou suas coisas e foi para a casa do seu primo. Quanto tempo mesmo? 2 anos? É… que coisa louca de se pensar. Eu ainda sinto sua presença tão viva, sabe?
Acho que eu deveria me mudar. É claro que eu deveria me mudar, mas sei lá… é uma decisão meio drástica, você não acha? O aluguel no centro de São Paulo está cada vez mais absurdo e não sei se estou disposta a morar em outro canto. Aqui é tão prático.
Lembra da cachorrinha do Seu Zé? O Seu Zé do apartamento de cima… Então, ela ganhou uns filhotinhos no mês passado. Ele ficou muito perdido com os bichinhos, mas o pessoal do prédio se juntou e organizou um evento para adoção aqui na pracinha da rua. Foi muito massa! E ele pareceu muito grato pelo gesto de carinho.
Enfim, liguei só para saber de você. Eu deveria ter feito isso antes, eu sei. Às vezes, fico repassando as coisas que me disse antes de sair pela porta. Eu queria ter ligado. Me perdoa por isso.
(“sua chamada está sendo encaminhada para a caixa postal e estará sujeita a cobrança após o sin…”)
Será que é tarde demais? Eu sinto sua falta.
(…telefone desligando)